'Após ocupação, relação entre professores e alunos não será a mesma', avalia docente
Um mês depois do início do movimento de ocupação das escolas da
rede pública do estado de São Paulo, os estudantes secundaristas
continuam nas ruas. Nesta quarta (9), os alunos fazem nova manifestação,
no Museu de Arte de São Paulo (Masp), agora voltada à
defesa de educação de qualidade e de maior participação da comunidade na
gestão escolar. O ato também é contra o autoritarismo do estado e os cortes do governo na educação.
A reportagem foi publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 09-12-2015.
Iniciadas na Escola Estadual Diadema, na região do ABC, na noite do dia 9 de novembro, as ocupações começaram com o objetivo de combater a proposta de reorganização escolar
do governo estadual. A ação, no entanto, extrapolou a intenção inicial:
alcançou cerca de 200 escolas, levantou a discussão sobre a qualidade
do ensino nas escolas públicas, derrubou o secretário da Educação, Herman Voorwald, e fez com que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) revogasse o decreto que instituía a reorganização escolar em todo o estado.
Os estudantes assumiram
o controle das escolas ocupadas, organizaram-se em equipes (de
segurança, de limpeza, de atendimento à imprensa, de alimentação, de
alojamento) e passaram a deliberar as ações do grupo por meio de
assembleias. No lugar das aulas, eles desenvolveram uma rotina própria
nos prédios ocupados, organizando aulas públicas e cursos.
O projeto da Secretaria da Educação
previa o fechamento de ao menos 93 escolas e a transferência de cerca
de 311 mil estudantes para instituições de ensino na região onde moram. O
objetivo da reorganização, segundo a secretaria, era segmentar as
unidades em três grupos, conforme a idade e o ano escolar. De acordo com
o órgão, a segmentação melhora o rendimento dos alunos.
Os estudantes ressaltam
que a comunidade escolar não foi ouvida pelo governo sobre as mudanças.
Eles argumentam que as alterações e transferências, se colocadas em
prática, causariam a ruptura, entre outras questões, da relação que os
alunos desenvolveram com colegas e prejudicariam a logística dos pais,
que muitas vezes se utilizam dos filhos mais velhos para levar os irmãos
mais novos para a escola.
Futuro
Depois das ocupações,
as escolas públicas não serão mais as mesmas, e as relações de
estudantes com os professores precisarão ser diferente daqui para
frente, acredita a professora Marilena Nakano, da
Fundação Santo André. Apesar da revogação da reorganização escolar feita
por decreto no último sábado (5), os alunos querem outros compromissos
do governador Geraldo Alckmin, como a democratização das escolas.
Em entrevista ao repórter Jô Miyagui
da TVT, a professora afirma que os estudantes adquiriram a
conscientização política e organizacional, e isso vai gerar tensão. “De
modo geral os diretores são autoritários. De modo geral os professores
também não dão espaço para os alunos. As relações atuais são de não
ouvir uns aos outros, e agora, vão ter que ouvir. O que está posto no
debate é a forma que adolescentes participam da gestão da escola.”
Nas escolas ocupadas,
as atividades continuam, e algumas, com aulas fora do currículo escolar,
o que trouxe novas perspectivas de conteúdo e forma de aprendizado.
Segundo o professor de Filosofia da rede pública de ensino Marcos Nakano,
há uma necessidade de mudar a maneira de lecionar, mas ele acredita os
professores ainda são apegados ao método tradicional. “Eles pensam que
processo educacional devem ser dessa forma, a partir de um imposição de
que esse é o melhor processo cognitivo e artístico do aluno, e eles não
conseguem fazer isso.”
Os alunos não vão mais
aceitar que tudo seja igual como era antes, como a luta dos estudantes é
por uma escola de qualidade, eles dizem o que imaginam ser a escola
ideal.
“É preciso trazerem
eventos culturais, como trouxemos nesse tempo que ficamos na escola.
Além dos alunos terem uma participação maior dentro das escolas”, avalia
o estudante João Vitor Oliveira.
Para o estudante Douglas dos Santos,
deve haver um processo de democratização das escolas. “A escola para de
ser um movimento vertical, onde a direção manda, e todos devem que
acatar. O modelo ideal é uma escola horizontal, onde todos têm voz mais
ativa.”
“Acho que uma escola com infraestrutura para dinâmicas diferentes. Não só aquela coisa de texto, lousa, caderno e livro”, diz a aluna Beatriz Ribeiro.
A professora acredita
que para a escola ideal na visão dos alunos se transformar em algo real,
é preciso escutar e negociar. Mas essa é uma coisa que o governo Alckmin
ainda não conseguiu fazer. “Até hoje não é capaz. Revogou, mas não é
capaz de dialogar. Essa é a grande lição que esses meninos deixam. Para
nós conseguirmos uma país democrático, e uma escola democrática, as
pessoas devem sentar e dialogar.”
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