terça-feira, 24 de março de 2015

POLÍTICA - Ponha-se no lugar de Dilma.


Ponha-se no lugar de Dilma: o que você faria?


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

'O título acima é inspirado no livro Ah, se eu fosse presidente _ O Brasil ideal na opinião de grandes brasileiros famosos e anônimos, organizado pelo jornalista Sidney Rezende, que acaba de ser lançado pela Alta Books Editora.

Ponha-se no lugar de Dilma: o que você, caro leitor, faria se fosse presidente?

É impressionante como agora todo mundo sabe o que a presidente Dilma Rousseff deve fazer para sair da encalacrada em que se meteu, da mesma forma como se comentava o que Felipão deveria fazer com a seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Em lugar do "Fora Felipão", entrou o "Fora Dilma".

O nível das conversas é mais ou menos o mesmo. Nunca os brasileiros falaram tanto de política, a todo momento, em todo lugar, nem mesmo no auge do segundo turno da campanha presidencial do ano passado.

"Eu não quero saber de política, eu não gosto disso", cansei de ouvir até outro dia, quando o assunto surgia numa roda. Pois neste momento está acontecendo exatamente o contrário. Isto tem um lado bom, o interesse em discutir os destinos do país, e revela, ao mesmo tempo, um assustador desconhecimento sobre como funcionam nossas instituições.

Chuta-se para todo lado e qualquer boato ouvido no rádio, espalhado nos táxis ou lido nas redes sociaisvira verdade absoluta. Tem gente que se gaba de não pagar mais impostos, "para não entregar meu suado dinheiro aos vagabundos do bolsa família", sem se dar conta de que está confessando um crime. Pelas leis em vigor, afinal, quem sonega pode ir para a cadeia
Este ano, os procuradores da Fazenda Nacional calculam que a sonegação de impostos baterá nos R$ 500 bilhões _ ou seja, pelo menos dez vezes mais do que o governo pretende economizar com o pacote fiscal. E todas as corrupções somadas não chegam nem perto desta sangria incontrolável do Tesouro Nacional, mas ninguém quer falar disso, não dá manchete.

Outros não fazem a menor distinção entre as diferentes responsabilidades constitucionais dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, atribuindo todos os nossos males, genericamente, ao "governo do PT", e colocando a culpa em Dilma Rousseff, que, diga-se a bem da verdade, contribuiu bastante para que chegássemos a esta situação.

Discussões histéricas e estéreis se multiplicam em todos os ambientes sociais, misturando ignorância e má-fé, como se o Brasil fosse acabar amanhã. Neste clima, confesso, estou pela primeira vez na vida preocupado com o futuro _ da minha família e do país.

Depois de ficar uma semana fora do Balaio e procurando me manter afastado do noticiário, em defesa da minha saúde mental, bastaram algumas horas na volta a São Paulo para sentir este ar pesado que nem as chuvas dos últimos dias conseguiram levar embora.

Cada um tem sua solução mágica para resolver todas as crises de uma vez, do impeachment da presidente à prisão de todos os políticos, da renúncia à volta dos militares ou a novas eleições, de um grande diálogo nacional ao encolhimento do ministério, do fechamento dos partidos à convocação do papa Francisco para dar um jeito no Brasil.

Além de economistas e técnicos de futebol, viramos agora todos estrategistas políticos, embora a maioria nem saiba do que se trata.
Virou o Samba do Indignado Doido.

Já que dar palpite não custa nada, eu mesmo pensei no que faria se fosse eleito presidente da República (Deus me livre!), atendendo ao pedido do Sidney Rezende para contribuir com o livro citado na abertura deste texto.

Escrevi antes das eleições de outubro:

"Antes mesmo de tomar posse, chamaria os lideres de todos os partidos e representantes da sociedade civil para discutir um projeto de reforma política ampla, geral e irrestrita que seria enviado ao Congresso Nacional no primeiro dia do meu mandato. O ideal seria discutir os pontos centrais deste projeto durante a própria campanha eleitoral, o que nenhum candidato fez até agora.

Sem isso, qualquer outra proposta de mudança no país seria inútil, mera demagogia, inviável. Com o atual sistema político-partidário-eleitoral, o Brasil é um país ingovernável, seja quem for eleito presidente da República".

Infelizmente, minhas piores premonições se confirmaram, bem mais cedo do que eu esperava.

Vida que segue."

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