segunda-feira, 27 de abril de 2015

PETROBRAS - Inaugurada a "teoria do domínio do boato"



 FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS PROTESTA EM FRENTE A PETROBRAS NO RIO.A Petrobras e o domínio do boato

Com um histórico recheado de escândalos bilionários, que autoridade e credibilidade moral e profissional tem a PricewaterhouseCoopers para auditar a Petrobras?

Os jornais foram para as ruas, na última semana, dando como favas contadas um prejuízo de 6 bilhões de reais na Petrobras, devido a casos de corrupção em investigação na Operação Lava Jato. Seis bilhões de reais que não existem. E que foram colocados no “balanço”, como os bancos recorrem, nos seus, a provisões, por exemplo, para perdas com inadimplência, que, quando não se confirmam, são incorporadas a seus ativos mais tarde.
Não há – como seria normal, aliás, antes de divulgar esse valor – por trás destes 6 bilhões de reais, uma lista de contratos superfaturados, dos funcionários que participaram das licitações envolvidas, permitindo que se produzissem as condições necessárias a tais desvios, dos aditivos irregularmente aprovados, das contas para as quais esse montante foi desviado, dos corruptos que supostamente receberam essa fortuna.
O balanço da Petrobras, ao menos quanto à corrupção, foi um factoide. Um factoide de 2 bilhões de dólares que representa o ponto culminante de uma série de factoides produzidos por um jogo de pressões voltado para encontrar, doa a quem doer, chifre em cabeça de cavalo.
Houve corrupção na Petrobras? Com certeza, houve.
Houve necessariamente superfaturamento e prejuízo com a corrupção na Petrobras?
Isso seria preciso provar, onde, quando e como.
E o pior de tudo, é que a maior empresa brasileira apresentou esses resultados baseada, e pressionada, por uma questionável “auditoria”, realizada por uma, também, discutível, companhia estrangeira.
Segundo divulgado em alguns jornais, a empresa de auditoria norte-americana PricewaterhouseCoopers teria feito uma série de exigências para assinar, sem ressalvas, o balanço da Petrobras, estabelecendo um patamar para a perda com “impairment” e corrupção muito maior que a real, baseada, nesse último aspecto, não em dados e informações, mas em números apresentados inicialmente por delatores, tomados como verdade indiscutível, quando vários destes mesmos delatores “premiados” negaram, depois, em diversas ocasiões, peremptoriamente, a existência de superfaturamento.
Essa é uma situação que, se fosse reconhecida no balanço, lançaria por terra a suposta existência de prejuízos de bilhões de dólares para a Petrobras com os casos investigados na Operação Lava-Jato, e ainda mais na escala astronômica em que esses números foram apresentados.
Que autoridade e credibilidade moral e profissional tem a PricewaterhouseCoopers para fazer isso?
Se a Petrobras, não tivesse, premida pela necessidade de responder de qualquer maneira à situação criada com as acusações de corrupção na empresa, sido obrigada a contratar empresas estrangeiras, devido à absurda internacionalização da companhia, iniciada no governo FHC, nos anos 90, e tivesse investigado a história da PwC, que contratou por milhões de dólares para realizar essa auditoria pífia – que não conseguiria provar as conclusões que apresenta – teria percebido que a PwC:
é uma das principais empresas responsáveis pelo escândalo dos Luxemburgo Leaks, um esquema bilionário de evasão de impostos por multinacionais norte-americanas, que causou, durante anos, um rombo de centenas de bilhões de dólares para o fisco dos EUA, que está sendo investigado desde o ano passado;
é a companhia que está por trás do escândalo envolvendo a Seguradora AIGem 2005;
que está relacionada com o escândalo de fraude contábil do grupo japonês Kanebo, ligado à área de cosméticos, que levou funcionários da então ChuoAoyama, parceira da PwC no Japão, à prisão;
com o escândalo da liquidação da TycoInternational, Ltd, no qual a  PricewaterhouseCoopers teve de pagar mais de 200 milhões de dólares de indenização por ter facilitado ou permitido o desvio de 600 milhões de dólares pelo Presidente Executivo e o Diretor Financeiro da empresa; com o escândalo da fraude de 1.5 bilhão de dólares daSatyam, uma empresa indiana de Tecnologia da Informação, listada na NASDAQ;
foi também acionada por negligência profissional no caso dos também indianos Global Trust Bank Ltd e DSK Software;
e também no caso envolvendo acusações de evasão fiscal do grupo petrolífero russo Yukos;
por ter, em trabalho de auditoria, feito exatamente o contrário do que está fazendo no caso da Petrobras, tendo ficado também sob suspeita, na Rússia, de ter acobertado um desvio de 4 bilhões de dólares na construção de um oleoduto da Transneft;
foi acusada por não alertar para o risco de quebra de empresas que auditava e assessorava, como a inglesa Northern Rock, que teve depois de ser resgatada pelo governo inglês na crise financeira de 2008;
e no caso da JP Morgan Securities, em que foi multada pelo governo britânico;
está ligada ao escândalo da tentativa de privatização do sistema de águas de Nova Délhi, que levou à retirada de financiamento da operação pelo Banco Mundial;
e também criticada por negligência em trabalhos de auditoria na Irlanda, país em que está sendo processada em um bilhão de dólares.
Enfim, a  PricewaterhouseCoopers é tão séria – o que com certeza coloca em dúvida a qualidade de certos aspectos do balanço da Petrobras – que, para se ter ideia de sua competência, o  PublicCompanyAccountingOversightBoard dos Estados Unidos encontrou, em pesquisa realizada em 2012, deficiências e problemas significativos em 21 de 52 trabalhos de auditoria realizados pela PwC para companhias norte-americanas naquele ano.
É este verdadeiro primor de ética, imparcialidade e preparo profissional, que quer nos fazer crer – sem apresentar um documento – que de cada 100,00 reais gastos com contratações de 27 empresas de engenharia e infraestrutura pela Petrobras, 3,00 tenham sido automaticamente desviados, durante vários anos, como se uma empresa com aproximadamente 90.000 funcionários funcionasse como uma espécie de linha de montagem, para o carimbagem automática, com uma comissão de 3%, de milhares de notas a pagar, relativas a quase 200 bilhões de reais em compras de produtos e serviços.
Desenvolveu-se, no Brasil, a tese, de que, para que haja corrupção, é preciso que tenha havido sempre, necessariamente, desvio e superfaturamento.
Há empresas que fornecem produtos e serviços a condições e preço de mercado, quem nem por isso deixam de agradar e presentear com benesses que vão de cestas de natal a computadores o pessoal dos departamentos de compra e outros funcionários de seus clientes.
Há outras que convidam para encontros e viagens no exterior os médicos que receitam para seus pacientes medicamentos por elas fabricados. E outras, ainda, que promovem – ou já promoveram no passado – em outros países, congressos para funcionários públicos, como prefeitos, deputados e membros do Judiciário.
O montante ou o dinheiro reservado para esse tipo de “agrado” – que moralmente, para alguns, não deixa de ser uma espécie de corrupção – depende, naturalmente, do lucro que vai ser aferido pela empresa em cada negócio, e do tamanho e potencial de investimento e gasto do cliente que está sendo atendido.
Em depoimento na CPI da Petrobras esta semana, o ex-dirigente da empresa ToyoSetal, Augusto Mendonça Neto, afirmou que pagamentos foram feitos a Paulo Roberto Costa e a Renato Duque, responsáveis pelas diretorias de Refino e Abastecimento e de Serviços, não para que eles alcançassem um determinado objetivo – manipulando contratos e licitações, por exemplo – mas para que não prejudicassem as empresas, já que, em suas palavras: “o poder que um diretor da Petrobras tem de atrapalhar era enorme. De ajudar, é pequeno. Na minha opinião, eles vendiam muito mais dificuldade do que facilidade. Na minha opinião, as empresas participavam muito mais por medo do que por facilidades. ”
Outro delator – devido, talvez, à impossibilidade de provar, inequivocamente, contabilmente, juridicamente, o contrário – o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, já havia voltado atrás, em petição apresentada no dia 9 de abril à Justiça – corroborando afirmações das próprias empreiteiras envolvidas – afirmando que as obras investigadas na Operação Lava-Jato não eram superfaturadas, e que as comissões de 3% eventualmente recebidas eram retiradas do lucro normal das empresas e não de sobre preço, negando que ele e Alberto Youssef tenham recebido listas com as obras e empresas que seriam vencedoras em cada licitação.  “Isso nunca aconteceu”, disse o seu advogado, João Mestieri, à Folha de São Paulo.
A mesma coisa já tinha sido explicada, didaticamente, em depoimento à CPI da Petrobras, pelo  ex-gerente de implementação da Refinaria Abreu e Lima, Glauco Colepicolo Legatti, no dia 31 de março, ocasião em que negou que tivesse recebido propina, que tivesse qualquer conta no exterior, que tivesse feito transferência recente de qualquer bem para parentes, dando a atender também que poderia colocar seu sigilo bancário à disposição se fosse necessário.
Legatti negou peremptoriamente que tenha havido sobrepreço nas obras da refinaria, explicou o aumento dos custos da obra devido a adequações de projeto e a características como ser a mais avançada e moderna refinaria em construção no mundo, com uma concepção tecnológica especialmente desenvolvida que permite a inédita transformação de 70% de cada barril de petróleo bruto em óleo diesel, e que ela produzirá, quando terminada, 20% desse tipo de combustível consumido no Brasil – “não tem superfaturamento na obra. Superfaturamento é quando digo que algo custa 10 e vendo por 15. Aqui são custos reais incorridos na obra. Não tem um centavo pago que não tenha um serviço em contrapartida. Não existe na refinaria nenhum serviço pago sem contrapartida ”, afirmou.
Compreende-se a necessidade que a Petrobras tinha de “precificar” o mais depressa possível a questão da corrupção, admitindo que, se tivesse havido desvios em grande escala, estes não teriam passado, no máximo, como disseram dois delatores premiados inicialmente, de 3% do valor dos contratos relacionados ao “cartel” de empresas fornecedoras investigadas.
Mas com a aceitação da tese de que houve desvio automático desse mesmo e único percentual em milhares de diferentes contratos sem comprovar, de fato, absolutamente nada, sem determinar quem roubou, em qual negócio, em que comissão, em que contrato, em qual montante, a Petrobras e a PricewaterhouseCoopers levaram os jornais, a publicar, e a opinião pública a acreditar, que realmente houve um roubo de 6 bilhões de reais na Petrobras, que gerou um prejuízo desse montante para a empresa e para o país.
Isso é particularmente grave, porque, para as empresas, a diferença entre a existência ou não de sobrepreço, significa ter ou não que pagar bilhões de reais em ressarcimento, no momento em que muitas estão praticamente quebrando e tiveram seus negócios interrompidos, devido às consequências institucionais da operação que está em andamento.
Para se dizer que houve um crime, é preciso provar que tipo de crime se cometeu, a ação que foi desenvolvida, quem estava envolvido e as exatas consequências (prejuízo) que ele acarretou.
Até agora, no Caso Lava-Jato – que inicialmente era cantado e decantado como envolvendo quase 90 bilhões de reais – não se chegou a mais do que algumas centenas de milhões de dólares de dinheiro efetivamente localizado.
O que não quer dizer que tudo não tenha de ser apurado e punido, até o último centavo.
Essa determinação, que é de toda a sociedade brasileira, não consegue, no entanto, esconder o fato de que, ao inventar, sob pressão de alguns setores da mídia, da opinião pública e da justiça, o instituto da corrupção plural e obrigatória, com percentual tabelado, prazo determinado em número redondo de anos e meses, para início e fim das atividades, em operações que envolvem milhares de contratos de 27 diferentes empresas, a Petrobras e a Price criaram uma pantomímica, patética e gigantesca fantasia.
Pode-se colocar toda a polícia, promotores e juízes que existem, dentro e fora do Brasil, para provar, efetivamente, esse fantástico roubo de 6 bilhões de reais, investigando contrato por contrato, comissão de licitação por comissão de licitação, entrevistando cada um de seus membros, procurando apenas provas lícitas, cabais e concretas, como transferências reais de dinheiro, contas no exterior em bancos suíços e paraísos fiscais, quebra de sigilo telefônico, imagens de câmeras de hotéis e restaurantes, indícios de enriquecimento ilícito, interrogatórios e acareações, ressuscitando e dando vida aos melhores detetives de todos os tempos, de Sherlock Holmes a Hercule Poirot, passando pelo Inspetor Maigret, Nero Wolfe, Sam Spade, Phillip Marlowe, a Miss Marple de Agatha Cristie e o frade William de Baskerville de O Nome da Rosa, que não se conseguiria provar – a não ser que surjam novos fatos – que houve esse tipo de desvio na forma, escala, dimensão e montante apresentados no balanço da Petrobras há poucos dias.
Delações premiadas – nesse aspecto, já desmentidas – podem ser feitas no atacado, afinal, bandido, principalmente quando antigo e contumaz, fala e inventa o quer e até o que não quer.
Mas até que se mude de planeta, ou se destruam todos os pergaminhos, alfarrábios e referências e tratados de Direito, sepultando a presunção de inocência e o império da prova e da Lei no mesmo caixão desta República, toda investigação tem de ser feita, e os crimes provados, individualmente.
Com acuidade, esforço e compenetração e sem deixar margem de dúvida.
Todos os crimes, e não apenas alguns.
À base de um por um, preferencialmente.
Com o caso do “mensalão” do PT – o único dos “mensalões” julgado até agora – inaugurou-se, no Brasil, a utilização da teoria do Domínio do Fato, de forma, aliás, absolutamente distorcida, como declarou, a propósito desse processo, o seu próprio criador, o jurista alemão ClausRoxin.
Ele afirmou, em visita ao país, na época do julgamento da Ação penal 470, que “ não é possível usar a teoria do Domínio do Fato para fundamentar a condenação de um acusado supondo sua participação apenas pelo fato de sua posição hierárquica. “A pessoa que ocupa a posição no topo de uma organização tem também que ter comandado esse fato, emitido uma ordem inequívoca” – afirmando que o dever de conhecer os atos de um subordinado não implica em corresponsabilidade.
“A posição hierárquica não fundamenta, sob nenhuma circunstância, o domínio do fato”, comentando que “na Alemanha temos o mesmo problema. É interessante saber que aqui também há o clamor por condenações severas, mesmo sem provas suficientes. O problema é que isso não corresponde ao Direito. O juiz não tem que ficar ao lado da opinião pública”. “Quem ocupa posição de comando tem que ter, de fato, emitido a ordem. E isso deve ser provado”.
O que quis dizer Claus Roxin com isso? Que, para que haja “domínio do fato’, é preciso comprovar, de fato, que esse fato houve.
Com a saída meramente aritmética usada no balanço da Petrobras, baseada em uma auditoria de uma empresa estrangeira que, na realidade, pelos seus resultados, parece não ter tecnicamente ocorrido, inaugura-se, no Brasil, para efeito do cálculo de prejuízos, uma outra anomalia, a da “teoria do domínio do boato”.

