quinta-feira, 17 de setembro de 2015

ANOS DE CHUMBO - "Operação Condor".



A estranha anatomia do Condor

Fotos: Ricardo Machado/IHU
Entender a complexidade do que foram os regimes de exceção na América Latina, requer compreender as especificidades das ditaduras que se instauraram no continente. A uma grande operação clandestina entre as forças militares do Cone Sul foi dado o nome de um pássaro que tem por característica observar suas presas a longa distância, de modo que elas não tenham chance de defesa ao serem atacadas. Seu ataque é rápido, voraz e muitas vezes fatal. Assim foi a Operação Condor, que tinha como particularidade ser uma ave de três patas.
"Este Condor tinha três patas: Henry Kissinger, professor estado-unidense e secretário de Estado que articulou o apoio às ditaduras na América Latina, conhecido como o ideólogo do mal; a outra pata era Augusto Pinochet, ditador Chileno que mandou bombadear a Casa de La Moneda para 'salvar' a sociedade civil do comunismo; e a terceira pata era o general Hugo Banzer, boliviano que tinha como objetivo eliminar todos aqueles que tinham relação com a Teologia da Libertação", assim descreveu o professor e pesquisador Martín Almada(foto), aquilo que poderíamos chamar de uma estranha ave da morte.
Operação Condor
A chamada Operação Condor foi uma articulação internacional, formalizada clandestinamente em outubro de 1975 em Santiago do Chile, de regimes de exceção do Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina e Bolívia, que visava vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e sumir com militantes políticos que se opunham às ditaduras. Para Almada, que foi acusado de "terrorismo intelectual", esta operação foi uma estratégia de eliminação de todos aqueles que pensavam diferente da economia neoliberal.
Ninho do Condor
Imagem: Documentos da Operação Condor
encontrados no Paraguai (reprodução vídeo)
Durante a conferência Justiça histórica, é (im)possível?, o professor e pesquisador, relembrou episódios de tortura e sofrimento do período em que ficou preso no Paraguai, mas também contou emocionado sobre o dia em que chegaram ao "ninho do Condor". "Como chegamos ao ninho do Condor? Isso foi fruto de 15 anos de investigação. Em 22 de dezembro de 1992 encontramos o local onde estavam cerca de 5 toneladas de documentos com mais de 700 mil páginas sobre os investigados na Operação Condor", recordou Almada. Veja o vídeo com a chegada de Almada e sua equipe ao ninho do Condor.
A prisão e o exílio
Os caminhos que levaram ao ninho do Condor foram percorridos por longos 15 anos. Quando Martín Almada saiu da prisão, graças a Anistia Internacional, ele viajou para Paris, na França, onde foi contratado como consultor para a América Latina desta mesma organização. Com a queda do regime militar, ele retornou para a nação de origem e pediu explicações no Tribunal Paraguaio de como sua esposa foi morta, solicitou também explicações do por que foi torturado em seu país por militares de outras nacionalidade. Recebeu em troca o silêncio complacente dos torturadores e do judiciário.
 A busca
Com a ajuda de um sacerdote jesuíta que conheceu na França, Almada traçou um plano para encontrar os documentos da Operação Condor. Ambos deram-se conta que as elites políticas paraguaias gostavam de ostentação e por isso faziam questão de ter carros luxuosos e palacetes. "Decidimos ir onde os ricos viviam e me postulei como comprador de um desses palacetes. Eu havia vivido na França, era razoável que eu quisesse esse tipo luxo. E em uma dessas visitas encontrei uma sala com 700 mil folhas, aproximadamente 5 toneladas de papeis e gravações sobre pessoas do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, dos anos de 1979 a 1989. Havíamos encontrado, enfim, o ninho do Condor", contou entusiasmado o professor.
Apesar desta descoberta estrondosa, anos mais tarde uma força militar dos Estados Unidos teve acesso aos documentos e fizeram, segundo Almada, uma limpa nos papeis que relacionavam seus militares ao comercio ilegal de drogas. "Quando encontramos os documentos, havia pelo menos 5 toneladas de papeis, atualmente não passa de 3 toneladas", lamentou.

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