sexta-feira, 4 de junho de 2021

Não dá para ficar em cima do muro.

 

Não dá para ficar em cima do muro

Há determinados artistas que perdem o trem da História ou são cancelados pelo simples fato de terem atitudes consideradas “sem-noção” diante da desesperança brasileira. Não, Juliana Paes, nós não estamos diante de um dilema entre o amarelo ou o azul e você poderia optar pelo verde sem consequências.  Após ser duramente criticada por defender a médica Nise Yamagushi em seu depoimento na CPI da Covid, Juliana Paes fez um desabafo nas redes sociais pelos inúmeros ataques que sofreu em virtude da defesa de Nise. Ela, contudo, deveria ter ficado em silêncio, pois errou feio na sua justificativa e as redes vieram com mais fúria para cima dela.

Num vídeo intitulado “Carta a um colega…”, ela reclama das cobranças que vem recebendo – sobretudo da atriz Samantha Schmütz – por não se posicionar politicamente diante das crises econômica, sanitária e institucional em que estamos mergulhados e ainda ficou pior para ela quando reivindicou o direito à neutralidade, já que segundo ela, isso não a torna uma bolsominion. Juliana rejeita esse rótulo, embora reconheça o medo que tem de “uma suposta extrema esquerda” venha a governar o país, o que chamou de “delírios comunistas”.

Esse discurso vem ao encontro das teses defendidas pelos apoiadores de Bolsonaro (me recuso a chamar Bolsonaristas, não há envergadura política no presidente da República para que seus seguidores sejam comparados aos Brizolistas, por exemplo). Argumentos como esses foram o sustentáculo para disseminar fake news sobre as candidaturas de esquerda e minar muitos votos na desesperançada eleição de 2018.

Juliana Paes busca assumir a figura de uma “fada sensata” (como se diz hoje nas redes sociais) ao dizer que nenhum dos lados a agrada e que não se sente representada, mas esta posição não se sustenta nos dias atuais. Se estivéssemos às vésperas das últimas eleições presidenciais talvez essa postura de isenção e neutralidade pudesse fazer algum sentido, mas hoje? Com quase meio milhão de mortos, o desemprego grassando, a fome de milhões de famílias?

Apesar de negar ser seguidora de Bolsonaro, com esse post, Juliana Paes faz coro com o discurso que sustenta o atual presidente no poder. Ser “isentona”, hoje em dia, é ser conivente com tudo que aí está. As coisas não são isso ou aquilo na maioria das vezes, mas nos dias em que vivemos não se posicionar é ser conivente. Não dá mais para optar pelo verde.

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