E Aécio, vai descer do muro e disputar com Marina Silva?

A campanha no rádio e na TV já começou há uma semana e Aécio Neves ainda não disse a que veio. Além de se apresentar ao eleitorado, não fez quase mais nada. Dá a impressão de estar paralisado diante do avanço de Marina Silva. Enquanto Aécio Neves apresenta-se com uma imagem de entorpecido diante da morte de Eduardo Campos, Marina Silva esbanja entusiasmo. Inerte, ao menos aparentemente, Aécio Neves aguarda, ao mesmo tempo em que Marina Silva, lépida, age e conquista apoios e votos.
Estará Aécio Neves aguardando o momento certo para atacar Marina ou, quem sabe, os dirigentes do PSDB, diante da ascensão de Marina Silva e conscientes de que ela não tem equipe para governar, já estarão se preparando para cristianizar Aécio, negociando a baldeação de sua candidatura e o embarque na de Marina?
O PSDB tem tradição na prática de ocupar espaços importantes em governos conquistados por outros partidos. FHC só não fez isso no governo Collor de Mello porque Mário Covas não deixou, mas o fez no governo de Itamar Franco, catapultando-se à presidência da República na eleição seguinte, após a passagem pelo Ministério da Fazenda e a implantação do Plano Real, que começara a ser gestado bem antes de sua ascensão ao posto de ministro.
Talvez não seja mera coincidência que Marina Silva, com o pragmatismo a que se permitem os que se julgam predestinados, tenha começado a lançar, agora, liames na direção de José Serra. Um pragmatismo, aliás, que Marina já havia revelado quando agregou Eduardo Giannetti da Fonseca, Gustavo Franco, intelectuais historicamente ligados ao PSDB e ultraliberais notórios, à sua campanha, tornando-os responsáveis pela elaboração do programa econômico de seu eventual governo.
Marina Silva acena com a possibilidade de governar com “todos os bons” dos diversos partidos. Talvez seja por acreditar nesta prática que ela não tenha se importado em se filiar ao PSB, sabendo que se desfiliará dele tão logo a Rede Sustentabilidade se viabilize juridicamente, e, de modo aparentemente contraditório, não tenha vetado a presença de Beto Albuquerque como seu vice, mesmo sabendo das acusações que pesam sobre ele a respeito de suas ligações com o agronegócio e com as empresas de sementes transgênicas e de armamentos.
Na verdade, muitos já acreditaram na possibilidade de governar com os “bons”, independente de seus partidos. No Brasil, entretanto, somente uma vez, com o impeachment de Collor de Mello e a posse de Itamar Franco, num governo tido como de salvação nacional, uma experiência desse tipo foi realizada e por um tempo curto. Só o PT ficou de fora, o que o ajudou muito em sua estratégia de ser “diferente” dos demais partidos e, depois, chegar à presidência da República.
No mundo todo, o governar com os “bons”, acima e além dos partidos, costuma ser o discurso daqueles que afirmam repudiar as ideologias e os partidos, mas que, ao chegarem ao poder, governam com os seus, fortalecem o seu partido e impõem a sua ideologia em detrimento de todos os demais partidos e ideologias. Políticos deste tipo acabam, muitas vezes, por criar ditaduras, como o caso paradigmático de Adolf Hitler ou, noutro extremo, sem estrutura partidária e sem base social sólida, acabam sendo engolidos pelos partidos e políticos mais fortes, que antes eram considerados passíveis de serem agregados e/ou controlados, e terminam, muitas vezes, sendo apeados do seu próprio governo, como ocorreu com Collor de Mello.
Aécio Neves precisará se apresentar como alternativa a Marina Silva, se quiser, mesmo, chegar ao segundo turno das eleições e disputar com Dilma Rousseff a presidência da República. Não bastará se apresentar como “bom gestor” e como uma “alternativa segura” a Marina Silva e a Dilma Rousseff, como vem fazendo. Precisará correr o risco de enfrentar Marina Silva, mesmo sabendo que a aura de vítima que a cerca poderá sair reforçada, caso erre na dose de seus ataques. A não ser, claro, que o acordo com Marina Silva já esteja selado e o próprio Aécio Neves o tenha sacramentado.
Estrategicamente, não cabe a Dilma Rousseff, que está em primeiro lugar na disputa, atacar Marina Silva, pois, assim, estaria alçando-a à categoria de adversária privilegiada e, consequentemente, fortalecendo sua candidatura. Se não há acordo entre tucanos e marineiros, Aécio Neves que se mexa, se não quiser morrer na inércia. Se houver acordo, entretanto, nada o fará se mover. Continuará em cima do muro, “observando a paisagem”. Para saber qual foi a decisão do PSDB, será preciso esperar pelos próximos movimentos da campanha peessedebista.
Benedito Tadeu César - Cientista social
Publicado originalmente no Sul21
http://www.sul21.com.br/jornal/e-aecio-vai-descer-do-muro-e-disputar-com-marina-silva/