por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
Diga ao povo que não fico
Olá! Bolsonaro aposta nos eleitores arrependidos, seus amigos empresários apostam no golpe e Alexandre de Moraes aposta no poder da toga. Mas se depender da maioria dos brasileiros, o reinado de Jair terá vida curta.
.Golpe S/A. Menos de uma semana depois de sua posse no TSE, Alexandre de Moraes deixou bem claro que não estava brincando em seu discurso de posse. Se com uma mão Moraes afagou os militares, com a outra determinou a identificação de participantes de um grupo de Telegram chamado “Caçadores de ratos do STF” e também atendeu o pedido de busca e apreensão da Polícia Federal contra os empresários que defenderam o golpe num grupo de zap. Além de cortar pretensões golpistas no discurso, o ministro pretende cruzar os nomes e as intenções dos empresários com os já investigados pelo financiamento de disparos em massa e disseminação de fake news, como é o caso de Luciano Hang. A ação acabou respingando em Augusto Aras, protagonista de troca de mensagens com os investigados. Um dos participantes do grupo de zap é o empresário Meyer Nigri, da construtora Tecnisa, considerado responsável pela nomeação do Procurador. Os integrantes do grupo são as figuras mais públicas ou abonadas dispostas a financiar o bolsonarismo. Nos estados e municípios, outros empresários menos conhecidos financiam outdoors e discursos antidemocráticos. É claro que a ação de Moraes causa temor na base aliada de que as torneiras do financiamento empresarial se fechem e até mesmo os golpistas agora se autoproclamam “apolíticos”. Mas apesar do impacto, o discurso golpista não deve diminuir porque Bolsonaro precisa dele como arma política, analisa Bruno Boghossian, seja para se vender como líder antissistema para seus seguidores, seja para manter os demais poderes e instituições sobre permanente extorsão. Tanto que na saída da sabatina do Jornal Nacional, Bolsonaro mais uma vez convocou as manifestações de 7 de setembro, contando com o fiel apoio do agronegócio. Quem também é adepto de manter o discurso golpista em voga é o Exército que, às vésperas das eleiçṍes, realizou um exercício simulado de combate a um grupo paramilitar com “ideal proletário”.
.Anda café eu vou. Apesar da posição cômoda nas pesquisas, a avaliação do entorno de Lula é de que foi Bolsonaro quem pautou o início da campanha eleitoral. E o centro da disputa, para os aliados, é o voto evangélico. Segundo o Datafolha, em 20 dias, o capitão subiu 7% neste setor. A fórmula para o crescimento inclui fake news da ministra Damares e do deputado Marcos Feliciano, mas principalmente a militância de Michelle Bolsonaro, “uma voz doce com embalagem bíblica para o mesmo discurso de ódio”. Inicialmente, a ideia do petista era não entrar nas pautas morais e de costumes, nem nos temas religiosos. Mas a tática mudou. Nos três primeiros eventos públicos, Lula usou metáforas religiosas e menções à bíblia; novas contas em redes sociais foram criadas para dialogar com o eleitor evangélico e a coordenação estuda a possibilidade de fazer lives exclusivas para o setor. Parte da coordenação, porém, preferia que Lula centrasse fogo nos temas econômicos. Curiosamente, o perfil do eleitor indeciso que pode decidir a eleição é de mulheres, católicas e do sudeste. Mas, os petistas temem que a onda evangélica bolsonarista alcance também o eleitorado católico. Por outro lado, entre indecisos e não-polarizados, a maior tendência é o voto em Lula no segundo turno, com 54% da preferência deste público.
.Quase sozinho e mal acompanhado. Mesmo largando bem na campanha, Bolsonaro saiu atrás de Lula na corrida e agora tenta recuperar o tempo perdido. Enquanto o petista aposta em conquistar o centro do campo, tendo se saído bem no tribunal de William Bonner e Renata Vasconcellos, Bolsonaro segue jogando pela extrema direita, de olho em seus ex-eleitores de 2018 arrependidos. Porém, o sucesso inicial da estratégia esconde sua fraqueza. Além dos 21% de ex-eleitores do capitão que afirmam que não repetirão a dose “de jeito nenhum”, e 19% que estão dispostos a votar até em Lula, esse eleitorado é numericamente limitado. Com ele, Bolsonaro atingiria no máximo 40% de votos, garantindo um segundo turno, mas nada mais do que isso. Pior, a manutenção da mesmice, que se repetiu na entrevista ao Jornal Nacional, afasta qualquer possibilidade de dialogar com um leque mais amplo da sociedade. Há ainda dois outros problemas. Primeiro, está cada vez mais claro que o centrão será o poderoso-chefão do próximo governo. A solução apresentada por Ciro Gomes no Jornal Nacional foi a realização de plebiscitos. Lula, por outro lado, disse o óbvio: é necessário governar com o Congresso, mas o centrão não é um partido. Já Bolsonaro, ficou no meio do caminho entre ser tchutchuca ou antissistêmico. Aliás, antes de abandonar o centrão é possível que o centrão o abandone, insatisfeito porque o capitão faz discurso só para o seu chiqueirinho. A segunda questão continua sendo a economia. O eleitor médio de Bolsonaro destaca-se pelo otimismo na economia, o que representa, é claro, uma minoria da sociedade. Mas mesmo que a desaceleração da inflação dê ares de vitória ao governo, ela não é capaz de atenuar os interesses que movem a economia brasileira e que são patrocinados pelo governo. Afinal, apesar dos preços dos combustíveis em queda, a Petrobras continua sendo a campeã mundial no pagamento de dividendos para os investidores. Enquanto isso, a maior parte dos reajustes salariais em 2022 ficou abaixo da inflação, segundo pesquisa do Dieese.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.As origens da aliança que ameaça o século XXI. Nuria Alabao escreve sobre como a velha direita e os neoliberais se juntaram em torno dos temas morais e de costumes para uma nova ofensiva conservadora.
.Criptomoedas: por trás da grande crise. No Outras Palavras, Trevor Jackson desvela as falsas promessas das moedas digitais sem lastro e suas implicações para a economia e o meio ambiente.
.O setor mineral e as eleições de 2022. O Congresso em Foco analisa os interesses e a influência das mineradoras nas eleições.
.‘Penso em desistir todos os dias’: violência política de gênero se agrava em período eleitoral. Reportagem do Sul 21 elenca os crimes eleitorais e institucionais contra candidatas mulheres e LGBTQIA+.
.Pochmann: o erro em deixar o amanhã para depois. O economista Marcio Pochmann defende reformas estruturantes mais do que medidas emergenciais para o próximo período.
.Clóvis Moura, intérprete do Brasil antirracista. O Geledés Instituto presta homenagem ao historiador e intérprete negro da realidade brasileira.
.Guilhotina #179 - Isabela Kalil. A antropóloga e pesquisadora da extrema-direita e do bolsonarismo é a entrevista do podcast do Diplomatique Brasil.
Acompanhe também os debates políticos no Tempero da Notícia e diariamente na Central do Brasil. Você pode assinar o Ponto e os outros boletins do Brasil de Fato neste link aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário