sexta-feira, 8 de maio de 2020

"NA FILA DO SUS".


Série “Na Fila do SUS” mostra como é ter uma saúde pública sucateada em plena pandemia

Com seis episódios, foi produzida pela plataforma independente Bombozila, que pretende se firmar como a "Netflix das lutas sociais"

MORADOR DA CRACOLÂNDIA, EM SÃO PAULO, RECEBE CARTILHA DE PREVENÇÃO AO CORONAVÍRUS. FOTO: REPRODUÇÃO
Da Redação
07 de maio de 2020, 20h12
   
Com seis episódios e produzida de forma independente pela plataforma Bombozila, que pretende se firmar como “a Netflix das lutas sociais” no Brasil, a websérie “Na Fila do SUS” mostra como é para as populações mais vulneráveis estar no meio de uma pandemia com a saúde pública do país sucateada.
O primeiro episódio, “O Povo da Rua”, aborda o desmonte da saúde sob a ótica da população em situação de rua na cidade de São Paulo, acompanhando a atuação do padre e ativista Julio Lancelotti. “O grande interesse contra a população de rua em todo o Brasil é o mercado imobiliário”, diz Lancelotti, que tem sofrido ameaças de morte da PM por se colocar como entrave aos interesses da especulação na região da Mooca. O enfrentamento do coronavírus pelos moradores de rua paulistanos esbarra em dificuldades prosaicas do dia a dia, como a obtenção de água potável.
“O grande interesse contra a população de rua em todo o Brasil é o mercado imobiliário”, diz padre Julio Lancelotti. O enfrentamento do coronavírus pelos moradores de rua esbarra em dificuldades prosaicas do dia a dia, como a obtenção de água potável
Em “Povos Indígenas”, a série mostra como a pandemia, mais uma “doença de branco”, chega às aldeias num momento de completa desestruturação da saúde indígena, iniciada no governo Michel Temer e continuada por Jair Bolsonaro. Desde que o presidente insultou os profissionais cubanos, forçando o governo da ilha a retirá-los do país, muitos distritos indígenas que nunca contaram com médicos voltaram a não ter nenhum.
“Eu fico pensando que o coronavírus escancara tudo que a gente tem de difícil neste momento”, define o médico da família Jorge Esteves no terceiro episódio da série, “Favela Nós por Nós”. A história se repete: a pandemia aparece na favela justamente quando o prefeito Marcelo Crivella se empenhara em dilapidar o sistema de saúde do município, retirando os centros de saúde da família das comunidades.
O que faz a favela? Se organiza para se proteger a si mesma: espalham panfletos orientando a população, distribuem máscaras, cestas básicas… Os irmãos Tandy e Thiago Firmino, do Morro Santa Marta, tiveram a ideia de higienizar as ruas da favela com quaternário de amônia, inspirados no que foi feito na China, e agora inspiram favelas do país inteiro.
THIAGO FIRMINO HIGIENIZANDO O MORRO SANTA MARTA. FOTO: REPRODUÇÃO
O quarto e mais recente episódio disponível, “Linha de Frente”, retrata a dura realidade dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde que estão arriscando as próprias vidas, muitas vezes em precárias condições, para combater o coronavírus. Além de estarem sendo alvo, aqui como em outros países, de manifestações de ódio em vez de agradecimento.
“A atual situação da saúde evidenciada pela pandemia de Covid-19 soa como um recado urgente: é necessário promover o debate sobre o desmonte do SUS no Brasil. Reforça que a população precisa tomar conhecimento sobre o impacto disso na vida delas”, diz a diretora da série, Ellen Francisco,  pesquisadora em Saúde Pública. “Em tempos em que a necessidade de isolamento é a melhor medida, o documentário de luta social é uma importante ferramenta para a defesa do direito à saúde, porque estamos em um momento em que faltam leitos, equipamentos, medicamentos, é um cenário extremamente complicado.”
FOTO: REPRODUÇÃO
Todo o conteúdo da série foi produzido de forma independente, com recursos de profissionais de saúde da linha de frente no país e conta com o apoio do sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras da Fundação Oswaldo Cruz e ainda com um financiamento coletivo que segue aberto para quem quiser apoiar.
“A situação da saúde evidenciada pela pandemia de Covid-19 soa como um recado urgente: é necessário debater o desmonte do SUS no Brasil. Reforça que a população precisa tomar conhecimento sobre o impacto disso na vida delas”, diz a diretora Ellen Francisco
Criada em 2016 no Rio de Janeiro por iniciativa da radialista e pesquisadora chilena Sabina Alvarez e do documentarista independente brasileiro Vito Ribeiro, a plataforma Bombozila reúne documentários produzidos em sua maioria nos últimos 20 anos. A Bombozila também realiza suas próprias produções documentais, séries de projeções em espaços públicos, oficinas de formação audiovisual para democratizar o acesso à comunicação e fomentar a produção audiovisual popular, em diversas comunidades da América Latina.
Até o momento são cerca de 500 documentários independentes sobre justiça social e luta por direitos na plataforma, prioritariamente produzidos no Brasil e América Latina, mas também títulos de países como Palestina, África do Sul, Portugal, Espanha e Estados Unidos.
Confira os episódios disponíveis abaixo. Basta clicar para assistir.
1º O Povo da Rua 
2º Povos Indígenas
3º Favela Nós por Nós
4º Covid-19
5º Sistema Único de Saúde – estreia 11 de maio
6º Uberização da vida – estreia 18 de maio

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