MÍDIA - 50 anos da Globo.

Retrospectiva 50 anos tenta exorcizar fantasmas da TV Globo através do "tautismo"

Competentes jornalistas como Caco Barcelos e Ernesto Paglia colocados frente a frente numa mistura de “Roda Viva” da TV Cultura com o “Galeria dos Famosos” do Domingão do Faustão. E todos confrontados com suas imagens do passado (mais novos, mais magros e com mais cabelos) na expectativa de que depois a câmera em close arranque algum tipo de emoção dos experientes profissionais. A retrospectiva “Jornal Nacional – 50 Anos de Jornalismo”, projeto idealizado pelo apresentador William Bonner (ansioso e sempre meneando a cabeça na tentativa de exorcizar os fantasmas da história da TV Globo), mostra de forma didática em seus cinco episódios o que foi o início e o que será o fim da hegemonia da emissora: o modelo melodramático de jornalismo que ajudou a encobrir informações no auge da ditadura e o tautismo (tautologia + autismo) atual como manobra desesperada para sobreviver aos novos tempos de queda de audiência.

Quando fazia a faculdade de jornalismo lá pelo início da década de 1980, minha geração via na TV Globo uma referência negativa para qualquer estudante que iniciava a carreira. Brincávamos com o tique melodramático dos repórteres que buscavam muito mais os sentimentos do entrevistado do que depoimentos objetivos da realidade. “O que você está sentindo?...”, era a pergunta clichê feita para a vítima de uma enchente no Sul do País naquele momento, com água até a cintura, dirigida por um repórter da Globo em uma canoa, protegido por uma capa de chuva e o rosto consternado.

Torres da Embratel: dinheiro
público para distribuir
sinal privado
              Esse traquejo em destacar a emoção no lugar da objetividade certamente foi a resultante de uma emissora de TV que cresceu em meio e através da ditadura militar nos anos 1970: numa mídia visual que mantinha uma relação tão simbiótica com o regime militar (o Jornal Nacional cresceu na esteira da estatal Embratel com torres repetidoras espetadas por todo o País com dinheiro público para a transmissão de sinal privado), o viés sentimentalista e melodramático era a estratégia de ao mesmo tempo mostrar e sonegar informações.

Pois a série retrospectiva do Jornal Nacional, dentro das comemorações dos 50 anos da emissora, não perdeu esse traquejo ao expor brilhantes jornalistas como Caco Barcelos, Ernesto Paglia e Sandra Passarinho a um programa com o mesmo espírito do quadro “Galeria dos Famosos” do Domingão do Faustão: vemos em todos os episódios a insistente confrontação das imagens de época dos jornalistas (mais jovens, mais magros e com mais cabelos), para depois cortar e enquadrar em close o jornalista na atualidade, como que tentando arrancar algum olhar marejado de lágrimas ou uma expressão qualquer de emoção- para assistir à série retrospectiva do JN clique aqui.

Constrangimento e tautismo


O mote do projeto de William Bonner é mostrar a “emoção” e o “lado humano” dos profissionais que trazem as notícias para os telespectadores todas as noites. Mas tudo que conseguiu foi confirmar esse traquejo sentimentalista cultivado desde os tempos da ditadura e o tautismo (tautologia + autismo) atual da emissora – sobre esse conceito clique aqui.

