O que não está no texto, mas te contamos aqui, é como fizemos para revelar essa história. A investigação jornalística levou mais de seis meses e começou no final de 2021, quando conseguimos um relatório da Polícia Federal sobre as investigações que levaram à Operação Terra Desolata. Com o material em mãos, começamos a investigar as empresas envolvidas na venda de ouro extraído ilegalmente no Brasil para o mercado nacional e internacional. Entre elas estava a Chimet, uma refinadora que é a 44ª maior empresa italiana em faturamento. Publicamos a reportagem em fevereiro, com grande repercussão na Itália, e alcançamos nosso primeiro impacto: o porta-voz do Partido Verde Italiano, Angelo Bonelli, entrou com pedido ao procurador da República de Arezzo para investigar a empresa. Depois dessa bomba, tivemos acesso à íntegra do inquérito da PF sobre a Operação Terra Desolata e analisamos boa parte de suas 8.000 páginas. Depois, fizemos uma viagem ao sul do Pará e tivemos várias conversas com fontes que não foram citadas por questões de segurança. Essas conversas cara a cara foram fundamentais para entender o contexto da história e ter segurança sobre as informações que seriam publicadas. O segundo passo foi ir além da investigação policial e descobrir quem eram os clientes da refinadora italiana. Foram dias e dias de buscas obsessivas até chegar aos relatórios enviados pelas maiores empresas do mundo à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, que citavam a refinadora entre suas fornecedoras. A ironia: grande parte das buscas foram feitas no Google, uma das gigantes denunciadas. Nesses mesmos relatórios identificamos a presença de uma refinadora brasileira que já tinha sido alvo de nossas reportagens, por também ser investigada pela venda de ouro ilegal. Daí foram mais entrevistas para entender o envolvimento dessa companhia. Após meses de trabalho, revelamos nossas descobertas para todos os envolvidos, incluindo as big techs, e pedimos explicações sobre se estavam cientes de que o metal usado na fabricação de seus dispositivos tinha origem ilegal. Entrevistamos ainda especialistas na cadeia do ouro e pesquisamos muito a respeito. Contando assim parece fácil, né? Mas não é. Um trabalho assim só é possível porque a Repórter Brasil faz esse tipo de reportagem há 20 anos e tem uma equipe capaz de desatar os nós mais complexos e mostrar as mazelas das cadeias produtivas das gigantes multinacionais. Já fizemos isso com a pecuária, por exemplo, e seguimos investigando os poderosos de diversos setores da economia. Desde o ano passado estamos na trilha do ouro garimpado ilegalmente. Já publicamos uma série de reportagens, que você pode ler neste link. O que podemos adiantar, por enquanto, é para ficarem atentos, pois sempre temos boas investigações e cruzamentos de dados inéditos para te surpreender. |
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