Muita gente talvez nunca tivesse ouvido falar de Simone Tebet, ou tivesse visto apenas uma ou outra menção ao seu nome por causa da CPI da Covid, até esta semana. A senadora ganhou espaço nas notícias e nas rodas de conversa após ter uma participação relativamente bem sucedida na entrevista ao Jornal Nacional e ter sido considerada por muitos a “vencedora” do primeiro debate entre os candidatos e candidatas à Presidência, no último domingo (28).
Então achamos por bem falar um pouco sobre ela, para que possa ser mais conhecida pelo público, como ela deseja. E temos que começar contando que seu currículo não é pequeno. Vamos lá.
Simone Tebet é senadora desde 2015 e ganhou destaque como uma das vozes mais marcantes da CPI da Covid contra o governo Bolsonaro, criticando o negacionismo do presidente. Em entrevista ao Brasil de Fato em outubro do ano passado, ela defendeu o indiciamento de militares e integrantes do “centrão” acusados de participação em supostos esquemas de corrupção. Mas Tebet e Bolsonaro nem sempre estiveram em lados opostos na política.
Simone Tebet é representante da bancada ruralista do Mato Grosso do Sul.
Ela vem de uma família proprietária de terras e influente na política – seu pai, Ramez Tebet, chegou a ser ministro no governo Fernando Henrique e presidente do Senado. Simone seguiu seus passos: foi prefeita de Três Lagoas (MS), deputada estadual e vice-governadora na chapa de André Puccinelli (MDB), até virar senadora.
Tebet herdou também fazendas no Mato Grosso do Sul. Uma delas fica em Caarapó, região de intensos conflitos entre ruralistas e povos indígenas Guarani-Kayowá, de acordo com o Conselho Indígena Missionário (Cimi). A fazenda de Simone Tebet é uma das reivindicadas pelos indígenas como seu território originário. O processo de demarcação do local chegou a ser iniciado no governo Dilma, mas não foi adiante.
Em 2021, uma operação da Polícia Federal na região matou um indígena e deixou oito feridos. Em 2016, um ataque de ruralistas também matou um indígena e feriu oito, no que ficou conhecido como Massacre de Caarapó. O marido de Tebet, Eduardo Rocha (deputado estadual pelo MDB), se solidarizou com os ruralistas.
Como senadora, Simone Tebet votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, do Teto de Gastos, que tira recursos da saúde e da educação, e das reformas trabalhista e da Previdência. E apoiou projetos dos ruralistas, chegando a figurar em uma lista do Cimi dos 50 parlamentares que mais atuaram contra os interesses dos povos indígenas.
Aliás, Tebet votou com o governo Bolsonaro em 86% das vezes, com destaque para o apoio à ampliação da posse de armas em propriedades rurais, segundo levantamento da Agência Pública.
Ela é também é uma das candidatas que mais recebeu doações dos ruralistas na campanha de 2014.
Simone Tebet se tornou a promessa da terceira via com a saída de João Doria (PSDB) da disputa à Presidência. Agora, a senadora tenta se desvincular das origens ruralistas para angariar a simpatia de eleitores ligados às pautas ambientais. Sua assessoria foi até bloqueada na Wikipedia por tentar editar informações sobre os temas ambiental, indígena e de direitos humanos do seu perfil, como divulgou o site Metrópoles.
Simone Tebet concorre à Presidência da República pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), antigo PMDB, e tem como vice a também senadora Mara Gabrilli (PSDB).
E as propostas?
Falamos bastante de Simone Tebet, mas agora vamos falar de como se posicionam todos os candidatos em relação a um tema bem importante: reforma agrária. Como já se pode imaginar a partir da leitura do texto acima, a senadora emedebista não defende a reforma em suas propostas para a Presidência.
Mas não é só ela. Apenas quatro candidatos citam reforma agrária em seus programas de governo: Léo Péricles (UP), Lula (PT), Sofia Manzano (PCB) e Vera (PSTU). Outros quatro falam em regularização fundiária: Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL) e Simone Tebet (MDB).
Mas essas coisas não são sinônimos. Regularização fundiária é a titulação aos proprietários de terras já identificados e cadastrados. Já a reforma agrária é a redistribuição de terras mesmo para quem ainda não é proprietário.
Clique aqui para entender melhor o que dizem os programas dos candidatos sobre o assunto.
Seis anos do golpe
Sempre é importante lembrar: há seis anos o Senado votava a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Essa foi a última etapa do processo e definiu o afastamento definitivo da primeira presidenta mulher da história do país, sem que ela tivesse cometido nenhum crime.
Desde então, foram aprovadas reformas trabalhista e da Previdência e Teto de Gastos, eleito Bolsonaro e destruídas as políticas de combate à fome, entre muitos outros retrocessos. Não à toa, este ano o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, do qual tinha saído em 2014.
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