Petrobras o maior patrimônio do povo brasileiro está em
perigo
Le
Monde
Setembro 2015
A
grande imprensa burguesa, junto com as empresas multinacionais e grandes bancos
internacionais - especuladores capitaneados pelo PSDB de José Serra, realiza
uma intensa campanha para desmoralizar a Petrobras, rebaixar o preço dos seus
ativos e arrematá-la a preços baixos
N.
GODEIRO*
A
|
entrega da Vale do Rio Doce ao capital
internacional e a quebra do monopólio estatal do petróleo, por Fernando
Henrique Cardoso, revelaram a rendição da burguesia brasileira diante do
imperialismo. Privatização, terceirização, desnacionalização. Três palavras
que resumem duas “decadências"
do Brasil: a quebra de uma potente indústria
nacional e o retorno do país como exportador de produtos primários. Assim, o
Brasil ingressou pela porta dos fundos na nova ordem mundial neoliberal.
0 MAIOR ATAQUE DESDE A QUEBRA DO MONOPÓLIO ESTATAL 00
PETRÓLEO
A Petrobras é o maior patrimônio
do povo brasileiro. Representa 13% do PIB do país. Sozinha, é responsável por
boa parte do desenvolvimento do Brasil. Por isso, é incompreensível a
orientação do governo, ao cortar 37% dos investimentos da Petrobras e vender
metade do seu patrimônio.
O PNG (Plano de Negócios e Gestão
da Petrobras) 2015/2019 determinou: “Rio de Janeiro, 29 de junho de 2015 -
Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras comunica que seu Conselho de Administração
aprovou, no dia 26 de junho de 2015, o Plano de Negócios e Gestão 2015-2019.0
Plano tem como objetivos fundamentais a desalavancagem da Companhia e a geração
de valor para os acionistas. (...) O montante de desinvestimentos em
2015/2016 foi revisado para US$ 15,1 bilhões... O Plano também prevê esforços
em reestruturação de negócios, desmobilização
de ativos e desinvestimentos adicionais,
totalizando US$ 42,6 bilhões em 2017/2018”.
Essa
decisão desmonta a Petrobras e joga a economia na maior recessão desde a década
de 1990.
VENDA DE ATIVOS £ PRIVATIZAÇÃO
O patrimônio líquido da Petrobras
está avaliado em torno de R$ 300 bilhões. O governo do PT pretende vender, em
apenas quatro anos, cerca de R$ 180 bilhões, ou seja, 60% do Sistema
Petrobras.
Quem mais sofre com esse ataque
são os trabalhadores: em meados de 2015, já temos 85 mil demissões, entre
trabalhadores diretos e terceirizados.
O governo Dilma, por meio de Al-
demir Bendini, pretende desmontar a Petrobras para, em seguida, privatizá- -la,
vendendo ativos petrolíferos de grande rentabilidade a preço baixo.
A direção da empresa escolheu o
Bank of America para precificar os ativos do pré-sal que serão
vendidos. Contratou o Itaú-Unibanco para operar a venda da Gaspetro e o Bradesco para orientar
a venda de parte da BR Distribuidora.
Assim,
o governo do PT repete a fórmula fraudulenta da venda da Vale: o Bradesco foi o banco
responsável por precificar a Vale. Determinou a cifra de LJSS 3 bilhões para um
patrimônio que valia US$ 100 bilhões. Assim, o banco foi avaliador e comprador
ao mesmo tempo, motivo suficiente para suspender o processo. Hoje o Bradesco é grande acionista
da Vale.
CAMPANHA PARA DESACREDITAR A PETROBRAS E PRIVATIZÁ-LA
A grande imprensa burguesa, junto
com as empresas multinacionais e grandes bancos internacionais - especuladores -, capitaneados pelo PSDB de José
Serra, realiza uma intensa campanha para desmoralizar a Petrobras, rebaixar o
preço dos seus ativos e arrematá-la a preços baixos.
Com essa campanha, buscam o aumento
do preço dos combustíveis, a fa- bricqção dos componentes da indústria
petrolífera fora do Brasil, a redução drástica de investimentos para pagar a
dívida com grandes bancos internacionais, o desmonte da Petrobras como empresa
integrada de energia para transformá-la em exportadora de óleo cru e
importadora de derivados, a privatização da BR Distribuidora e, por tabela,
ainda querem que os trabalhadores paguem, com seu emprego, o rombo deixado
pelos corruptos.
O
Plano de Negócios 2015/2019 é a capitulação do governo Dilma às multinacionais
e ao PSDB. A demonstração dessa capitulação é o anúncio por parte do governo
Dilma de mais um leilão de áreas de petróleo e gás, em outubro de 2015. Também
está previsto para 2016 um novo leilão na área do pré-sal.
