terça-feira, 9 de agosto de 2016

POLÍTICA - Um exemplo a ser seguido.


A nobreza do voluntário que saiu da Rio 2016 por causa da censura ao “Fora Temer”. Por Mauro Donato

                           


Luis Moreira
Luis Moreira
 
Durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas, o decorativo Michel Temer tentou um discurso no anonimato. Não foi anunciado pelo sistema de som e falou por dez segundos. A fala do presidente interino só não foi mais rápida do que a dos locutores de propaganda de remédios com seu veloz ‘este medicamento é contra indicado em casos de suspeita de dengue’. Ainda assim, as vaias para Temer foram grandiosas, olímpicas. E contra isso nada pôde ser feito.
Contudo, tão logo as competições iniciaram, toda e qualquer manifestação contrária a Temer nas dependências das arenas têm sido reprimida pela Força Nacional com um grau de violência inaceitável. Qualquer pessoa que exibir uma simples folha de sulfite com a inscrição “FORA TEMER” ou o fizer verbalmente, é retirada à força das instalações.
Contra esse abuso, o voluntário Luis Moreira rebelou-se e desistiu de colaborar.
“Informo oficialmente ao COI (Comitê Olímpico Internacional), que estou deixando de ser voluntário. Ao me candidatar à vaga queria contribuir para fazer o Brasil ser referência na recepção e aprender com a organização, mas jamais compactuarei com o fim da liberdade de expressão. A Constituição do meu país jamais poderá ser inferiorizada por uma regra dos jogos, expulsar ou proibir uma frase: FORA TEMER. Além de censurar, o comitê incentivou a agressão de pais de família, mulheres, pessoas que apenas expressaram uma opinião”, postou Luis em sua página do Facebook.
O voluntário reprova a atitude da organização dos jogos e anunciou seu desligamento logo depois de um manifestante que estava com a família ser detido no Sambódromo durante a final de Tiro com Arco. Como vários casos estão se repetindo, se o lúcido exemplo de Luis Moreira for seguido, vão faltar voluntários na Rio-2016.
“Queremos arenas limpas”, alega o diretor de comunicação dos jogos. Seja lá o que ele quer dizer com isso, segundo a CDHM (Comissão de Direitos Humanos), a organização da Rio-2016 está infringindo não apenas a Constituição Federal do Brasil como a própria Lei Geral das Olimpíadas.
“O COI não pode decidir as condições de acesso e permanência nas arenas dos jogos. Quem o define é a lei e o COI deve obedecê-la. Nem o Comitê nem as polícias são poderes acima da legislação brasileira. A Lei Geral das Olimpíadas, em seu artigo 28, proíbe ‘ostentação de cartazes, bandeiras, símboos ou outros sinais com mensagens ofensivas de caráter racista, homofóbico, xenófobo ou que estimulem outras formas de discriminação’.
As placas FORA TEMER não se enquadram nessas caraterísticas. A Lei proíbe também ‘xingamentos ou cânticos discriminatórios’.  ‘FORA TEMER’ é um protesto sem essas características, portanto pode ser soado nesses espaços”, publicou a CDHM em nota oficial.
Os protestos contra a realização das Olimpíadas não tiveram até agora a mesma dimensão daqueles contra a Copa 2014. Porém não são desprezíveis. Na sexta-feira (05/08), dia da abertura dos jogos ocorreram muitas manifestações no Rio de Janeiro e também em  São Paulo onde centenas de pessoas se reuniram no vão livre do Masp. A manifestação foi impedida de sair em passeata e, como desobedeceu, foi violentamente reprimida com agressões de cassetete e spray de pimenta. O número de detidos (muitos deles estudantes secundaristas) foi de 97.
Curioso o comparativo entre os dois eventos. Durante a Copa do Mundo o “Ei Dilma, vai tomar no cu”, podia. Agora “Fora Temer”, nem pensar. Parabéns aos envolvidos pelo estágio atual de repressão. Mas sobretudo, parabéns ao voluntário Luis Moreira que demonstrou coragem digna de medalha de ouro.

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