quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

VENEZUELA - Os caminhos para superar a derrota.

Venezuela. Os caminhos para superar a derrota


Na avaliação de Modesto Emilio Guerrero, biógrafo de Chávez, o atual governo venezuelano, que sofreu uma impactante derrota nas urnas, “descuidou do principal de qualquer governabilidade em um Estado moderno: o que sente e pensa sua própria base social e a outra, da qual provém o voto que legitima o poder”. O artigo é publicado por Página/12, 09-12-2015. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
A derrota bolivariana é a sétima, desde Honduras em 2008, e a segunda após o dia 22 de novembro, na Argentina, que pode conduzir a um sério retrocesso na América Latina.
O que não avança, retrocede. A Venezuela é uma dura verificação desse axioma, porque não há como impedir uma derrota quando o que foi colocado em marcha foi detido, deixado pela metade, ou pervertido. Da noite para o dia, o chavismo passou de vencedor em 18 provas eleitorais, em apenas 16 anos, a um movimento mergulhado na incerteza. De 101 deputados foi reduzido para 55, ao passo que a direita passou de nenhum em 2005, para 63 em 2009, e para 109 hoje. Essa escalada é inversamente proporcional à tendência declinante dos cinco governos progressistas.
Na Venezuela se está vivendo a mesma sensação social que a da Argentina do dia posterior ao 25 de outubro, quando tendo vencido Scioli, parecia que o vencedor era Macri. Com 109 deputados, mais as três cadeiras de representantes indígenas que pertencem a partidos vinculados a MUD, a oposição conta com maioria qualificada para modificar leis orgânicas ou alterar a Constituição Bolivariana, que é a arquitetura jurídica sobre a qual se montou o Estado Social de Direitos, conhecido jornalisticamente como “revolução bolivariana”.
O impacto foi tão tectônico na vida política que a direita se sente dançando seu próprio joropo, pela primeira vez em 17 anos. Essa é a novidade qualitativa. O estado da governabilidade se reduziu, apesar de se manter o poder nacional até o referendo revocatório previsto na Carta Magna.
O governo descuidou do principal de qualquer governabilidade em um Estado moderno: o que sente e pensa sua própria base social e a outra, da qual provém o voto que legitima o poder.
A sociedade venezuelana não podia mais suportar a situação de angústia prolongada por mais de dois anos, desde que a oposição se convenceu de que era impossível vencer o chavismo por meios legais e utilizou dois novos métodos de irritação coletiva. Um foi o desabastecimento massivo programado desde outubro de 2013, o outro foi o ensaio de guerra civil sui generis do ano de 2014, conhecido como ‘guarimbas’, uma forma de rebelião violenta nas ruas. A direita se equivocou, era possível pelo voto.
Essa angústia se deu sobre uma complexa trama de sensações negativas que vão da recessão à inflação e desta à insegurança das ruas, cada uma potencializada pela imprensa internacional.
Agora vem a prova máxima, o referendo revocatório de 2017 - mas que com a maioria qualificada a oposição pode adiantar para o próximo ano -. Porém, antes a oposição tentará, com um “golpe a moda paraguaia”, o desmonte das principais leis sociais, como já foi solicitado pelas principais câmaras empresariais: a Lei de Terras, a Lei de Aduanas e a do Trabalho.
A revolução bolivariana só tem três caminhos: superar esta derrota com o Estado Comunal exigido por Chávez, em 2012, pactuar com a oposição um governo de transição ou ser derrotada na próxima prova.

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