quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

POLÍTICA - As baionetas foram substituídas pelos tribunais. O que fazer?

Marcada a data da prisão de Lula. Democracia em xeque. O que fazer?
Ricardo Cappelli*
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) marcou na tarde desta terça feira a data do suposto julgamento do recurso impetrado pela defesa de Lula no caso do Triplex do Guarujá. Os desembargadores analisarão a sentença do “imparcial” Moro, que condenou o ex-presidente mais popular da história do Brasil à 9 anos e 6 meses de reclusão.
O trâmite do processo fala por si só. A tramitação da sentença no tribunal leva em média 56 dias, segundo notícias veiculadas na imprensa. No caso Lula ocorreu em algumas poucas horas. O relator do recurso proferiu seu voto em tempo recorde, e o julgamento foi marcado com velocidade nunca antes vista na história. Um claro deboche à expressão imortalizada por Luís Inácio.
O Globo ontem, em editorial, atacou FHC por este dizer que gostaria de derrotar Lula nas urnas. Segundo a Família Marinho, uma recaída do Príncipe por este ter convivido com o metalúrgico nos tempos sombrios da ditadura. Uma atitude inaceitável para o conglomerado midiático, para quem “a duras penas o país mudou e não comporta mais este tipo de comportamento.”
Não há qualquer dúvida sobre a condenação. Como o STF não fará qualquer revisão da prisão após condenação em segunda instância até lá, é possível que seja preso. A primeira pergunta é esta. Terão coragem de prender o líder mais popular do país, líder das pesquisas de opinião? Serão covardes ao ponto de condená-lo apenas para tirá-lo das eleições sem emitir ordem para a sua prisão? Quais as consequências de uma ou outra decisão?
Para quem acreditava que ainda vivíamos numa democracia, que estávamos a léguas de distância dos anos de chumbo, a velocidade do julgamento de Lula é um fato definitivo. Estamos com um golpe de estado a todo vapor. As baionetas foram substituídas pelos tribunais. A Operação Condor ganhou o nome do local onde se lavam carros.
A direita perdeu de vez o bom senso e resolveu jogar a democracia às favas. Sabem da incapacidade de seus escolhidos, Alckmin, Bolsonaro, e dos natimortos Doria e Huck, de sucesso num pleito democrático. Têm a plena consciência que a pauta de direitos regressivos e de entrega do futuro da nação JAMAIS passará nas urnas. Daí apostarem numa eleição de fachada, sem povo, apenas com os fantoches do mercado.
Está em curso a completa desestabilização do Brasil. Será impossível retomar um projeto nacional de desenvolvimento ou qualquer tipo de paz social com a radicalização em marcha. A Globo, âncora da desestabilização, ultrapassou todos os limites, e dobra a aposta no enfrentamento social.
A cobra do fascismo apoiada na Aliança do Coliseu, formada pela Globo com setores antinacionais da burocracia estatal, colocou a cabeça de fora para o golpe definitivo. A esquerda precisa procurar todas as forças democráticas e patrióticas do país. É hora de conversar com todos os democratas, inclusive os que não comungam dos mesmos ideais. É preciso procurar inclusive os setores militares comprometidos com a democracia.
O que Lula fará? Não se trata do senhor Luís Inácio, mas do personagem histórico representante da esperança e dos sonhos de milhares de pessoas de carne e osso. Getúlio, na mesma situação, entregou sua vida. Adiou a escuridão por dez anos. Lula irá para o cárcere como exigem os Marinho? Aceitará o destino que a reação quer lhe impor? O que faremos?
O dia 24 de janeiro de 2018 passará a fazer parte dos livros de história. O início será escrito pelos inimigos do povo. Pelo time de Silvério do Reis. O final ainda está em aberto, cabe ao povo brasileiro escolher o seu enredo.
Getúlio foi assassinado. Juscelino foi “morrido”. Jango foi expulso. Brizola, Arraes e Amazonas foram para o exílio. Centenas tombaram, deram suas vidas por amar a liberdade. Seremos novamente derrotados passivamente? Seremos mais uma vez coadjuvantes de uma democracia de fachada? O que fazer?
*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília.

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