quinta-feira, 5 de maio de 2016

MÍDIA - Capas do PIG.

Quando os patrões sequestram o fotojornalismo para vender seu peixe


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Da Redação
Na véspera do primeiro turno das eleições de 2006, um acidente aéreo que matou 155 pessoas quase estragou a diagramação perfeita da Folha e do Estadão.
Quase. O episódio das capas siameses serviu claramente para demonstrar aos jovens jornalistas o que significa “pensamento único”.
A parede de dinheiro vista nas fotos ao lado, como denunciou o Viomundo à época, foi produzida pelo delegado cenógrafo Edmilson Bruno, da Polícia Federal.
O próprio Edmilson, em conversa gravada com repórteres no dia do vazamento das fotos, confirmou: pediu que o dinheiro fosse retirado dos malotes da Protege, nos quais as notas estavam acondicionadas, para formar a parede impressionante.
As fotos, como se sabe, foram feitas numa perícia. O dinheiro, segundo a PF, seria utilizado por petistas para comprar um dossiê contra o então candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.
O repórter Amaury Ribeiro Jr. sustenta que os petistas caíram numa armadilha comum nos bastidores de campanha, promovida por agentes de inteligência ligados ao PSDB.
No dia da prisão dos petistas, um jornalista a serviço da campanha do PSDB, ainda hoje na ativa, foi o primeiro a chegar à sede da PF com uma equipe de TV para filmar os presos.
Chegou antes mesmo que a TV Globo.
Tanto a Folha como o Estadão juntaram na primeira página a foto do dinheiro com a de Lula de capuz, num evento de campanha. A ideia é de uma obviedade atroz: fazer o então candidato à reeleição passar por trombadinha.
Em capas recentes, Folha e Estadão repetiram a dose: o sequestro do fotojornalismo para explicitar os objetivos políticos patronais.
A manchete Dilma culpa oposição pela crise econômica, na Folha, vem com a foto da presidente lidando com uma mosca. A merda em pessoa, diz Otavinho, que apresenta Paulinho da Força, logo ele, na mesma primeira página, cercado de gente e celebrando o tchau querida.
A lindíssima foto do Estadão, dois dias depoissustenta o pedido de abertura de investigação contra Dilma.
Como lembrou o jornalista Lino Bocchini no twitter, neste contexto é como se a bruxa estivesse ardendo na fogueira da PGR.
Dez anos se passaram entre aquelas duas primeiras capas do Lula e estas duas de Dilma.
Mudaram os editores, mudaram os fotojornalistas, mas não mudou o fato central: acima de tudo, as imagens expressam os desejos nem um pouco ocultos dos barões da mídia.

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