terça-feira, 4 de novembro de 2014

POLÍTICA - Os recrutas de turno.

Lobão e o seu Banana’s Party



Por Renato Rovai, em seu blog:

Costuma-se dizer que o Brasil não é um país para amadores. Mas o fato é que eles abundam em terras tupiniquins. E mesmo no universo da política, onde o mais bobo consegue consertar relógio suíço num quarto escuro e com luva de box, cada dia surgem novos nomes invocando-se líderes de um pedaço da população e falando em nome dela. Os recrutas de turno atendem pelas alcunhas Lobão, Roger, Danilo Gentile, Reinaldo Azevedo, Luciano Hulck, Ronaldo Fenômeno e figuras que conseguem ser ainda mais caricatas como um tal de Olavo de Carvalho, que se apresenta como filósofo, e Rodrigo Constantino, que nem se apresenta porque não sabe terminar uma frase.

Eles se tornaram os ídolos dos verdadeiramente desinformados. Aqueles que leem Veja, gostam de piadas racistas e fascistas e que reproduzem chorume pelas plataformas de rede sociais.

Os novos heróis do Brasil que clama por intervenção militar nada mais são do que a tentativa de reproduzir um movimento que levou (pasmem!) o Partido Republicano a perder não só eleições, mas o eixo. Nos EUA, esse movimento ultra-direitista conhecido como Tea Party tem como centro de seu discurso a redução dos impostos, mas para dar molho à sua tese também defende o criacionismo, porque Deus é o pai de todos, e a guerra, porque ela geraria empregos. Para a turba que de vez em quando sai às ruas americanas para protestar, Obama é o principal alvo por ser um comunista radical. Isso mesmo, você não leu errado. Não é a toa que eles acham o PT um partido de extrema esquerda.

Como nos EUA o nome do movimento é denominado de Tea Party e nossa terra não é exatamente caracterizada pela ingestão de chá, vou batizar o movimento liderado de Lobão de Banana’s Party (pode usar a vontade Lobão, não vou cobrar direitos autorais pela ideia). Banana’s Party tem muito mais a ver com o estilo dos manifestantes daqui. São uns covardes que não aceitam o resultado das urnas e querem uma intervenção militar.

Nos EUA esse movimento de direita emburrecida é centrado na luta contra os impostos. Mas aqui no Brasil como provavelmente boa parte da tropa é sonegadora, o que os une é o grito contra a corrupção e o PT. Para eles, o PT e sua estrela vermelha criaram a luta de classes. Sem o PT, garantem, os pobres não iriam querer deixar de ser pobres e os negros iriam continuar no seu cantinho.

Não há nada que incomode mais essa gente do que as palavras cotas e Bolsa Família. Se quiser fazê-los cair no chão e estribuchar use-as como se fosse alho contra vampiros. Elas são infalíveis.

O valor do Bolsa Família eles gastam numa taça de champanhe, mas consideram que ao garantir essa renda mínima para os mais pobres o governo petista transformou o Brasil num país de vagabundos.

É o Bolsa Família que os impede de continuar pagando os 200 reais de salário mínimo da época do FHC para suas empregadas domésticas e por isso eles não perdoam nem o Lula e nem a Dilma.

Quanto as cotas, aí o buraco é ainda mais embaixo. Elas são até mais assustadoras para a turma do Banana’s Party porque estão misturando seus filhos com os filhos dos pedreiros. Onde já se viu um garoto negro estudar na mesma faculdade da minha filha que foi criada como uma Barbie? E pior ainda, imagina minha filhinha que estudou em escola americana não entrar numa faculdade na qual o filho do pedreiro que estudou num colégio público entrou. Aí já é vandalismo. E por isso eles vão para a rua gritar contra o PT. E por isso eles apoiaram fervorosamente a candidatura de Aécio Neves.

Mas como Aécio Neves perdeu, eles decidiram que cansaram de brincar com esse negócio chamado democracia. E que eleição é coisa de pobre e não tem a menor graça. A turma do Banana’s Party quer intervenção militar. Querem um governo que prenda e arrebente quem defender direitos humanos, direitos sociais, direitos de gênero etc. O pessoal do Banana’s quer no mínimo Lula e Dilma na cadeia. Mas preferem vê-los sendo eliminados por um batalhão de fuzileiros em praça pública.

O Tea Party americano quando sai às ruas é um pouco mais engraçado do que o Banana’s Party. A galera sai fantasiada. No Brasil, os Bananas apenas carregam cartazes com suas palavras de ordem fascistas.

Mas você pode estar se perguntando. Você está assustado com o Banana´s Party, Rovai? Você acha que eles podem conseguir o impeachment de Dilma? Você acha que eles podem fazer os milicos de pijama (ou bananas?) saírem dos seus clubes militares e marcharem em direção ao Congresso?

Claro que não. Até porque o nome do movimento que alcunhei para que eles não fiquem por aí perambulando sem nome já denuncia o que essa turma é. E mais do que isso, qualquer coisa que for liderada por pessoas do nível do Lobão tende a ser no máximo uma piada.

A questão é outra. Creiam, estou preocupado com o PSDB. O partido fundado por pessoas como Mário Covas está se deixando sequestrar pelo mais tacanho conservadorismo e parece não se incomodar mais em ser associado a movimentos que clamam por intervenção militar. Isso é o mais assustador dessa história. Com todas as suas idiossincracias, sempre considerei os tucanos como um partido de liberais democratas. Agora, até isso já é algo a se duvidar.

Ou o partido reage e isola o Banana´s Party, deixando que as ovelhas do Lobão se organizem em torno de um Feliciano ou Bolsonaro ou o PSDB vai ser sequestrado por recrutas que juntam 500 pessoas na frente do Masp, mas que vão levá-lo a um fim desastroso.

O povo, amigos, é muito mais inteligente do que parece. E, entre outras coisas, o que ele rejeitou nas urnas em 26 de outubro foi o ódio. O ódio que escapa por todos os poros da turma do Banana´s Party. O ódio que move Bolsonaros e Felicianos. O ódio que pode fazer bem a extrema direita como projeto político, mas que não era a pedra de toque do PSDB.

Só há uma forma de o PSDB continuar a existir. É dizer claramente à sociedade que rejeita o Banana´s Party. E que condena veementemente suas posições. Ou é isso ou não há mais como não entender o partido como o centro das articulações de um movimento golpista.

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