Autor: José Augusto Ribeiro
Eram franceses, não naturalizados,
mas nascidos na França, cinco, pelo menos, dos sete ou oito executores
dos atentados da Sexta-Feira 13 em Paris. E um apenas entrou na França
contrabandeado entre refugiados da guerra civil na Síria que
desembarcaram na Grécia e atravessaram vários países da Europa até
chegar a Paris. Apesar disso, o noticiário insiste em que o perigo maior
vem da Síria, das bases de comando do Estado Islâmico.
Como observou um jornalista que não
consegui identificar, numa transmissão da CNN, o Estado Islâmico nem
precisava mandar ninguém à França, porque a França já tem muitos jovens
franceses filiados ao Estado Islâmico e treinados por este. Eram uns
1.800, segundo uma primeira estimativa do Primeiro-Ministro Manuel
Vals, depois ampliada para 15 mil. A Bélgica, ali ao lado e de fronteira
aberta para qualquer portador de passaporte europeu, é um viveiro ainda
maior, embora já esteja mais despovoado: até o ano passado eram cerca
de 15 por mês os jovens que partiam dos aeroportos belgas para a Síria,
recrutados pelo Estado Islâmico. Neste ano diz-se que esse número caiu
de 15 para 5 por mês.
Em toda a Europa o Estado Islâmico já
teria 15 mil militantes europeus, avaliação anterior à de 15 mil só na
França, número impressionante comparado com os 30 mil combatentes
arregimentados por ele na vasta região que domina, em territórios da
Síria e do Iraque. O Estado Islâmico conta igualmente com muito
dinheiro, proveniente sobretudo dos 40 milhões de dólares que fatura por
mês, vendendo o petróleo extraído dos campos existentes nesses
territórios (mais ou menos do tamanho da Bélgica).
Os planejadores e executores da
Sexta-Feira 13 não precisariam de muito dinheiro, nem da tecnologia de
que o Estado Islâmico dispõe. O atentado de 2001 contra as torres gêmeas
do World Center em Nova York, promovido pela Al Quaeda, rival do E.I.,
foi muito mais complicado e muito mais caro.
Os atentados de Paris foram muito mais
simples, exigiram apenas sete executores, sete cinturões bomba – três
para os homens-bomba que se explodiram nas proximidades do Estado
Nacional, quatro para os atiradores do Bataclan, quatro
fuzis-metralhadoras Kalashnikov para esses atiradores e três ou quatro
mais para os atacantes do restaurante Le Petit Cambodge e outros
restaurantes mencionados no noticiário.
Como a França mantém controles rigorosos
sobre a venda de armas de fogo, deve ter sido necessário mandar vir de
fora as Kalashnikov. Talvez dos Estados Unidos, onde as bancadas da bala
(com o apoio até de alguns candidatos republicanos à Presidência)
impedem qualquer controle e onde o Estado Islâmico dispõe de pelo menos
40 jovens militantes dispostos a tudo. O Brasil também tem controles e
a toda hora vemos na TV garotos de favela patrulhando com esses fuzis
os acessos às bocas de fumo.
Em resposta aos atentados, a França
intensificou os bombardeios que já empreendia às bases do Estado
Islâmico na Síria, juntamente com os Estados Unidos, a Rússia e o
governo sírio de Bashar Al-Assad. Supondo que esses bombardeios venham a
acabar de vez com o Estado Islâmico – hipótese na qual muitos
especialistas em estratégia não acreditam – o fim dessa organização
significará o fim da ameaça e do perigo que ela representa?
Não necessariamente. Como lembrou alguém
nas 48 horas de noticiário contínuo de canais como a CNN e o brasileiro
Globo News, o Estado Islâmico já opera com a prática tão ocidental e
capitalista das franquias. O grupo de Paris, uma dessas franquias,
poderia, pelo menos por algum tempo, operar sem o apoio das bases na
Síria. Idem os executores de um atentado em Beirute, no Líbano, que
matou mas de 40 pessoas na véspera dos atentados de Paris. Idem a
franquia Península do Sinai, que conseguiu, pelas mãos de algum
funcionário do setor de bagagem do aeroporto egípcio de Sharm El-Sheik,
colocar uma bomba no jato da Metrojet russa que explodiu pouco depois de
levantar vôo, matando mais de duzentas pessoas.
Diante de tudo isso, uma pergunta não
tem sido feita nem respondida com a necessária firmeza: o que leva
tantos jovens de países europeus, apenas por descenderem de famílias
árabes, a aderir ao exército de fanáticos do Estado Islâmico? (Em tempo,
outra pergunta que não quer calar: quem compra, todo mês, 40 milhões
de dólares de petróleo do Estado Islâmico?)
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