aquarius Artistas, jovens e mulheres agora lideram protestos
O protesto dos atores do filme Aquarius, em Cannes

Não sei se vocês já repararam, mas uma semana após a troca de governo houve uma mudança radical na paisagem humana das manifestações de rua.
Saem os coxinhas e mortadelas, os sem-terra e os sem-teto, as camisas vermelhas dos sindicalistas da CUT e os patos amarelos da Fiesp, e entram em cena as lideranças dos movimentos de mulheres, jovens e artistas.
Esta mudança foi provocada pelo próprio governo interino, que mexeu num vespeiro ao extinguir o Ministério da Cultura (deve virar uma secretaria),  acenar com o fim da gratuidade nas universidades públicas e, principalmente, ao deixar as mulheres de fora do primeiro escalão.
A imagem que melhor resume estes novos tempos circulou pelo mundo na terça-feira: a equipe do filme "Aquarius", com Sonia Braga e o diretor Kleber Mendonça Filho, erguendo cartazes no tapete vermelho do festival de Cannes, onde foram bastante aplaudidos, em que protestam contra "Um golpe de estado que aconteceu no Brasil".
No mesmo dia, manifestantes ocuparam prédios da cultura em 10 capitais, e 60 artistas, convocados pela Associação de Produtores de Teatro, reuniram-se no Rio para discutir a extinção do MinC. Após duas horas de debates, redigiram uma carta de repúdio ao fim do ministério, que pretendem entregar ao presidente interino Michel Temer, no qual afirmam:
"O MinC é uma conquista da sociedade brasileira e não pode deixar de existir, especialmente num cenário de ausência completa de debate com os interlocutores necessários. A alegada demanda por uma máquina pública enxuta não pode ser implementada à custa do desmonte de estrutura dedicada à guarda e preservação da identidade nacional".
Para aplacar a rebelião no meio artístico e cultural, Temer decidiu criar uma Secretaria Nacional de Cultura ligada diretamente à Presidência da República, para a qual pretende indicar uma mulher, matando dois coelhos de uma cajadada só, mas está difícil.
Depois de três tentativas frustradas, ontem foi convidada a atriz Bruna Lombardi, que também se recusou a ir para o governo, alegando compromissos profissionais.
Ao contrário do que o governo interino temia, não aconteceram até agora as grandes manifestações anunciadas pelo PT contra o afastamento de Dilma Rousseff, com a convocação do "exército do Stédile", referência feita por Lula ao líder do Movimento dos Sem Terra.
Os protestos que se alastram pelo país são agora menores e mais localizados, como se viu em São Paulo, no final da tarde desta terça-feira. As siglas que fizeram a convocação pelas redes sociais agora são outras: UBM (União Brasileira de Mulheres), UJS (União da Juventude Socialista) e Levante Popular da Juventude, além da velha UNE (União Nacional dos Estudantes).
Segundo os organizadores, 8 mil pessoas participaram do ato. Às 19 horas, a PM calculou que havia cerca de mil pessoas.
Os manifestantes se reuniram em frente ao Masp, fecharam a avenida Paulista e seguiram para a rua da Consolação, a caminho da Funarte, no centro da cidade, onde se encontraram com os artistas que estavam protestando contra o fechamento do MinC, juntando assim os três setores da sociedade mais mobilizados neste momento.
Mudaram os personagens, as agendas, as bandeiras e os alvos. Já não se mira mais, por exemplo, em Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara pelo STF, embora ele continue no comando da sua tropa de choque, com forte influência no parlamento e no governo provisório