               O resultado foram olhares constrangidos, cabisbaixos e sorrisos amarelos dos experiente jornalistas globais a cada close. A exceção foi Caco Barcelos que, confrontado com a sua imagem de início de carreira e a apresentação com falsa intimidade de William Bonner (“Temos aqui Caco Barcelos, maaagrooo!), rebateu contextualizando sua foto: “e lá atrás uma manifestação, a periferia como sempre...”, fazendo contraponto à rasgação de seda metalinguística reinante.



Esse traquejo sentimentalista que anima o projeto idealizado por Bonner entra em contradição direta com a tentativa da emissora nas suas comemorações de 50 anos de tentar  descolar as suas origens da ditadura militar – afinal, a insistência em apresentar a emoção no lugar da informação foi a principal estratégia da TV Globo para censurar informações ao descontextualizar a própria notícia.

A insistência de Bonner em querer demonstrar que a TV Globo foi vítima da censura criou situações involuntariamente engraçadas, como no momento em que Glória Maria relatou que dentro das redações da emissora havia uma lista de temas proibidos de serem abordados. Ansioso (demonstrado pela insistência com que meneia a cabeça a cada fala), Bonner rapidamente interveio: “lista criada pelos censores...”, certamente temendo a ambiguidade do depoimento da jornalista, um verdadeiro ato falho que apenas revela a própria autocensura que Roberto Marinho impôs dentro do espírito de apoio à “revolução de 1964” – de resto, confirmado pelo editorial do próprio no Jornal O Globo na “comemoração” dos 20 anos da “revolução”: “Temos sido fiéis aos seus objetivos...”, escreveu Marinho - sobre isso clique aqui.


Também é sintomático o breve depoimento gravado de Armando Nogueira (1927-2010). Responsável pela implantação do telejornalismo da emissora e diretor por 25 anos, Nogueira parece ter se queimado desde o depoimento dado no documentário inglês Brasil: Muito Além do Cidadão Kane  nos anos 1990 onde detonou a manipulação no Jornal nacional na edição do debate entre Collor e Lula em 1989.


Na retrospectiva, Bonner qualificou esse episódio como “erro” de um telejornalismo que ainda aprendia a “viver na democracia”. Mas, pelo que demonstrou a série idealizada por ele, a emissora ainda não aprendeu sua lição: o “espírito de 1964” ainda assombra um ex-estudante egresso da ECA/USP e que fez a sua sorte nos corredores da TV Globo.

A "revolução epistemológica" de William Bonner


Mas a série retrospectiva do Jornal Nacional também demonstrou o desespero tautista de uma emissora que vislumbra o seu próprio abismo: a chegada do Instituto de pesquisas alemão GfK que confrontará os números de sempre do Ibope e o crescimento das tecnologias de convergência (Internet e dispositivos móveis), ameaças reais a sua hegemonia.

              Por isso, a retrospectiva do JN não se dirigiu aos telespectadores que acompanharam o crescimento da emissora – esses já sabem de todos os seus pecados. Bonner se voltou aos jovens, numa tentativa de recriar uma história da emissora mais leve e sem culpas.



Nessa tentativa desesperada, Bonner criou uma verdadeira revolução epistemológica tautista: a Globo não foi testemunha ocular da História - ao contrário, a História só quis criar notícias para que a TV Globo as transmitisse! E tudo acompanhado pela música grandiloquente que abre e fecha os episódios da retrospectiva.

Por algum destino manifesto, a História supostamente sempre permitiu aos repórteres da Globo exclusividade e pioneirismo. As imagens exclusivas da Globo do Projeto Apollo da NASA, a deferência como o técnico da Itália Enzo Bearzot tratou em toda Copa de 1982 o repórter Ernesto Paglia, a amizade exclusiva de Galvão Bueno com Airton Senna, a forma como praticamente a emissora salvou a cidade do Rio de Janeiro nas enchentes de 1966, a emissora que virou notícia de si mesma com o sequestro de William Waack por forças de segurança de Saddam Hussein na Guerra do Golfo etc.

A História cria notícias para a Globo transmiti-las
com exclusividade
          O mais sintomático foi a crônica do impeachment do presidente Nixon em 1974 escrita por Jorge Pontual que demonstra esse auto-centrismo da TV que vê a realidade a partir de seus próprios termos: “Captamos as imagens de Nixon como um ator antes de novela, como um político que fez sua carreira dominando a televisão e, às vezes, sendo vencido por ela.”. Mais uma vez a História permitiu exclusividade à Globo com as oportunas imagens de bastidores de Nixon antes de anunciar ao vivo pela TV sua renúncia.

Repetição e metalinguagem


Esse destino manifesto parece acompanhar a Globo desde o início nos anos 1960, como revela a platitude dita por Fátima Bernardes sobre as imagens de Rogério Gomes (o “Papinha”) no centro de controle da NASA em 1969: “Está tudo lá o que fazemos até hoje - próximo ao fato e apontando para quem está em casa o que ele está vendo”.

Somando a outra máxima bombástica, dessa vez dita por Glória Maria, de que “devemos acreditar em tudo” e que, por isso, “no Jornalismo não existem dúvidas, existem confirmações” (sabe-se lá o que quis dizer com esse raciocínio sinuoso...), a série de retrospectivas do JN comprova a atual tendência tautista da TV Globo como estratégia desesperada pela manutenção do monopólio midiático e publicitário – o exercício repetitivo de metalinguagem de uma emissora que insiste em demonstrar que supostamente cumpre algum tipo de vocação ou destino histórico e a percepção autista de que a História só se manifesta onde estão os repórteres e as câmeras da TV Globo. 

Por isso, assistir aos cinco episódios dessa retrospectiva do JN tornou-se obrigatório para qualquer estudante de mídia: estão ali de forma didática o início e o fim da hegemonia da TV Globo – o sentimentalismo que ajudou a encobrir as informações no auge da ditadura e o tautismo como manobra desesperada em adiar o fim do seu “destino manifesto”.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

PETROBRAS - O pós balanço.


O mercado volta a sorrir para a Petrobras


Há diversas técnicas de análise dos movimentos de bolsa.
A mais técnica é a chamada análise fundamentalista, que se concentra nos fundamentos objetivos das companhias e dos mercados. Há diversas outras técnicas visando captar os chamados movimentos de manada. Algumas valem-se de teses matemáticas avançadas, supondo que os movimentos, mesmo irracionais, seguem alguma lógica identificada por fórmulas padrão.
No fundo, as regras são simples:
  1. Há operadores de primeiro time, não só antenados com os movimentos da economia e da política, como com os fundamentos dos ativos em que investem.
  2. Como possuem bala na agulha, conseguem alavancar os movimentos de alta ou de baixa dos ativos provocando o chamado "overshooting", isto é, a radicalização de cada movimento. E como são bons fundamentalistas, tem uma noção de qual será o ponto de equilíbrio do ativo, passada a fase manada.
  3. Entram no efeito manada investidores internos mas, principalmente, externos pouco enfronhados nos bastidores da economia e da gestão das empresas. Grande parte desses investidores movem-se exclusivamente pelo noticiário da mídia.
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É por aí que se entendem os movimentos em torno da Petrobras, primeiro perdendo valor, quase virando pó, depois se recuperando à medida em que se aproximava a data da publicação do seu balanço - incluindo as tais perdas com a corrupção identificada na Lava Jato.
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De concreto, a empresa enfrentou um conjunto de fatores negativos.
Primeiro, a queda nas cotações de petróleo, afetando sua rentabilidade.
Depois, o período de compressão dos preços dos combustíveis, simultaneamente ao aumento dos seus investimentos no pré-sal, obrigando-a a um pesado processo de endividamento.
Finalmente, os escândalos mostrando problemas sérios de governança, tudo isso agravado pela inexplicável demora do governo Dilma em efetuar mudanças na diretoria, para zerar o passado.
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Por outro lado, não havia como ignorar o sucesso da empresa com a tecnologia de águas profundas, o aumento consistente da produção de petróleo e as vantagens de uma cadeia integrada entre produção, refino e distribuição.
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A indicação de Aldemir Bendini, ex-presidente do Banco do Brasil, para presidir a Petrobras foi o primeiro acerto de Dilma. A Petrobras tem quadros de excelência para formular a visão estratégica da companhia, o desenvolvimento tecnológico e a exploração racional do pré-sal.
Faltava-lhe o know how de governança interna, a engenharia financeira para equacionar as dívidas e o conhecimento necessário para resolver os problemas de balanço - justamente as competências desenvolvidas por Bendini no BB.
Os campeões da Bolsa exploraram a falta de conhecimento dos demais investidores jogando as ações da Petrobras para baixo quando anunciado o nome do novo presidente.
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Agora, miraculosamente, tudo está sendo resolvido. O mercado recuperou o bom humor, atribuindo a mudança à bem sucedida apresentação do Ministro da Fazenda Joaquim Levy para investidores internacionais. Clareia-se o horizonte para os investimentos externos.
É provável que hoje caiam as ações da Petrobras, devido à chamada realização de lucros. Depois, se fixarão em um patamar compatível com os fundamentos atuais da companhia.
Atendido o mercado, falta agora apenas o essencial: um plano de vôo para o segundo governo Dilma.

POLÍTICA - O Alckmin que se cuide. O Serra vem aí.




