Presidente do PT-RJ diz que partido tem propostas de esquerda para o Rio e pode até lançar candidatura própria
Presidente
do PT-RJ e prefeito de Maricá, onde lançou o Tarifa Zero, Washington
Quaquá deu uma entrevista ao Brasil 24/7. Nela, falou sobre possíveis
alianças à disputa para a prefeitura do Rio no ano que vem, as
modificações por que passa o PT e até anunciou que o PT pode ter
candidato próprio:
"[O PT] Pode ter candidato próprio, ainda não tem nome, mas pode ter candidato próprio”
A seguir, trechos que destaquei da entrevista, que pode ser lida na íntegra aqui.
O PT passa por uma crise de governismo? O
Vladimir [Palmeira] dizia isso, a institucionalidade nos faz mudar a
vida de muita gente, mas nos faz pagar um preço: o da burocratização e
do aburguesamento. Então o partido entra no sistema e acaba que os
espaços de poder ficam mais importantes do que a luta política pro
avanço da luta popular. Não que o PT não seja um partido que
transforme a vida das pessoas. Eu topo qualquer debate com qualquer
partido de esquerda, que se diga mais de esquerda do que nós. Porque
autoproclamação não significa vida real. Muitos partidos se
autoproclamam de esquerda, mas na hora que você vê quais são as ações
que o partido faz de transformação da sociedade, o PT dá de dez. Nós
ainda somos o grande partido transformador do Brasil. Viramos um
partido reformista, e hoje, levemente reformista, e esse é o problema
do PT. Ou o PT volta a ser um partido reformista ou estamos fadados a
acabar.
Nós somos o grande partido de mudanças no Brasil,
como exemplo para o mundo, mas esse modelo que criamos de alianças por
cima, de composição com a direita para chegar ao poder, e com uma
aliança conservadora de esquerda com o setor conservador da sociedade,
para fazer as mudanças que nós fizemos e que melhoraram a vida do povo,
esse modelo se esgotou, até porque a burguesia não tolera mais que
isso: “Até aí nós toleramos, daí pra frente nós não vamos tolerar, não
vamos tolerar que cresça mais a massa salarial, como está crescendo
mais que a renda do capital, não vamos tolerar que fiquem abaixando os
juros, diminuindo a dívida pública”, porque isso é repasse de recurso
direto para a burguesia. Então há um momento que não dá mais pra
compor, como nós compusemos. Agora chegou a hora de sustentar mudanças
mais profundas através de um novo bloco de poder, esse bloco de poder
tem que ser um bloco feito pelos movimentos sociais e com o conjunto da
esquerda.
(...) nós nunca mais vamos ser aqui no Rio,
sobretudo sobre a nossa gestão, um satélite do PMDB. Nossos projetos,
nossas propostas, como a tarifa zero, passam a ser um dos elementos do
modo petista de governar no Rio de Janeiro. Moeda social com economia
solidária passa a ser uma das bandeiras principais do modo petista de
governar, junto com a democratização, que já é uma bandeira histórica.
Nós aqui vamos enfrentar uma eleição, seja na capital ou em qualquer
lugar do Rio, com um modo petista de governar renovado, com tarifa
zero, enfrentando a máfia do transporte, que ninguém nesse Estado teve
coragem de fazer.
PT, um partido de esquerda
Essa
é uma discussão que nós queremos fazer. Porquê, perceba um coisa: Ser
de esquerda não é só proclamar teoria. Não é dizer que é o bonzão,
purinho, que eu quero isso ou quero aquilo. Ser de esquerda é
transformar a vida das pessoas. Só se faz transformação social com
organização popular. Só se organiza o povo com dignidade. Quem tá
fodido, sem moradia, sem comer, não se organiza. A não ser no
banditismo, fora da sociedade. Para organizar o povo para a
transformação social é preciso que as pessoas tenham condições mínimas
de vida. Então temos que construir políticas que deem habitação, que
aumentem o salário, que gerem emprego ou que incentivem o
empreendedorismo popular. Tem que dar educação e formação pros jovens.
Isso que é avançar na luta popular. Então se a gente vai fazer uma
aliança com o Eduardo Paes, e que permita que que essas políticas sejam
implantadas, não vejo problema. Zero problema.
Mas ele mudaria radicalmente de ideais? Nós vamos entrar se ele não mudar? Por que nós vamos fazer uma aliança se ele não incorporar nossos 13 pontos?
