Lula em 2018 é a explicação para o estado febril da direita
por Luiz Carlos Azenha
Os leitores do Viomundo debateram fervorosamente a reportagem de Caio Castor sobre a manifestação que, uma semana depois da eleição, pediu o impeachment de Dilma Rousseff na avenida Paulista.
Por causa de nossa chamada no Facebook, muitos focaram no detalhe: a presença do escrivão da Polícia Federal Eduardo Bolsonaro, deputado federal eleito, armado sobre o palanque.
Muitos dos leitores, aparentemente apoiadores de Bolsonaro, disseram que ele, por ser policial, estava exercendo seu direito ao portar arma. Argumentaram também que Bolsonaro só será empossado em seu novo cargo em primeiro de janeiro de 2015.
Outros contra-argumentaram, levantando um debate jurídico:
8 – EVENTUAIS RESTRIÇÕES AO DIREITO AO PORTE DE ARMALamentamos nossa contribuição para que o debate ficasse concentrado no detalhe, não no essencial, que é a questão política.
Direito algum é absoluto. A sua existência não é um fim em si, mas sim a realização de um valor. A solução justa não é aquela que simplesmente observa a literalidade do texto legal, mas aquela que melhor realiza o valor que deu origem ao texto legal, como mostra trecho de um artigo escrito por Edison Miguel da Silva Júnior.
(..)
Da mesma forma, se desarmado, seria inviável ao policial executar seu dever duradouro de combate ao crime.
Esses são, então, os valores tutelados pelo direito de portar arma de fogo: integridade física do policial e o dever de proteção da coletividade.
Se, no entanto, em determinada conduta, o agente público extrapolar em seu direito — ou utilizá-lo com outra finalidade — não subsiste mais a razão para exercê-lo. É o caso da arma de fogo. Não haverá motivo para portá-la se o escopo não for a segurança própria ou da sociedade.
Em nossa modestíssima opinião, o que choca é o simbolismo da presença de um deputado eleito armado em uma manifestação pública. Protegidíssimo pela Polícia Militar, que saudou do carro de som, ele não corria ali nenhum risco.
Ao portar a arma, do ponto-de-vista simbólico acreditamos que o escrivão Bolsonaro demonstrou que não está disposto a travar apenas o debate político dentro do Congresso. Conclama as ruas a trabalhar pelo impeachment de Dilma com uma arma na cintura!
Aliás, pelo que vimos na reportagem de Caio Castor, houve uma simbiose entre o escrivão Bolsonaro e boa parte do público presente.
Longe do palanque, alguns participantes da manifestação exibiram a mesma violência simbólica do filho de Jair Bolsonaro, mas ao gritos e safanões. Ofenderam e perseguiram nas ruas quem pensava diferente. Como nos conta a história, uma das características dos fascistas era exatamente esta: o uso da violência para calar vozes discordantes.
Foi, aliás, a continuação do que vimos ao longo da campanha de segundo turno, quando houve dezenas de denúncias de violência verbal ou física contra eleitores da candidata do PT. Se tivessemos uma mídia digna do nome no Brasil, teríamos hoje um catálogo com os nomes de centenas de pessoas que foram vítimas da intolerância de apoiadores de Aécio Neves. Casos como este no Rio de Janeiro e este em Belo Horizonte.
Olhando o episódio de domingo com maior amplitude, é possível ver que ele se deu num quadro de desespero da direita brasileira não só com a vitória de Dilma Rousseff, mas com a perspectiva de que, em 2018, Lula seja o candidato do PT.
Neste domingo, no Estadão e em O Globo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contribuiu para o processo de “deslegitimar” a vitória de Dilma, embora tenha iniciado o texto jurando não pretender fazer isso. Trecho do que FHC escreveu:
FHC, lembrem-se, é aquele que pretendia “sangrar” Lula durante o primeiro mandato, certo de que seria incapaz de se reeleger em 2006.
Agora, aparentemente, quer “sangrar” Dilma.
Para os tucanos, é absolutamente essencial que ela não faça um bom segundo mandato. Quanto mais turbulências políticas e econômicas, melhor.
Em outro campo, Gilmar Mendes, sempre ele — a herança maldita que FHC nos deixou no Supremo Tribunal Federal — fez o que o mestre mandou imediatamente. Leiam trechos da entrevista que ele deu à Folha:
Gilmar Mendes não explicitou seu apoio à chamada PEC da Bengala, que aumenta de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória dos juízes do Supremo Tribunal Federal.
Mas é cristalino que a direita avança por aí, para limitar os poderes de Dilma Rousseff.
Aliás, tanto nas ruas quanto nos bastidores a direita brasileira se parece cada vez mais com o Tea Party, que agrega a extrema direita norte-americana. Aqui, como lá, esta extrema direita é alimentada diuturnamente pelo ódio de colunistas e radialistas conservadores.
Aqui como lá, assume uma postura milenarista, de fim dos tempos, inventando ameaças inexistentes para justificar sua agressividade política.
O objetivo não é, em si, tomar o poder, mas impedir que qualquer governo adote políticas públicas progressistas ou que representem perda de privilégios do 1%.
No Brasil, apesar da existência do Instituto Millenium, ainda não apareceram os grandes financiadores privados das ideias hiperneoliberais, papel feito nos Estados Unidos pelos irmãos Koch e outros.
Será, certamente, nosso próximo passo para ter uma extrema direita que nos empurre no caminho da radicalização — já vivido, aliás, na Venezuela, Bolívia e Argentina.
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