C0M0 SE FABRICA UM “PREJUÍZO”
Parte importante da campanha é a
demonstração de que a Petrobras é uma empresa que dá “prejuízo”. Veja no
Gráfico 1 como ela de repente se torna uma empresa “deficitária”: repentinamente,
apareceu um “prejuízo" líquido de R$ 21,5 bilhões em 2014. Como? A
empresa contabilizou como prejuízo as propinas de 3% sobre todos os contratos
das 27 empresas do cartel da Lava Jato entre 2004 e 2012.
Outra
forma de derrubar a empresa é por meio do “valor de mercado”, determinado por
especuladores internacionais. Veja no Gráfico 2: o “valor de mercado” caiu de
R$ 380 bilhões em 2010 para R$ 128 bilhões em 2014, enquanto o valor patrimon
ial da empresa se manteve o mesmo entre 2010 e 2014.
A VERDADEIRA SITUAÇÃO DA PETROBRAS
A Petrobras é uma das empresas
mais valorizadas do mundo. Tem reservas no subsolo brasileiro ambicionadas
por todas as grandes petrolíferas. Domina a tecnologia em águas profundas e
produz petróleo com custo mais baixo que as multinacionais.
O pré-sal tem um
potencial de reserva da ordem de 300 bilhões de barris, dos quais 60 bilhões
já foram descobertos pela Petrobras. Uma riqueza estimada em US$ 6 trilhões.
Uma simples operação matemática
demonstra quão rentável é a Petrobras: o preço do barril de petróleo no
segundo trimestre de 2015 estava em US$ 61,92, e o de produção do barril pela
Petrobras, em US$ 12,99. Somados a US$ 21 de taxas e impostos, temos um custo
de US$ 33,99 por barril.
Portanto, o lucro por barril é de
US$ 27,93. Multiplicado por 2,13 milhões de barris por dia (que é a produção
diária da Petrobras), o resultado dá US$ 21,7 bilhões de lucro em um ano,
resultado espetacular mesmo com o preço baixo do barril, como está hoje.
O Gráfico 3 também demonstra a
excelente situação da Petrobras: uma empresa que tem um faturamento por
volta de R$ 300 bilhões, lucro
bruto ascendente, lucro operacional (EBITDA) também crescente, revelando que a
vida produtiva da empresa é saudável. Além disso, há aumento da produção de
óleo e de derivados e aumento do consumo de combustíveis no Brasil. Como se vê,
o “prejuízo” se dá nas esferas financeiras e especulativas.
A
Petrobras hoje rivaliza com as Cinco maiores multinacionais do petróleo,
produzindo mais óleo e tendo mais reservas que elas (Exxon, Chevron, Shell, BP
e Total).
AS QUATRO CARAS OA PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRAS
Infelizmente o PT, chegando ao poder
central, continuou com a política privatizadora da Petrobras realizada por
Fernando Henrique Cardoso. O PT optou por governar o Brasil mantendo a
dominação estrangeira e aplicou a velha política de lotear as empresas públicas
para garantir a “governabilidade”.
Para
a Petrobras, essa política significou a continuidade da privatização que se
expressou em quatro aspectos:
1. Leilão é privatização
Em doze anos de leilão (1997 a
2009), o governo FHC concedeu 484 blocos nos cinco primeiros leilões, enquanto
Lula concedeu 706 blocos, reduzindo a parte da Petrobras e aumentando a das
empresas privadas.
O leilão de Libra, em 2014,
entregou para as multinacionais 60% do campo, pagando apenas U$ 3 bilhões por
um patrimônio que vale US$ 300 bilhões. Por isso, o presidente da multinacional
francesa Total, Denis Palluat de Bes- set, classificou a vitória do consórcio
no leilão de Libra como um sucesso formidável: “Para nós o Brasil é importante
e estratégico. Estamos aqui para ficar 100 anos pelo menos".1
Não satisfeito, o senador José
Serra, do PSDB, por meio do PL 131/2015, quer entregar 100% do subsolo brasileiro
às multinacionais, piorando o regime de partilha, que já é ruim, pois coloca
70% do nosso petróleo à disposição das multinacionais, com alta lucratividade
e risco zero. Ainda assim, a atual Lei de Partilha mantém a
Petro- bras como operadora única e detentora de 30% de toda a produção, dois
aspectos que Serra quer mudar para pior.
Tanto
os leilões quanto a quebra do monopólio estão em contradição com a dinâmica da
indústria do petróleo mundial: hoje, 90% das reservas de petróleo estão nas
mãos de estatais, assim como três quartos da produção mundial de óleo.
- Terceirização é privatização
A Petrobras é a empresa que mais utiliza
terceirização
de serviços no Brasil. No governo de Fernando Henrique,
eram 120 mil funcionários terceirizados. Nos
dois governos Lula, esse número subiu para 300 mil e chegou a 360 mil na gestão
Dilma.
Esses
trabalhadores são superex- plorados, ganham cerca de 20% dos
rendimentos do trabalhador direto da Petrobras e são vítimas da maioria dos
acidentes fatais. Boa parte deles está atuando em atividades-fim da empresa.
