terça-feira, 26 de abril de 2016

POLÍTICA - "Bolsa Família está inchando".

Guru de Temer para área social diz que “Bolsa Família está inchando”

A presidenta Dilma Rousseff disse em vídeo, divulgado no dia 15 de abril, que “os golpistas já disseram que, se conseguirem usurpar o poder, querem revogar direitos e cortar programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida”. O vice-presidente Michel Temer, do gabinete do golpe, correu para redes sociais para dizer que manteria “todos os programas sociais”, incluindo o Bolsa Família.



  
No entanto, o economista Ricardo Paes de Barros - escalado por Temer para formular um conjunto de propostas para a área e um dos autores do “Ponte para o Futuro” – confirma o que a presidenta Dilma denunciou.

Em entrevista ao Estadão, Barros disse que, num eventual golpe contra o mandato de Dilma, haverá mudanças nos programas sociais, a começar pelo corte no número de beneficiados.

Segundo ele, o programa está “inchando” e, por isso, várias pessoas deixarão de receber o Bolsa Família porque não são pobres de fato. “É evidente que o Brasil não tem tantos pobres assim quanto tem hoje no Bolsa Família. É claro que o Bolsa Família está inchado”, disse.

Sob a fachada demagógica da “eficiência de gestão”, Barros disse que a política pública foi expandida de maneira “generosa” e está carregada de “ineficiências”.

“Ao corrigir as ineficiências, podemos alcançar os mesmos resultados ou até mais, gastando menos”, disse ele. A população brasileira conhece bem esse conceito de “eficiência”, que na prática se transforma em corte nos programas sociais.

“Evidentemente, tem gente que vai sofrer. Na hora que a gente fizer isso no Bolsa Família, tem gente que está recebendo o benefício, e talvez não fosse para receber tanto assim. Vai perder. Nesse trabalho de arrumar a política pública, e política social em particular, o pobre vai sair ileso, ganhando. Mas aquele que já não é tão pobre – não pertence aos 40%, até 50% mais pobres – vai ter de ouvir a verdade: cara, não adianta reclamar, você já não pertence mais a esse grupo, segue em frente, toca a tua vida aí”, avisa.

Segundo ele, no cadastro único do Bolsa Família a proposta inicial seria de um corte de 15%.

Quem seria cortado? Barros explica que, por meio do cadastro, identificaria “melhor quem é pobre e precisa realmente do Bolsa Família e também identificar quem diz que é pobre, mas não é tão pobre assim”.

“Hoje, a renda que você declarar faz uma enorme diferença. Numa família de cinco pessoas, se você declarar que ganha R$ 10 a menos do que de fato ganha, você recebe no Bolsa Família, todo mês, R$ 50 reais a mais. Ou seja: R$ 600 a mais por ano. É claro que eu posso ver melhor ainda se eu refinar o cadastro ou criar outro sistema, mas já é evidente que o Brasil não tem tantos pobres assim quanto tenho hoje no Bolsa Família”, destaca.

Pronatec

E não fica por ai. Barros disse ainda que pretende promover “revisões” no Pronatec, que “não pode dar cursos às cegas para os desempregados”. Desde que foi criado, em 2011, o Pronatec beneficiou mais de 9 milhões de pessoas.

“É mais inteligente se você chegar para cada trabalhador e der para ele um cartão qualificação. Com o cartão, ele procura emprego. Primeiro você acha um empregador que queira se relacionar com o desempregado – e ele e o empregador, juntos, vão buscar uma qualificação que aquele empregador precisa. O que acontece hoje: o cara está no meio do Pronatec, fazendo o curso, e desiste porque conseguiu emprego em outra coisa. É muito grande o risco de perder dinheiro com a coisa maluca de formar desempregados, em grande escala, sem saber que emprego vão ter”, propõe.

Ele também comentou a questão das creches, que segundo ele, é outro exemplo de boa gestão do governo Dilma. “A gente expandiu o número de vagas para ninguém botar defeito. Dobrou a cobertura. Mas as vagas não foram para mães pobres que precisam trabalhar”, declarou. E completa: “A gente inventou essa ideia de que creche é direito de todos e o Judiciário entra contra as prefeituras”.

Para ele, “uma mãe que não trabalha e não é pobre tem tanto direito quanto uma mãe que é pobre e trabalha”. “A maioria da cobertura de creche hoje não está entre os mais pobres. Atende a classe média. Ou seja, a gente expandiu a política pública, alcançamos resultados fantásticos, mas fizemos isso sem nos preocupar com restrição orçamentária, com a eficiência. Expandir de uma maneira generosa, mas sem preocupação com a eficiência, até traz resultados, mas a um custo acima do necessário”.

Apesar de todas essas afirmações, Barros disse ainda que considera “ridícula” a discussão de que o Brasil teria de cortar benefícios sociais na atual crise.


Do Portal Vermelho

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