terça-feira, 6 de outubro de 2015

MÍDIA - A Folha está virando uma Veja.

A revolta da ombudsman contra seu próprio jornal

       
A estratégia deliberada faz a Fel-lha se aproximar da Veja
bessinha mexericos da folha
O Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:


A revolta impotente da ombudsman contra seu próprio jornal


por Paulo Nogueira

Quase senti pena da
última coluna de Vera Guimarães, ombudsman da Folha.

Foi um grito de revolta impotente, uma lamúria atirada num jornal que perdeu o pudor, foi tudo isso muito mais que um mero artigo para analisar o jornal.

Foi, também, uma amostra dos apuros que jornalistas honestos enfrentam hoje em redações dedicadas a minar o pensamento progressista.

Ou você joga este jogo sujo ou está fora.

Vera, pelo menos por enquanto, está garantida pela imunidade temporária que o cargo dá a ela.

O tema da coluna era Eduardo Cunha.

A pergunta central de Vera era a seguinte: como o jornal pudera não dar Cunha na manchete depois que as autoridades suíças revelaram espetacularmente que ele tem várias contas na Suíça abastecidas de dinheiro sujo.

Quer dizer: se aquilo não é manchete, o que é manchete?

Vera conta na coluna que enviou sua perplexidade à chefia da redação. Isto significa Sérgio Dávila, editor-chefe, mas, sobretudo, Otávio Frias, o dono e editor.

A resposta foi constrangedora. O comando admitiu protocolarmente o erro. Mas, essencialmente, nada fez para repará-lo.

É claro que Frias sabe da monstruosidade jornalística que vem sendo a cobertura da Folha ao caso Cunha.

Não é um erro involuntário. É uma estratégia deliberada que faz a Folha se aproximar da Veja, e que a vai tornando irrespirável para jornalistas independentes como Vera ou, como se viu há alguns meses, Xico Sá.

A Folha emergiu para a liderança, nos anos 1980, como um jornal liberal, moderno, no melhor sentido destes dois termos.

Atraiu assim leitores e jovens jornalistas talentosos, que se orgulhavam de dizer: “Sou da Folha de S. Paulo”. (Sim, eles não falam simplesmente “Folha”.)

Agora, é um jornal reacionário, conservador, de direita – e como tal protege descaradamente Eduardo Cunha em nome da causa maior que é derrubar a esquerda. O jornal “a serviço do Brasil” é hoje um jornal a serviço da plutocracia e, neste exato momento, a serviço de Eduardo Cunha.

A Folha tenta preservar as aparências publicando alguns colunistas como Gregório Duvivier e Guilherme Boulos no meio de Reinaldos Azevedos em penca, mas não consegue.

Ou, pelo menos, não para pessoas cultivadas como Vera Guimarães.

Você pode avaliar a mudança de comportamento da Folha pela sua coluna Painel, a principal da área de Política.

Até há duas semanas, o Painel era editado por Vera Magalhães, mulher de um assessor de Aécio, num flagrante conflito de interesses.

Aécio foi constantemente favorecido pelo Painel. A editora só deixou o Painel porque foi convidada para trabalhar – você pode adivinhar onde – na Veja.

Na Veja, conflito de interesses é algo que não existe há muitos anos, com o preço brutal pago pela revista em sua reputação.

Mas na Folha existia.

É difícil construir cultura editorial, mas é facílimo destruí-la, como a Folha vem fazendo e a Veja fez, há um bom tempo já.

Qual a mensagem que chega aos jovens jornalistas – e os melhores são sempre os idealistas – com a atitude do jornal?

A saída estrepitosa de Xico Sá foi um sinal de que a paciência dos jornalistas sérios da Folha chegou ao limite.

O texto-revolta de Vera Guimarães é mais um, e ainda mais forte.

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