Márcio Aith, o esquema Serra no governo Alckmin

Quando assumiu o governo do Estado, a primeira providência de Geraldo Alckmin foi acabar com o esquema José Serra no governo, um aparelhamento amplo que produziu desastres em várias áreas, como na USP, Instituto Butantã.
 
Mas levou o adversário para dentro do Palácio, com a manutenção de Márcio Aith na Subsecretaria de Comunicação. Lá, valendo-se do pouco conhecimento do grupo de Alckmin com as redes sociais, Aith deu início ao fortalecimento do esquema Serra na Internet - contando, para tanto, com recursos do próprio governo do Estado.
 
Serra conseguiu fincar pé no Sebrae-SP, graças à parceria com Guilherme Afif Domingos, Ministro de Dilma. Afif, que se notabilizou pelo Impostômetro, permitiu a Serra utilizar recursos públicos para lotear o Sebrae de ativistas digitais - colocados no lugar de consultores de gestão, que foram demitidos. Nesse terreno, o homem de Serra foi Bruno Caetano, que trabalhava na Secretaria de Comunicação como o próprio Aith.
 
Outro pé foi fincado na Fundap, onde Geraldo Biasoto, um indicado de Serra conseguiu alocar vários ativistas digitais.
 
De seu lado, Aith não apenas manteve a rede Serra financiada pelo Estado como procurou ampliá-la atuando no meio de jornalistas com visibilidade pública.
 
Não se imagine que um mero blogueiro de escândalos, sem reputação pública, com um alcance apenas junto ao lixo das redes sociais, custe R$ 70 mil mensais. Debaixo dessa quantia são abrigados peixes maiores, mas que não podem aparecer nem para seus financiadores: o governo Alckmin.
 
Se Alckmin providenciar uma devassa nesses contratos, entenderá a verdadeira Arca de Noé que está financiando para seu adversário, Serra.
 
Esse tipo de rede ganha vida própria. Não é uma Fundação Padre Anchieta que, basta mudar o presidente, para se ter o controle do conteúdo. O conjunto de sites e blogs se auto-alimentam garantindo a audiência e ganhando vida própria. 
 
Por enquanto, o jogo consiste em atacar o PT e o governo Dilma. Mais à frente, quando a disputa se deslocar internamente para o PSDB, o alvo passará a ser Alckmin, principalmente se a candidatura Serra mostrar alguma viabilidade política. Bastará mudar o financiador da rede Aith. E Serra tem bastante bala na agulha para sustentar a rede.
 
É a Serra - e a Aith - que esses blogueiros respondem.

PETROBRAS - A Globo e o "irrealtime".

Contra a Petrobras, O Globo faz matéria “da semana passada”. É o “irrealtime”

  Autor: Fernando Brito
adr
O ódio histórico de O Globo à Petrobras faz o jornal “bufar”, hoje, contra a empresa, no dia em que finalmente ela cumprirá a exigência de apresentar seu balanço auditado de 2014.
Parte do óbvio – a perda de valor das ações da Petrobras – para retratar um clima de pessimismo com a empresa que já não corresponde ao comportamento do mercado financeiro.
Arbitra datas para comparar valor e usa, para isso, os números de uma semana atrás.
Que a Petrobras perdeu – e muito – valor no mercado acionário é uma obviedade.
A questão é se a empresa, neste momento, aponta uma tendência de queda ou de alta, claro que muito além das variações diárias.
A Petrobras e quase  todas empresas brasileiras tiveram perdas na bolsa de Nova York, por várias razões mas, em comum, pela desvalorização cambial de 12% registrada este ano, e que teve neste período picos bem maiores.
Mas, como você pode ver na tabela que ilustra o post, as ações ordinárias da Petrobras foram, entre as brasileiras, as que melhor desempenho tiveram desde o início do ano. É claro que isso reflete mais a sua péssima situação ao final do ano do que qualquer outra coisa, mas também indica que a tendência é de recuperação.
Todas as grandes petroleiras perderam valor em um ano, pela simples e óbvia razão de que seu produto, o petróleo, apresentou uma queda abissal.
A Petrobras, é verdade, foi a que mais perdeu, contado de 22 de abril passado: 38,75%. Este índice precisa, entretanto, ser colocado diante dos das demais petroleiras: a Eni, italiana, baixou 30%; a russa Gazpron perdeu 24%; a francesa Total, 23%; a Shell, 18%; as americanas Exxon e Chevron, 13 e 11%, respectivamente.
Até a Standard & Poors, a agência de classificação de risco mais “feroz” para com a Petrobras, divulgou ontem nota dizendo que o cenário para a empresa era moderadamente “promissor”, ainda que não tranquilo.
Claro que só um irresponsável pode ficar especulando com cotação diária de ações, mas é clara a tendência de recuperação da Petrobras, apesar do incessante terrorismo dos jornais.
Os que se impressionam com o catastrofismo, como aqueles que seguiram os conselhos da turma que prevê “o fim do Brasil”,

POLÍTICA - Aécio rachou o PSDB.

Janio: impítim
rachou o PSDB

Aecím não tem preparo para a política em nível mais alto do que o comum.

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De Janio de Freitas, sob o título “O racha”, na Fel-lha (ver no ABC do C Af):


No desarranjo do PSDB, a questão do impeachment contrapõe Aécio e os três principais hierarcas da sigla

(…)

O PSDB é o partido do individualismo, ali ninguém dá apoio verdadeiro a ninguém, mas as pernas se chutam sob a mesa onde o vinho é servido.

Na obcecada e irada investida pela queda de Dilma, Aécio tem demonstrado o quanto preserva da imaturidade política do seu tempo de governador de Minas no Rio.

Na posição que tem hoje dentro do PSDB, como pretenso candidato à sucessão presidencial, e no eleitorado como figura mais projetada da oposição, Aécio não poderia relegar entendimentos com a cúpula para definição da linha partidária, como não deveria precipitar-se em posições políticas e públicas desprovidas de fundamentações responsáveis.

Se jamais mostrou melhor preparo em outros ramos, Aécio demonstra agora que ainda não o tem para a política em nível mais alto do que o comum.

PETROBRAS - Seu balanço foi o resgate da chantagem da Price.


O balanço da Petrobras foi o resgate da chantagem da Price

  Autor: Fernando Brito
BALAN
Afora os eventuais “sacolejos” diários, todos verão que o “mercado” não terá abalos permanentes com o balanço auditado da Petrobras, divulgado ontem.
Porque sabe que ele não é “verdadeiro”, considerados os métodos de cálculo usados por outras empresas.
É claro que o balanço teria de registrar perdas, porque não é possível deixar de falar em perdas quando as petroleiras tiveram de amargar uma redução do preço médio de seu produto de uma média de US$ 109 por barril no terceiro trimestre de 2014 para US$ 77 dólares/barril  no quarto trimestre, também na média.  Média, porque o ano terminou com 62 dólares por barril.
Mas as perdas por reavaliação de ativos – o tal impairment -pelas métricas usadas nos balanços das demais petroleiras, é muito menor e o mercado sabia disso, tanto que as estimava em, no máximo R$ 20 bilhões, em lugar dos mais de R$ 40 bilhões  divulgados. E as perdas de R$ 6 bilhões com corrupção, todos sabem, não vão além de uma “conta de chegar”.
Ambos são números que a Price, que audita os balanços da Petrobras, está determinando, com o pé no pescoço que a exigência de apresentação do balanço auditado lhe permite fazer, desde que a presidência da petroleira era exercida por Graça Foster.
Foi a Price quem forçou o cálculo dos tais R$ 88 bilhões de prejuízo com o impairment, que a acuada Graça Foster aceitou e que, afinal, foram reduzidos para R$ 44 bilhões , que é exatamente a metade de algo que não tinha pé nem cabeça.
Daí também a fórmula estapafúrdia de considerar 3% a perda por corrupção sobre o valor dos contratos sobre os quais a “Lava-Jato” levantou suspeitas. Nem sua Excelência, o Dr. Sérgio Moro, chega sequer perto disso, e pode-se ver isso até pela sentença que prolatou ontem sobre os prejuízos que a dupla Paulo Roberto Costa, onde estabelece que, em relação à “lavagem de dinheiro” operada por Youssef, o desvio foi de  R$ 18,6 milhões no caso da Refinaria Abreu e Lima.
Um baita assalto, mas que precisaria ser multiplicado por 330 vezes para chegar ao valor estimado em balanço.
Os dois valores foram o preço que a Price exigiu para assinar o balanço sem “ressalvas” e, portanto, assumir a responsabilidade solidária que tem no caso de eventuais ações judiciais e, claro, limpar sua fachada diante do mercado pelo “não tinha nem visto” que praticou sobre as contas da companhia até o terceiro trimestre passado.
Se não assinasse, a Petrobras teria de pagar antecipadamente suas dívidas, o que quebraria até mesmo uma gigante com caixa de R$ bilhões.
Se assinasse com ressalvas, manteria a empresa sob seu poder.
A opção foi a de ceder à chantagem da Price, mas exigindo que não houvesse ressalvas e, assim, desaparecesse o seu poder de pressão sobre a companhia.
Decisão, é claro, que teve o “de acordo” de Joaquim Levy e o diagnóstico de que “não há outro jeito” levado a Dilma.
É assim que funciona o “limpo” mercado. Empresas de auditoria, classificadora de riscos, certificadoras, tudo é parte de uma imensa máquina de ganhar dinheiro, longe de qualquer “santidade contábil”.
Como disse, pode haver um “chacoalhão” no mercado, hoje, sobretudo pela negativa de pagamento de dividendos.
Mas, depois dele, a tendência seguirá sendo a de lenta recuperação da empresa, que teve de aceitar encolher em investimentos e patrimônio.
Torçamos que não – e acho que não – este encolhimento não represente cessão de alguma parcela dos campos do pré-sal.
Mas a Price, desde ontem, deixou de ser uma faca de ponta para exigir isso.

