O voto de Bolsonaro e o país que não esquecemos
Na miríade das canalhices do último domingo, 17 de abril, entre traidores prosaicos, reconhecidos corruptos tipo Maluf, direitistas radicais passando por ex-esquerdistas convertidos ao Capital e os discursos burlescos de evocação da família e de deus, o que calou fundo mesmo na consciência democrática dos brasileiros foi à lembrança, infame, de um dos maiores torturadores da ditadura militar, Brilhante Ustra.
Por Paulo Fonteles Filho*
Agência Câmara
O deprimente discurso do deputado fascista decorre do fato de que não concluímos a nossa transição democrática.
Anunciado como um ‘herói’ tupiniquim pela caratonha fascista de Jair Bolsonaro, deputado convertido à democracia cristã por puro oportunismo e eleitoralismo de cabresto, o episódio marca uma espécie de renascimento da extrema-direita brasileira, tida como fora de moda desde os fins dos anos de 1980, quando a UDR – uma organização fascista do grande latifúndio - manchava o campo brasileiro com o sangue de diversas lideranças da luta pela terra, entre advogados, religiosos, lideranças sindicais e, principalmente, de camponeses pobres.
O deprimente discurso do deputado fascista decorre do fato de que não concluímos a nossa transição democrática. Como um Ronaldo Caiado de trinta anos passados, Jair Bolsonaro parece ganhar os corações e as mentes dos partidários do conservadorismo brasileiro e vai costurando, entre o pensamento xiita de direita e um numeroso setor evangélico partidarizado, o PSC, uma engenharia política que irá fazê-lo concorrer à Presidência da República em 2018 ou até antes, se forem convocadas eleições gerais como antídoto e desdobramento da grave crise política em curso.
A frase atribuída ao poeta e compositor Antônio Carlos Jobim de que ‘O Brasil não é para principiantes’, no sentido de revelar a complexidade do país brasileiro exige a crença de que, aqui, os canalhas dos porões da tortura, dos assassinatos e dos desaparecimentos forçados não podem continuar zombando – numa verdadeira cruzada - da democracia e das liberdades públicas, tão caras ao povo e trabalhadores brasileiros.
O deprimente discurso do deputado fascista decorre do fato de que não concluímos, em mais de trinta anos, a nossa transição democrática e isso passa, também, pela punição exemplar dos lobos que o deputado sabe representar. A manutenção das premissas da Lei de Anistia, de 1979, faz com que a impunidade e o escárnio sejam uma prática tão corriqueira quanto às de racismo, homofobia, misoginia e xenofobia que assistimos na atualidade, impulsionada por uma grande mídia golpista e empresarial.
Se é verdade que a extrema-direita nunca teve competência política para transformar-se em força hegemônica, apesar de ter passado mais de vinte anos no poder, entre 1964/1985, é verdade também que a antiga fórmula adotada por Alexandre Inojosa, um dos principais articuladores da ultradireita brasileira na década de 1980, é bastante atual, ou seja, 'do quanto pior, melhor'. O medo e o cinismo, irmãs siamesas, atuam nestes dias com os mesmos métodos da Sociedade de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) em tempos passados, insuflando a violência e o anticomunismo.
Que a violação dos direitos humanos sempre começa pelo discurso do ódio e da intolerância e depois é usado como estratégia de guerra contra jovens negros das periferias, disso já sabemos. Como devemos saber que um torturador - aquele que investido de indescritível covardia é capaz de tudo para supliciar sua vítima – é o que há de pior na escala humana, o mais baixo e delinquente.
A conversão crente ao fascismo, e vice-versa, que faz recrudescer figuras do tipo Torquemada - o Grande Inquisidor do século XV - precisa ser desvendada e duramente combatida porque deus não deve estar gostando da repetição desse estelionato - que em 64 realizou as Marchas da Família com Deus pela Liberdade - que mais uma vez reúne, como farsa, torturadores, as oligarquias e falsos profetas.
Não passarão!
*É membro da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, representante do PCdoB no Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) e colaborador do Vermelho
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