Parece muito, mas o que caiu no bolso dos acionistas foi ainda mais. Foram R$ 136 bilhões em dividendos, que são a parcela de lucros que uma empresa distribui a quem tem suas ações. Ou seja, a cada R$ 1 que a Petrobras lucrou, R$ 1,38 foram distribuídos aos donos de suas ações. Entre eles, investidores estrangeiros, que detêm 45% das ações da empresa.
A situação é inédita. De 1995 a 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, a Petrobras tinha repassado a seus acionistas, em média, 30% do seu lucro num ano, chegando a no máximo 54%, em 1996, o que indica que há uma decisão política por trás dessa distribuição estratosférica.
Vamos chegar lá, mas, antes, surgiu uma dúvida aqui... Afinal, se a Petrobras distribuiu mais do que lucrou, de saiu esse dinheiro? Ela tirou dinheiro do seu caixa e até da venda de seu patrimônio para repassar aos acionistas! Do valor distribuído, R$ 32 bilhões vieram da venda de dois campos de petróleo, de Sepia e Itapu, segundo o professor Eduardo Costa Pinto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A gente olha essa história e parece que se trata só de acionistas ricos se dando muito bem, o que já seria bem controverso em se tratando da política de uma empresa estatal – e de um país em crise econômica. Mas o pior é que isso compromete investimentos que seriam bem importantes para o Brasil, e que impactariam até o preço dos combustíveis.
A Petrobras dá dinheiro para acionistas, mas deixou de investir nela mesma. Enquanto concorrentes investem cada vez mais em fontes alternativas de energia, a Petrobras tem abandonado projetos sobre biocombustíveis e energia solar, por exemplo, comprometendo até sua competitividade futura.
E também tem se desfeito de bens que ampliavam o escopo de sua atividade, como refinarias, o que deixa o Brasil mais dependente de combustíveis importados. Apesar de o Brasil já ser autossuficiente em petróleo, a gente ainda importa cerca de 30% do combustível que consome. O que significa que, se a Petrobras não tivesse paralisado seus investimentos em refino, o mercado interno não sofreria tanto com a alta do petróleo causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo.
Aliás, faltando dois meses para a eleição, o governo resolveu dar novo ânimo a sua agenda de privatização da Petrobras com a tentativa de vender três refinarias, como você pode ler aqui.
Mas nada disso é por acaso, e aí a gente volta para os interesses políticos por trás de tudo isso. Economistas veem a Petrobras mobilizada para remunerar acionistas até o final deste ano porque, no ano que vem, há grande chance de a gestão da estatal ser alterada, se Lula for eleito, como preveem as pesquisas. Ele já afirmou em entrevistas que pretende mexer na administração da Petrobras para baixar os preços dos combustíveis.
Se isso acontecer, pode comprometer os dividendos dos investidores. Sabendo disso, eles hoje manobram para embolsar o quanto puderem...
O repórter Vinicius Konchinski conversou com diversos economistas pra contar essa história, que você pode ler aqui.
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