MÍDIA - Globo e a imbecilização da sociedade.


Globo e a imbecilização da sociedade

Do site Diário Liberdade:

A Rede Globo de Televisão está completando 50 anos de existência em abril de 2015. Este instrumento de manipulação da burguesia opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira no plano cultural, na opinião de Igor Fuser, jornalista e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC).

Em depoimento para o Diário Liberdade, ele afirma que o papel da Globo "é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica".
Para acabar com esse monopólio da mídia, Fuser acredita que é preciso uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil, que "passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo".

Confira a seguir o depoimento do jornalista e professor Igor Fuser, sobre o papel histórico da Globo, na política, na cultura e nas suas coberturas jornalísticas.

*****

A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX. Substitui perfeitamente a Igreja Católica como instrumento de controle das mentes e do comportamento.

A Globo esteve ao lado de todos os governos de direita, desde o regime militar - no qual se transformou no gigante que é hoje - até Fernando Henrique Cardoso. Serviu caninamente à ditadura, demonizando as forças de esquerda e endossando o discurso ufanista do tipo "Brasil Ame-o ou Deixe-o" e as versões sabidamente falsas sobre a morte de combatentes da resistência assassinados na tortura e apresentados como caídos em tiroteios. Mais tarde, após o fim da ditadura, alinhou-se no apoio à implantação do neoliberalismo, apresentado como a única forma possível de organizar a economia e a sociedade.

No plano cultural, é impossível medir o imenso prejuízo causado pela Rede Globo, que opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira. Começando pelas novelas, seguindo pelos reality shows, pelos programas de auditório, o papel da Globo é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica.

A Globo impôs um português brasileiro "standard", que anula o que as culturas regionais têm de mais importante – o sotaque local, a maneira específica de falar de cada região. Pratica ativamente o racismo, ao destinar aos personagens da raça negra papéis secundários e subalternos nas novelas em que os heróis e heroínas são sempre brancos. Os personagens brancos são os únicos que têm personalidade própria, psicologia complexa, os únicos capazes de despertar empatia dos telespectadores, enquanto os negros se limitam a funções de apoio. Aliás, são os únicos que aparecem em cena trabalhando, em qualquer novela, os únicos que se dedicam a labores manuais.

A postura racista da Globo não poupa nem sequer as crianças, induzidas, há várias gerações, a valorizar a pele branca e os cabelos loiros como o padrão superior de beleza, a partir de programas como o da Xuxa.

O jornalismo da Globo contraria os padrões básicos da ética, ao negar o direito ao contraditório. Só a versão ou ponto de vista do interesse da empresa é que é veiculado. Ocorre nos programas jornalísticos da Globo a manipulação constante dos fatos. As greves, por exemplo, são apresentadas sempre do ponto de vista dos patrões, ou seja, como transtorno ou bagunça, sem que os trabalhadores tenham direito à voz. Os movimentos sociais são caluniados e a violência policial raramente aparece. Ao contrário, procura-se sempre disseminar na sociedade um clima de medo, com uma abordagem exagerada e sensacionalista das questões de segurança pública, a fim de favorecer as falsas soluções de caráter violento e os atores políticos que as defendem.

No plano da política, a Rede Globo tem adotado perante os governos petistas uma conduta de sabotagem permanente, omitindo todos os fatos que possam apresentar uma visão positiva da administração federal, ao mesmo tempo em que as notícias de corrupção são apresentadas, muitas vezes sem a sustentação em provas e evidências, de forma escandalosa, em uma postura de constante denuncismo.

A Globo pratica o monopólio dos meios de comunicação, ao controlar simultaneamente as principais emissoras de TV e rádio em todos os Estados brasileiros juntamente com uma rede de jornais, revistas, emissoras de TV a cabo e portais na internet.

Uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo, para que o monopólio seja desmontado e que a sua programação tenha de se submeter a critérios pautados pela ética jornalística, pelo respeito aos direitos humanos e pelo interesse público.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

POLÍTICA - Sonegação é corrupção.




MÍDIA - A ração para os midiotas.

A ração para os midiotas

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

A Folha de S. Paulo, que revelou o caso, é o único dos três jornais de circulação nacional que retoma a denúncia de que o governo de São Paulo paga R$ 70 mil, mensalmente, para um blogueiro cuja única função é postar na internet e nas redes sociais mensagens contra o governo federal, seus aliados e, principalmente, o Partido dos Trabalhadores. Na edição de quarta-feira (22/4), o diário paulista complementa a história, levando o leitor a entender a relação entre a política, a mídia tradicional e ativistas do mundo digital.

O roteiro é simples: o advogado Fernando Gouveia criou em janeiro de 2013 a Appendix Consultoria, como uma nova persona jurídica para atividades que já desempenhava no site Implicante.org – colocando oficialmente sua militância a serviço do governo paulista. Com essa estrutura, passou a ser remunerado com dinheiro público.

Diz a Folha de S. Paulo: “O site difunde notícias, artigos, memes, vídeos e montagens contra petistas”. Ou seja, o objeto do contrato que é pago pelo governo do estado é uma fraude.

No sábado (18/4), a Folha havia denunciado essa relação, demonstrando que a Appendix não fazia o que registrava o contrato, ou seja, serviços de “revisão, desenvolvimento e atualização das estruturas digitais”. Em resposta ao pedido de explicações do jornal, a subsecretaria de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes saiu-se com uma tática que se pode qualificar como a mais básica “picaretagem”: disponibilizou 88 caixas, cada uma com centenas de papéis sobre propaganda oficial, sem indicar a localização das informações solicitadas.

Provocados, os jornalistas da Folha de S. Paulo foram adiante, e agora revelam que havia muito mais do que um contrato para a produção de intrigas políticas disfarçado de serviço público: a ex-chefe de Comunicação da Secretaria da Cultura, Cristina Ikonomidis, que colocou a Appendix no governo de São Paulo em junho de 2013, se tornou oficialmente sócia da empresa. Seu marido, que até janeiro deste ano ocupava o cargo de coordenador de Imprensa da Subsecretaria de Comunicação, era um dos responsáveis por liberar pagamentos para a “consultoria”.

O mapa da picaretagem

Após a primeira reportagem sobre o caso, o Estado de S. Paulo reproduziu informações publicadas pela Folha, e nada mais se disse, conforme registrou este observador (ver aqui).

A insistência da Folha revela algo mais, e leva o caso para cima, na hierarquia do governo paulista: uma vez que o subsecretário Marcio Aith respondeu com a molecagem de despejar as 88 caixas de papéis sobre os repórteres, cabe ao secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, a quem responde o subsecretário de Comunicação, explicar como fica a anunciada política de transparência da administração pública.

O fato de a Appendix ser contratada por uma agência de propaganda que presta serviços ao estado não diminui a responsabilidade do secretário, principalmente ao se revelar que seu ingresso no núcleo de comunicação do governo se deu pela mão de uma ex-funcionária graduada, que se beneficia do dinheiro público, na condição de sócia, com o agravante dos pagamentos autorizados por seu marido.

O caso é proporcionalmente mais instigante do que aquele relatório sobre uso de aplicativos na divulgação de informações e opiniões de interesse do governo federal, que custou o cargo ao ex-ministro da Comunicação Thomas Traumann no mês de março e gerou muitas páginas de notícias e opiniões.

A conexão direta entre alguns dos principais assessores do governador Geraldo Alckmin e um ativista que se dedica a espalhar veneno na internet, incluindo o pagamento de seu trabalho sujo com dinheiro público, ainda que terceirizado, não pode ser ignorada pela imprensa.

A observação do noticiário demonstra que os diários de circulação nacional mantêm o governador de São Paulo blindado contra críticas, seja no caso da crise hídrica, seja na epidemia da dengue, seja na sequência de chacinas sem investigação, seja na perpetuação do poder do crime organizado ou na greve de professores. Portanto, é de se esperar uma ação dos jornais para circunscrever as responsabilidades na linha hierárquica abaixo do subsecretário de Comunicação, porque há pontos de interesse comum entre as duas partes.

Na linha de comentários da página do Implicante.org no Facebook, leitores reagem à revelação feita pela Folha: alguns repudiam os responsáveis, pedindo também uma “boquinha” no governo paulista, outros apoiam ferozmente os ataques ao governo federal.

O conjunto é um pote de ração para midiotas.

MÍDIA - Site anti-PT.

Site anti-PT e o modus-operandi do PSDB

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

As informações que vão aos poucos pingando sobre o site "Implicante", contratado por uma mesada de R$ 70 mil paga pelo governo do Estado de São Paulo para atacar o PT nas redes sociais, revelam como funciona o modus-operandi dos probos e intocáveis tucanos paulistas na área da comunicação.

