quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

POLÍTICA - "PT tem de sair dos tapetes de Brasília....."

“PT tem de sair dos tapetes de Brasília e ganhar as ruas do Brasil”

Onda vermelha PT
Raimundo (1) julian
Raimundo Bonfim e Julian Rodrigues: Luta política, debate ideológico e gente na rua
Raimundo Bonfim e Julian Rodrigues, especial para o Viomundo
A última pesquisa do Datafolha quantificou o que muitos de nós já intuíamos.
Os índices de bom/ótimo do governo Dilma caíram de 42% para 23%.
A avaliação negativa subiu de 24% para 44%. Mais preocupante ainda: a parcela dos eleitores que têm o PT como partido favorito caiu de 22% para 12%. Isso tudo em pouco mais de um mês.
A composição conservadora do Ministério (com Kátia Abreu e Levy como símbolos) e a opção pelo ajuste fiscal — afetando as políticas sociais —  trouxe decepção, desconforto e um distanciamento do governo do bloco político e social que se mobilizou para reeleger Dilma.
Por outro lado, a direita, a grande mídia e setores conservadores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal operam 24h por dia para desgastar o governo e criminalizar o PT. A ofensiva sobre a Petrobras é para mudar o regime de partilha para concessão, inviabilizar a estatal como operadora única do pré-sal – e, no limite, viabilizar sua privatização.
Tudo é escândalo, tudo é crise, mas o foco é só o governo e o PT, eximindo qualquer outro Partido. Uma ofensiva brutal, diuturna. Na última semana, voltaram a sinalizar com o cenário do impeachment, em um movimento liderado pelo próprio FHC.  A militância que foi às ruas está atônita com o avanço da direita e se sente traída com as primeiras medidas do governo.
Do nosso lado, a estratégia vitoriosa que nos permitiu derrotar Marina no primeiro turno e Aécio no segundo foi abandonada.
Desde a eleição, Dilma só falou com a nação na posse e na primeira reunião do novo ministério. Silêncio absoluto. Não há mais confrontação de projetos. Obviamente que com corte de gastos sociais e aumento de juros ficou mais difícil sustentar a polarização programática.
A opção pela apatia e pelo imobilismo pode levar o campo progressista à nossa maior derrota. Enquanto os conservadores não pararam a campanha eleitoral por um minuto sequer, Dilma e a maioria do PT depuseram as armas. Agimos como um lutador de boxe que acabou de ganhar um round difícil, por pontos, e, imediatamente depois  resolveu sentou-se no corner e se deixa espancar, sorrindo.
A esse cenário de crise política é preciso acrescentar as dificuldades econômicas. Com quadro internacional difícil, as medidas fiscalistas, o aumento de juros, restrição de direitos e benefícios previdenciários e mais o brutal racionamento de água em São Paulo.  2015 tende a ter crescimento zero ou levemente negativo.
Renda e emprego — o grande trunfo da nossa sustentação — podem começar a ser afetados.
É preciso reagir imediatamente à ofensiva conservadora, privatista e golpista.  Os discursos de Lula e Rui Falcão na festa de aniversário do PT sinalizaram um rumo importante. O desafio é transformar essas intenções em mobilização concreta.
O caminho é rearticular o bloco político e social que viabilizou a histórica vitória de Dilma no segundo turno. Recompor a frente de esquerda e progressista que rejeitou Aécio e votou   para aprofundar as mudanças no segundo governo Dilma. Um bloco liderado pelo movimento sindical, popular e social, como por exemplo, o Levante Popular da Juventude e Consulta Popular, PT, PSOL PCdoB, setores do PSB e PDT, artistas e intelectuais progressistas.
Como disse o Márcio Pochmann: “uma frente de esquerda com uma agenda alternativa”. A rigor, nem é uma agenda alternativa, mas o programa vitorioso nas eleições: constituinte exclusiva para reforma política, democratização da mídia, reforma agrária e urbana, mais políticas sociais, aprofundamento do modelo de desenvolvimento com distribuição de renda.
A tarefa é complexa: defender o governo Dilma contra o golpismo de direita, e, ao mesmo tempo, combater e  derrotar o ajuste fiscal proposto pelo próprio governo.
A melhor maneira de enfrentar a ofensiva conservadora é a luta política permanente e a mobilização social. Debate ideológico e gente na rua.
O modelo de governabilidade baseado em concessões ao grande capital, baixo enfrentamento político, afastamento dos movimentos sociais e de suas bandeiras históricas, abandono da luta pela hegemonia e alianças com a centro-direita esgotou-se.
Não é mais possível continuar melhorando a vida da maioria do povo sem dar um salto político rumo às reformas estruturais.
No atual cenário de crise econômica e direita em ascensão avançar com o projeto democrático-popular demanda atingir de frente interesses econômicos, com uma reforma tributária que taxe as grandes fortunas e acelerando a reforma agrária, por exemplo.
No front político-ideológico, sem enfrentar a questão da reforma política e da regulamentação da grande mídia é impossível qualquer avanço. É claro que precisamos defender o governo, mas em especial, urge que a esquerda e os movimentos sociais disputem nas ruas a implementação do programa vitorioso. E o PT deve ser a principal força política a nos liderar nesse imperioso embate – que deve sair dos tapetes de Brasília e ganhar as praças e ruas do País.
Julian Rodrigues, licenciado em Letras e especialista em economia do trabalho, é  ativista de Direitos Humanos e LGBT.
Raimundo Bonfim, advogado, é coordenador geral da Central de Movimentos Populares (CMP-SP).

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