Sobre o PSOL
O
Psol é muito arrogante, eu propus um apoio ao Freixo, declarei
publicamente. No dia disse seguinte o Freixo vai pros jornais e diz que
não quer o apoio do PT. Eu entrevistei o
deputado Marcelo Freixo durante as eleições de 2014, e ele me disse que
o Psol estaria aberto à aliança, caso o PT mudasse algumas de suas
posturas. Se o PT virar PSOL não precisamos
ser PT, precisamos ser PSOL. Para fazermos uma aliança com eles nós não
pedimos para eles deixarem de ser radicaizinhos de Zona Sul; eu não
disse que só apoiaria o Freixo se ele desfizesse a aliança com o
[Jorge] Picciani (PMDB) na Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro) pra ganhar a Comissão de Direitos Humanos; que a
[deputada] Janira [Rocha] não pegasse dinheiro de seus assessores; que o
Cabo Daciolo não fosse um cara de direita, e que eles o expulsassem.
Eu não pedi à eles que mudassem o Psol, eles não podem fazer uma
aliança pedindo que o outro partido mude. Somos o PT, não o PSOL. Uma
aliança não é uma fusão. Se eles querem fazer aliança com iguais, eles
que vão para uma mesquita e procurem um monte de muçulmanos que pensem
iguais à eles. Não pode ser fundamentalista pra fazer aliança. Eles
estão minimamente aprendendo a fazer alianças. Nós somos um partido que
aprendeu a fazer aliança. Aprendemos até demais...
O que o PSOL espera do PT para fechar essa aliança? Eu
não sei. Nós esperávamos que eles recebessem uma perspectiva de nosso
apoio com felicidade. Um partido como o nosso dar apoio a um partido
menor como o PSOL. Se fossemos nós iríamos aceitar de bom grado: venham
que nós discutimos. Mas eles não. Eles disserem que nós tínhamos que
nos banhar no rio Jordão. Nós não vamos nos banhar no Rio Jordão. Nós
somos um partido e eles outro partido. Já que eles não querem nosso
apoio, nós vamos procurar nossa vida. Nós podemos ter candidato próprio,
poderíamos apoiar o PSOL e podemos apoiar o candidato do Eduardo Paes.
13 Pontos do PT
O
fundamental é que nós do PT estamos escrevendo 13 pontos para fazer um
Rio de Janeiro democrático, popular e solidário. E nós vamos apresentar
essas propostas para a sociedade. Nesses 13 pontos estão incluídas
tarifa zero; moeda social nas comunidades, com uma nova economia
popular; educação de tempo integral e combate à tuberculose. No Estado
do Rio de Janeiro 700 pessoas morrem por ano de tuberculose. Isso é uma
vergonha. É quase uma guerra do Iraque matando tuberculosos aqui. Nós
vamos apresentar os 13 pontos, e podemos ter candidatura própria ou
apoiar o candidato do Eduardo Paes.
Tarifa Zero na Zona Oeste
O
Haddad fez uma grande auditoria nas empresas de ônibus da cidade de
São Paulo, que descobriu irregularidades na taxa de lucros das
empresas, no número de viagens dos ônibus. Você crê que isso faça parte
de um roteiro para alcançar o passe livre? O
Haddad é um cara de esquerda, e é um puta prefeito, que tem colocado
novas discussões na cidade de São Paulo, que é uma cidade complexa.
Obviamente que implantar a tarifa zero lá não é como implementar aqui
em Maricá, que tem 150 mil habitantes, mas dá pra implantar. Essa
é uma discussão nacional. A presidenta Dilma, que fez o Mais Médicos,
que enfrentou a corporação dos médicos com o Padilha, devia criar um
plano de mobilidade urbana para as médias cidades, que têm entre 100 e
300 mil habitantes. Implementar nelas a tarifa zero num primeiro
momento, e avançar aos poucos nas grandes cidades, colocando tarifa
zero em alguns trechos das periferias. Podia pegar a Zona Oeste do Rio e
dizer: “Vai ter ônibus de graça”, indicando que em oito anos vai
implantar tarifa zero na cidade inteira. Teria que ter recursos
federais. O próprio Haddad propôs isso – que é uma bela proposta – da
Cide, aquela contribuição sobre a gasolina, voltar para os municípios
que implantarem a tarifa zero. Poderia criar um imposto sobre a folha de
pagamento, já que onde tivesse tarifa zero os empresários não pagariam
mais vale transporte, para ajudar a subsidiar o sistema. Ou seja, o
que tem que fazer é tirar o sistema da mão das empresas privadas.
Transporte
publico é um direito, como saúde e educação. Nós queremos construir um
Estado de Bem-Estar Social no Brasil, mas diferente do modelo europeu.
Lá o subsidio era dividido em três terços, um os empresários, outro o
Estado e o último os trabalhadores. Mas lá os trabalhadores tinham um
poder de compra muito grande, vinham acumulando salário, eles podiam
ajudar a subsidiar o sistema. Aqui não. Aqui o transporte é um impacto
imenso no orçamento e na renda do trabalhador.
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