Trata-se de uma verdadeira parceria público-privada-conjugal em que os caciques tucanos agem com a mão do gato na sua cruzada anti-PT. Quem banca a farra, que já dura desde maio de 2013, no final das contas, somos nós, os contribuintes. Não sai barato: pelo valor da mesada, dá R$ 1.680.000,oo em dois anos.
O esquema foi montado quando a jornalista Cristina Ikonomidis, ex-secretária adjunta de Comunicação Institucional do ex-governador José Serra, trabalhava na Secretaria de Cultura do governador Geraldo Alckmin.

Na função de chefe de comunicação da Cultura, Cristina estava lá quando a empresa Appendix Comunicação, criada pelo advogado e blogueiro Fernando Gouveia, que usa o pseudônimo "Gravataí Merengue", e é responsável pelo site "Implicante", foi contratado pela Propeg, uma das três grandes agências que cuidam da publicidade oficial do governo Alckmin.

Perdoem-me os leitores, mas a história toda é meio confusa mesmo. Vamos por partes:

* Na semana passada, a Folha deu a primeira matéria sobre o "Implicante", que tem meio milhão de seguidores no Facebook e se especializou em difundir na rede notícias, artigos, memes, vídeos e montagens contra o PT e seus dirigentes, com vigorosa atuação na última campanha presidencial, aquela em que os tucanos tanto reclamaram da baixaria dos adversários. Na versão oficial, a Appendix foi contratada pela Propeg para fazer "revisão, desenvolvimento e atualização das estruturas digitais".

* Nesta quarta-feira, o jornal faz novas revelações: Cristina Ikonomidis, que deixou o governo em setembro de 2013, agora é sócia de Fernando Gouveia na empresa. E mais: pelo menos uma das ordens de serviço que liberaram pagamentos à Appendix foi assinada pelo jornalista Juliano Nóbrega, então secretário adjunto de Comunicação de Alckmin, o mesmo cargo que Cristina ocupara no governo Serra. Detalhe: Juliano é marido de Cristina, que agora é dona de 40% das ações da empresa de Gouveia.

* Nóbrega não soube dizer quem indicou o site do "Gravataí Merengue" para prestar serviços de comunicação ao governo do PSDB e diz que os pagamentos à Appendix faziam parte da sua função. Já o governo do Estado de São Paulo limita-se a terceirizar a responsabilidade, alegando que quem contratou a Appendix foi a Propeg, embora relatórios oficiais, a que a Folha teve acesso, revelem que o blogueiro presta contas diretamente à Subsecretaria de Comunicação, que autoriza os pagamentos à empresa.

Entenderam? É provável que esta "empresa de comunicação" de Gouveia e Ikonomidis não tenha sido a única contratada com as mesmas finalidades pouco republicanas pelas agências que servem ao governo de São Paulo.

Sob o título "Alckmin dá mesada a Dória", o blog do jornalista Paulo Henrique Amorim reproduz hoje contrato da mesma Sub-secretaria de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, sob a rubrica "gastos com publicidade", destinando R$ 595.175,00 à "Doria Editora Ltda.", no período de março a setembro de 2014, o ano eleitoral.

Nada acontece por acaso. Fernando Gouveia, o Gravataí Merengue", a sua sócia Cristina Ikonomudis, casada com Juliano Nóbrega, e o promoter empresarial tucano João Doria Junior, profissionais da mais alta confiança de José Serra e Geraldo Alckmin, não têm mesmo do que reclamar da vida. Só revelam um modo tucano de operar a comunicação antipetista com o dinheiro do contribuinte.

E vamos que vamos. Vida que segue.

MÍDIA - Aniversário da Globo.


Globo: 10 razões para descomemorar

Por Ângela Carrato, na Estação Liberdade:

Era para ser uma festa de arromba, com eventos se sucedendo em todo o país. Grande parte do que a TV Globo preparou para comemorar seu cinquentenário, a ser completado no dia 26/04, está mantido, mas, sem dúvida, não terá o mesmo brilho de outras épocas. Depois dos problemas verificados durante a sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem à emissora, em que três militantes em prol da democratização da comunicação tiveram que ser retirados da sessão por seguranças, as festas em locais abertos ou de acesso público estão sendo repensadas. Os cuidados se justificam.
Nunca a audiência da TV Globo, centro do império da família Marinho, esteve tão baixa. O Jornal Nacional, seu principal informativo, que chegou a ter 85% de audiência, agora não passa dos 20%. Suas novelas do horário nobre estão perdendo público para similares da TV Record. No dia 1ª de abril aconteceram atos em prol da cassação da concessão da emissora em diversas cidades brasileiras. O realizado no Rio e Janeiro, em frente à sua sede, no Jardim Botânico, foi o mais expressivo e contou com 10 mil pessoas. Número infinitamente maior participou, no mesmo horário, do tuitaço e faceboquiaço “Foraglobogolpista”.

Artistas globais e a viúva de Roberto Marinho integram a relação de suspeitos de crimes de evasão fiscal e serão alvo de investigação pela CPI do Senado, criada para analisar a lista de mais de oito mil brasileiros que têm depósitos em contas secretas na filial do banco HSBC na Suíça. Este escândalo internacional envolve milhares de pessoas em diversos países. A diferença é que fora do Brasil o assunto tem tido destaque e é coberto diuturnamente, enquanto aqui, a mídia, Globo à frente, prefere ignorá-lo ou abordá-lo parcialmente.

Além disso, o conglomerado teria sonegado o Imposto de Renda ao usar um paraíso fiscal para comprar os direitos de transmissão da Copa do Mundo FIFA de 2002. Após o término das investigações, em outubro de 2006, a Receita Federal quis cobrar multa de R$ 615 milhões da emissora. No entanto, semanas depois o processo desapareceu da sede da Receita no Rio de Janeiro. Em janeiro de 2013, uma funcionária da Receita foi condenada pela Justiça a quatro anos de prisão como responsável pelo sumiço. No processo, ela afirmou ter agido por livre e espontânea vontade.

Nem mesmo a campanha filantrópica Criança Esperança promovida em parceira com a Unesco, se viu livre de críticas. Um documento datado de 15 de setembro de 2006, liberado pelo site WikiLeaks em 2013, cita que a Rede Globo repassou à Unesco apenas 10% do valor arrecadado desde 1986 com a campanha (à época R$ 94,8 milhões). A emissora garante "desconhecer" essa informação e afirma que "todo o dinheiro arrecadado pela campanha é depositado diretamente na conta da Unesco".

Como se tudo isso não bastasse, ao assumir a postura pró-tucanos durante a campanha eleitoral de 2014, a emissora perdeu parte da regia publicidade oficial com que sempre foi contemplada. O governo não anuncia mais na TV Globo e nem na revista Veja e, pelo menos até o momento, não há indícios de que o quadro esteja prestes a se alterar. Motivos que têm levado cada dia mais repórteres e equipes da emissora a serem alvo de protestos e recebidos aos gritos de “o povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo!”

Os protestos contra a Rede Globo, pelo visto, vão continuar e existem pelo menos 10 razões para que os setores comprometidos com a democratização da mídia no Brasil não tenham nada a comemorar neste cinquentenário.

1. O Canal 4 estava prometido à Rádio Nacional

Em meados de 1950, Roberto Marinho era apenas um entre os vários empresários da comunicação no país. O magnata da época atendia pelo nome de Assis Chateaubriand que possuía a maior cadeia de jornais, rádios e duas emissoras nascentes de televisão. A rádio líder absoluta de audiência e mais querida do Brasil era a Nacional, a PR-8 do Rio de Janeiro, de propriedade do governo federal. O sucesso da Nacional era tamanho que animou seus dirigentes a solicitar que o então presidente da República lhe concedesse um canal de TV. Constava do currículo da Rádio Nacional já ter feito experiências pioneiras na área, ao ocupar o canal 4 para televisionar (como se dizia na época) dois dos seus programas.

O presidente da República era Juscelino Kubitschek que considerou justa a reivindicação, uma decorrência natural da liderança da emissora. Na publicação de final de ano em 1956, a direção da Rádio Nacional anunciava para “breve” a entrada no ar da sua emissora, a TV Nacional, canal 4, conforme compromisso assumido por Juscelino. As concessões de canais de rádio e TV eram atribuições exclusivas do ocupante do Executivo Federal.

Os meses se passaram e Juscelino ”esqueceu-se” da promessa. No final de 1957, para surpresa da direção da Rádio Nacional, o canal 4 que lhes fora prometido, acabou concedido para a inexpressiva Rádio Globo, de Roberto Marinho. A decisão foi condicionada por pressões diretas de Chateaubriand, que aceitava qualquer coisa menos que a Rádio Nacional ingressasse no segmento televisivo, temendo as consequências disso para seus negócios. Neste contexto, o canal ir para Roberto Marinho era um mal menor.

O Brasil perdeu assim a chance histórica de ter, no nascedouro, duas modalidades de televisão, a comercial, representada pelas emissoras de Chateaubriand, e a estatal voltada para o interesse público como seria a da Rádio Nacional.