Em dezembro de 2014, 291 mil trabalhadores eram terceirizados (78%
da mão de obra) e apenas 80 mil eram funcionários diretos (22%). Ademais, a terceirização é a
porta de entrada da corrupção, como está comprovado na Operação Lava Jato.
- AdesnacionaUzaçãoda Petrobras
De acordo com o Relatório da Administração
da Petrobras 2014, a propriedade do capital total social da Petrobras se dividia
em abril de 2015, com 54% sob posse privada, a maior parte de origem
estrangeira (36% do total): Bank of New York Mellon, BNP, Gap, Credit Suisse,
Citibank, HSBC, J.P. Morgan, Santander, BlackRock. Ao governo cabiam os demais
46%.
Uma
pesquisa para averiguar os donos desses bancos leva às duas
famílias mais
ricas do capitalismo mundial: Rockefeller e
Rothschild. Isso significa que a maior parte dos lucros da Petrobras serve ao
enriquecimento de bancos internacionais, e não para reinvestir na própria
empresa, obrigando a companhia a se endividar.
- O alto endividamento da Petrobras com os bancos internacionais
A Petrobras tem uma dívida de
R$ 319 bilhões, representando o valor da produção de cinco anos da empresa.
Esse alto endividamento gera uma bola de neve, obrigando a companhia a exportar
óleo cru barato para arrecadar dólares e pagar a dívida - um círculo vicioso e
destrutivo.
Esse
crédito deveria ser garantido pelo BNDES. Porém, mais uma
vez inexplicavelmente, o Banco Central, dirieido Delo PT.
Droibiu o BNDES de der a companhia, pararia de emprestar somas bilionárias aos
grandes empresários nacionais e internacionais para bancar o crescimento da
estatal.
A ESTRATÉGIA NEOLIBERAL PARA 0
BRASIL: GRANDE EXPORTADOR DE ÚLE0 CRU
Desde o governo Fernando Henrique
o refino no Brasil foi secundariza- do. Essa foi a forma que o neoliberalis- mo
encontrou para quebrar a indústria nacional e importar refinados caros dos
países ricos. Ficamos 35 anos sem construir uma refinaria. Isso mudou em 2004,
no governo Lula, que projetou a construção de quatro, mas agora retrocedeu,
como se pode ver pela declaração da própria Petrobras no Relatório da
Administração de 2014: “Recentes circunstâncias levaram nossa Administração a
revisar nosso planejamento e implementar ações para preservar o caixa e
reduzir o volume de investimentos. Por meio desse processo, optamos por
postergar os seguintes projetos: Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj) e segundo trem de refino da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). Refinarias
Pre- mium: em janeiro de 2015, decidimos encerrar os projetos de investimento
para a construção das refinarias Pre- mium I e Premium II”.
Essa estratégia jogará o Brasil
numa encruzilhada: em 2023 poderemos produzir cerca de 5 milhões de barris de
petróleo por dia e teremos uma capacidade de refino de apenas 2,6 milhões.
Isso significa que o país se tornará grande exportador de óleo cru, barato, e
grande importador de derivados, caros.
É um tiro no pé.
O
Brasil toma o caminho oposto ao dos Estados Unidos, que proíbem a exportação
de petróleo e obrigam a refiná-lo no próprio país. O déficit da
balança comercial de combustíveis em 2014 foi de US$ 15 bilhões. Exportamos
óleo cru barato e importamos derivados 35% mais caros.
Essa perda
de US$ 15 bilhões corresponde ao preço de uma
refinaria por ano. Esse é o resultado da estratégia iniciada por FHC, na
década de 1990, e continuada pelos governos petistas.
A DOMINAÇÃO DAS MULTINACIONAIS
SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA
Esse ataque à Petrobras é parte
da neocolonização do Brasil, na qual as multinacionais dominam os principais
ramos da indústria brasileira, como o automobilístico (100%), ele-
troeletrônico (92%), autopeças (75%), telecomunicações (74%), farmacêutico
(68%), indústria digital (60%), bens de capital (57%) etc., segundo a revista Exame, Maiores e Melhores de 2012.
Também
se operou uma transformação da economia brasileira: de uma forte indústria até a década
de 1980 e grande exportador de produtos industrializados, nos transformamos em
grande exportador de produtos primários. Exportamos muito minério de ferro e
importamos trilhos de trem a preços sete vezes maiores que a matéria-prima
enviada ao exterior. Somos os maiores produtores de carne bovina do mundo e
não temos mais como comprar carne no supermercado. É a volta da antiga economia
colonial.
CONCLUSÃO
Só a mobilização do povo brasileiro,
especialmente dos trabalhadores, pode barrar a venda de ativos da Petrobras
realizada por Dilma/Bendini e derrotar o PL do senador José Serra. É hora de unir todos na luta
em defesa de Petrobras como empresa integrada de energia, 100% estatal, pela volta dc
monopólio estatal, pelo fim dos leilões.
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