2. O acordo com a Time-Life feriu os interesses nacionais

Ao contrário da Rádio Nacional que dispunha de todas as condições para colocar no ar sua emissora de TV, a de Roberto Marinho precisou aguardar alguns anos. Para a implantação da TV Globo, a partir de 1961, foi decisivo o apoio do capital internacional, representado pelo gigante da mídia norte-americano Time-Life. A emissora começou a operar de forma discreta em 26 de abril de 1965 e seus primeiros meses foram um fracasso em termos de audiência.

Em junho de 1962, Marinho passou a ser apoiado com milhões de dólares, num episódio que a emissora ainda hoje sustenta que se tratou apenas de “um contrato de cooperação técnica”. A realidade, fartamente documentada por Daniel Herz, em sua obra já clássica “A história secreta da Rede Globo” (1995) prova o contrário. Roberto Marinho e o grupo Time-Life contraíram um vínculo institucional de tal monta que os tornou sócios, o que era vedado pela Constituição brasileira. Foi este vínculo que assegurou à Globo o impulso financeiro, técnico e administrativo para alcançar o poderio que veio a ter.

A importância da ligação com os norte-americanos, nos primórdios da emissora, pode ser avaliada pela declaração do engenheiro Herbert Fiúza, que integrou a sua primeira equipe técnica: “A Globo era inspirada numa estação de Indianápolis, a WFBM. E o engenheiro de lá foi quem montou tudo, porque a gente não sabia nada”.

Chateaubriand que antes havia ficado satisfeito em inviabilizar o canal de TV para a Rádio Nacional percebeu o risco que suas emissoras passavam a correr. Tanto que dedicou ao “Caso Globo/Time-Life” nada menos do que 50 artigos, todos atacando Roberto Marinho e acusando-o de receber, na época, U$S 5 milhões, repassados em três parcelas, o que representava “uma ofensiva externa contra os competidores internos”(Morais, 1994, p.667).

A repercussão destas denúncias foi tamanha que a CPI criada pelo Congresso Nacional para apurá-las acabou descobrindo que a TV Globo mantinha não um, mas dois contratos com o grupo Time-Life. Em um deles, os norte-americanos tinham participação de 49%. Em outras palavras, não se tratava de contrato, mas de sociedade. A CPI pôs fim à sociedade. Mas, ao invés de sair penalizada do episódio, a Globo foi duplamente beneficiada: Roberto Marinho ficou com o controle total da emissora e os militares, então no poder, não tomaram qualquer providência contra ela. A TV Globo poderia ter tido sua concessão cassada.

3. O apoio à ditadura militar (1964-1985)

Nos anos 1960, o Brasil era visto pelos Estados Unidos como sua área de influência direta. E a TV Globo foi fundamental para trazer para cá o way of life norte-americano juntamente com o seu modelo de televisão. A TV comercial, um dos tipos de emissora existentes no mundo, adquire aqui o status de única modalidade de TV. Não por acaso, Murilo Ramos (2000, p.126) caracteriza o surgimento da TV Globo como sendo “a primeira onda de globalização da televisão brasileira”, que, concentrada num único grupo local, monopolizou a audiência e teve forte impacto político e eleitoral ao longo das décadas seguintes.

Durante quase 20 anos, TV Globo e governos militares viveram uma espécie de simbiose. Os militares, satisfeitos por verem nas telas da Globo apenas imagens e textos elogiosos ao “país que vai para a frente” retribuíam com mais e mais benesses e privilégios para a emissora. A partir de 1968, com a edição do AI-5, o país mergulhou no “golpe dentro do golpe”, com prisão e perseguição a todos os considerados inimigos e adversários do regime e a adoção de censura prévia aos veículos de comunicação.

A TV Globo enfrentou alguns casos de censura oficial em suas telenovelas, mas o que prevaleceu na emissora foi o apoio incondicional de sua direção aos militares no poder e a autocensura por parte da maioria de seus funcionários.
Ainda hoje não falta quem se recorde de situações patéticas em que o então apresentador do Jornal Nacional, Cid Moreira, mostrava aos milhares de telespectadores brasileiros cenas de um país que se constituía “em verdadeira ilha de tranquilidade”, enquanto centenas de militantes de esquerda eram perseguidos, presos, torturados ou mortos nas prisões da ditadura. Some-se a isso que a TV Globo sempre se esmerou em criminalizar quaisquer movimentos populares.

4. O combate permanente às TVs Educativas

Desde 1950 que as elevadas taxas de analfabetismo vigentes no Brasil eram uma preocupação constante para setores nacionalistas e de esquerda. Uma vez no poder, algumas alas militares viram na radiodifusão um caminho para combater a subversão e, ao mesmo tempo, promover a integração nacional. O resultado disso foi que, em 1965, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) solicita ao Conselho Nacional de Telecomunicações a reserva de 48 canais de VHF e 50 de UHV especificamente para a televisão educativa.

O número era dos mais significativos e poderia ter representado o começo de canais voltados para os interesses da população, a exemplo do que já acontecia em outras partes do mundo. Pouco depois do decreto ser publicado, Roberto Marinho começa a agir para reduzir sua eficácia. E, na prática, conseguiu seu intento. O decreto-lei nº 236 de março de 1967 se, por um lado, formalizava a existência das emissoras educativas, por outro criava uma série de obstáculos para que funcionassem. O artigo 13, por exemplo, obrigava estas emissoras a transmitir apenas “aulas, conferências, palestras e debates”, ao mesmo tempo em que proibia qualquer tipo de propaganda ou patrocínio a seus programas. Traduzindo: as TVs Educativas estavam condenadas à programação monótona e à falta crônica de recursos.

Como se isso não bastasse, o artigo seguinte fechava o cerco a estas emissoras, determinando que somente pudessem executar o serviço de televisão educativa a União, os Estados, municípios e territórios, as universidades brasileiras e alguns tipos de fundações. Ficavam de foram, por exemplo, sindicatos e as mais diversas entidades da sociedade civil.

Dez anos após este decreto-lei, apenas seis emissoras educativas tinham sido criadas no país, número muito distante dos 98 canais disponíveis. As emissoras educativas não conseguiam avançar, esbarrando na legislação que lhes obrigava a viver exclusivamente do minguado orçamento oficial, ao passo que as televisões comerciais, em especial a Globo, experimentavam crescimento sem precedentes. Crescimento que contribuiu para cristalizar, em parcela da população brasileira, a convicção de que a emissora de Roberto Marinho é sinônimo de qualidade.

5. O programa global dos telecursos

Oficialmente, o projeto tinha o nome de Educação Continuada por Multimeios e envolvia um convênio entre a Secretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (Subin) da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, o BID, a Fundação Roberto Marinho e a Fundação Universidade de Brasília (FUB). Aparentemente, o seu objetivo era nobre: “o atendimento à educação de população de baixa renda do país, mediante a utilização e métodos não tradicionais de ensino”.

Na versão inicial, o convênio possuía 15 cláusulas, com a FRM assumindo a condição de entidade executora e a FUB a de sua coexecutora. Na prática, o convênio ficou conhecido como Programa Global de Telecursos e atendia exclusivamente aos interesses da FRM. Através dele, a FRM pretendia, sem qualquer custo, apoderar-se do milionário “negócio” da teleducação no Brasil. Para tanto, esperava contar com recursos nacionais e internacionais inicialmente da ordem de US$ 5 milhões embutidos em um pacote de U$S 20 milhões solicitados pela Subin ao BID no início de 1982.

A parceria com a FUB era importante por ela ser uma entidade voltada para o ensino público e estar isenta de impostos para a importação dos equipamentos necessários à montagem de um centro de produção televisiva a custo zero. Em outras palavras, a FRM pretendia tornar-se a administradora da verba (nacional e internacional) destinada às televisões educativas no Brasil, geridas pela Funtevê, entidade governamental. Imediatamente, a Funtevê deixou nítido que o convênio exorbitava as competências da FRM e da própria UnB. É importante assinalar que pela UnB um dos raros entusiastas deste convênio era o seu então reitor, capitão de Mar-e-Guerra, José Carlos Azevedo.

A discussão em torno deste convênio e da tentativa das Organizações Globo de apropriarem-se dos recursos destinados às TVs educativas brasileiras ganham a imprensa nacional no final de 1982 e início de 1983. Matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo em 17/04/1983, sob o título de “Globo poderá monopolizar teleducação”, tratava o assunto em forma de denúncia. O “tiroteio” entre os jornais Globo e Folha de S. Paulo durou vários meses e o convênio, que acabou não sendo assinado, só foi sepultado três anos depois, com o fim do regime militar. Sem muita cerimônia, o então secretário-executivo da FRM, José Carlos Magaldi, chegou a admitir que: “é óbvio que não fazemos teleducação por patriotismo”.

Esta não foi a primeira e nem a última tentativa das Organizações Globo de se apoderarem da teleducação no Brasil. Aliás, a FRM tem, nos dias atuais, representado o Brasil em vários fóruns internacionais sobre educação e teleducação. O MEC sabe disso?

6. O caso Proconsult e o combate a Leonel Brizola

Antes dos petistas, Leonel Brizola foi um dos políticos brasileiros mais combatidos pela TV Globo e por seu fundador, Roberto Marinho. Marinho nunca o perdoou pelo fato de ter comandado a “rede da legalidade”, nome que receberam as emissoras de rádio que, quando da renúncia de Jânio Quadros à presidência da República, em 1961, passaram a defender a posse de seu vice, João Goulart. Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, era cunhado de Goulart.

Com a vitória do golpe civil-militar de 1964, Brizola foi para o exílio e só pode retornar ao Brasil com a anistia, em 1979. Político com fortes compromissos populares, em 1982 disputava o governo do Rio de Janeiro, pelo PDT, partido criado por ele.
O Caso Proconsult foi uma tentativa de fraude nas eleições de 1982 para impossibilitar a vitória de Brizola. Consistia em um sistema informatizado de apuração dos votos, feito pela empresa Proconsult, associada a antigos colaboradores do regime militar. A mecânica da fraude consistia em transferir votos nulos ou em branco para que fossem contabilizados para o candidato apoiado pelas forças situacionistas, Moreira Franco, do PDS.

As regras da eleição de 1982 impunham que todos os votos (de vereador a presidente da República) fossem em um mesmo partido. Portanto, estimava-se um alto índice de votos nulos. Os indícios de que os resultados seriam fraudados surgiram da apuração paralela contratada pelo PDT à empresa Sysin Sistemas e Serviços de Informática que divergiam completamente do resultado oficial. Outra fonte que obtinha resultados diferentes dos oficiais foi a Rádio Jornal do Brasil. Roberto Marinho foi acusado de participar no caso.

A fraude foi extensamente denunciada pelo Jornal do Brasil, na época o principal concorrente de O Globo no Rio e relatada posteriormente pelos jornalistas Paulo Henrique Amorim, Maria Helena Passos e Eliakim Araújo no livro “Plim Plim, a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral” (Conrad editores, 2005). Devido à participação de Marinho no caso, a tentativa de fraude é analisada no documentário britânico Beyond Citizen Kane, de 1993. A TV Globo, por sua vez, defendeu-se argumentando que não havia contratado a Proconsult e que baseava a totalização do votos daquela eleição na totalização própria que O Globo estava fazendo.

Em 1994, Brizola venceu novamente Roberto Marinho e a TV Globo ao obter, na Justiça, direito de resposta na emissora. Em 15 de março, um constrangido Cid Moreira (que por 27 anos esteve à frente da bancada do jornal Nacional) leu texto de 440 palavras que a Justiça obrigou a TV Globo a divulgar em seu telejornal mais nobre.
Foram cerca de três minutos nos quais Cid Moreira, a cara do JN, incorporou Leonel Brizola, então governador do Rio de Janeiro, no mais célebre e então inédito direito de resposta, que abriu caminho para que outros cidadãos buscassem amparo legal contra barbaridades cometidas pela mídia brasileira.

7. Ignorou as Diretas-Já

O PMDB lançou, em dezembro de 1983, uma campanha nacional em apoio à emenda do seu deputado Dante de Oliveira (MT) que restabelecia as eleições diretas no país com o slogan “Diretas-Já”. O primeiro grande comício aconteceu em São Paulo, em 25 de março do ano seguinte, e coincidiu com o 430º aniversário da cidade. A TV Globo ignorou o comício que reuniu mais de um milhão de pessoas na Praça da Sé. Reportagem do Fantástico sobre o assunto falava apenas em comemorações do aniversário de São Paulo. Omissões semelhantes aconteceram em relação a outros comícios pelas Diretas-Já em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.

De acordo com o ex-vice-presidente das Organizações Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em entrevista ao jornalista Roberto Dávila, na TV Cultura, em dezembro de 2005, foi o próprio Roberto Marinho, quem determinou a censura ao primeiro grande comício da campanha pelas Diretas-Já.
Segundo Boni, àquela altura "o doutor Roberto não queria que se falasse em Diretas-Já" e decidiu que o evento da Praça da Sé fosse transmitido "sem nenhuma participação de nenhum dos discursantes”. Para Boni, aliás, no caso das Diretas-Já houve uma censura dupla na Globo: “primeiro, uma censura da censura; depois, uma censura do doutor Roberto”.

A versão de Boni é diferente da que aparece no livro "Jornal Nacional - A Notícia Faz História", publicado pela Jorge Zahar em 2004, e que representa a versão da própria Globo para a história de seu jornalismo. O texto não faz nenhuma referência a uma intervenção direta de censura por parte de Roberto Marinho.

Aliás, a Globo vem tentando reescrever a sua história e, ao mesmo tempo, reescrever a própria história brasileira. Isto fica nítido, por exemplo, quando se compara a história brasileira com a versão que é publicada pela Globo através dos verbetes do Memória Globo. Pelo visto, a emissora aposta na falta de memória e na pouca leitura da maioria dos brasileiros para emplacar a sua versão dos fatos. Foi a partir da campanha das Diretas-Já que teve início a utilização, pelos diversos movimentos populares, do bordão “o povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo”.

8. Manipulação do debate Collor X Lula

Na eleição de 1989, a primeira pelo voto direto para presidente da República desde 1964, a TV Globo manipulou o debate entre o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva e o do PRN, Fernando Collor. O debate era o último e decisivo antes da eleição. No telejornal da hora do almoço, a TV Globo fez uma edição equilibrada do debate. Para o Jornal Nacional, houve instruções para mudar tudo e detonar Lula. Foram escolhidos os piores momentos de Lula e os melhores de Collor. Ainda foram divulgadas pesquisas feitas por telefone segundo as quais Collor havia vencido. Além disso, o jornalista Alexandre Garcia leu um editorial nitidamente contra Lula e o PT.

Desde então, pesquisas e estudos sobre este “caso clássico de manipulação da mídia” têm sido feitas no Brasil, destacando-se as realizadas pelo sociólogo, jornalista e professor aposentado da UnB, Venício A. Lima.

Apesar dos esforços da TV Globo para manter a versão de que a edição deste debate foi equilibrada, novamente seu ex-diretor José Bonifácio Sobrinho contribuiu para derrubá-la. Depois de abordar o assunto em entrevistas à imprensa, por ocasião do lançamento de seu livro de memórias, o ex-dirigente global deu entrevista à própria GloboNews, canal pago da emissora, na qual admitiu, para o jornalista Geneton Moraes Neto que, durante os debates da campanha presidencial transmitidos pela Globo em 1989, tentou ajudar o candidato alagoano. Para muitos, Boni só fez esta “revelação bombástica” que quase todos já sabiam, para tentar promover seu livro.

9. Contra a democratização da mídia

Todos os países democráticos possuem regulação para rádio e televisão. Na Grã-Bretanha, por exemplo, a mídia e sua regulação caminharam juntas. O mesmo pode ser dito em relação aos Estados Unidos, França, Itália e Japão. Nestes países, tão admirados pelas elites brasileiras, nunca ninguém fez qualquer vínculo entre regulação e censura, simplesmente porque ele não existe. No Brasil, onde a mídia em geral e a audiovisual em particular vive numa espécie de paraíso desregulamentado, toda vez que um governo tenta implementar aqui o que existe no resto do mundo, é acusado de ditatorial e de querer implantar a censura.

Quando, em 2004, o governo do presidente Lula enviou ao Congresso Nacional projeto de lei criando o Conselho Nacional de Jornalismo, uma espécie de primeiro passo para esta regulação, foi duramente criticado pela mídia comercial, TV Globo à frente. Desde sempre, as Organizações Globo foram contrárias a qualquer legislação que restringisse o poder absoluto que desfruta a mídia no Brasil. Prova disso é que o Capítulo V da Constituição brasileira, que trata da Comunicação Social, continua até hoje sem sair do papel.

Entre outros aspectos, o Capítulo V proíbe monopólios e oligopólios por parte dos meios de comunicação, determina que a programação das emissoras de rádio e TV deva dar preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. O capítulo enfatiza, ainda, que as emissoras e rádio e TV devem promover a cultura nacional e regional, além de estimularem a produção independente. Todos estes aspectos mostram como a TV Globo está na contramão de tudo o que significa uma comunicação democrática e plural.

Aliás, os compromissos dos mais diversos movimentos sociais brasileiros com a regulação da mídia foram reafirmados durante o 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, de 10 a 12 de abril em Belo Horizonte. O evento reuniu 682 participantes entre ativistas, estudantes, militantes, jornalistas, estudiosos, pesquisadores, representantes de entidades e coletivos de todo o Brasil. Presente ao encontro esteve também o canadense Toby Mendel, consultor da Unesco e diretor-executivo do Centro de Direitos e Democracia.

A Carta final do encontro, intitulada “Regula Já! Por mais democracia e mais direitos”, disponível na página da entidade (
www.fndc.org.br) reafirma “a luta pela democratização da comunicação como pauta aglutinadora e transversal, além de conclamar as entidades e ativistas a unirem forças para pressionar o governo a abrir diálogo com a sociedade sobre a necessidade de regular democraticamente o setor de comunicação do país”.

10. Golpismo

Para vários pesquisadores e estudiosos sobre movimentos sociais no Brasil, a mídia, em especial a TV Globo, tem tido um papel protagonista nas manifestações contra a presidente Dilma Rousseff e o PT. Alguns chegam mesmo a afirmar que dificilmente estas manifestações teriam repercussão se não fosse a Rede Globo.

Em outras palavras, a Rede Globo, tão avessa à cobertura de qualquer movimento popular, entrou de cabeça na transmissão destas manifestações e, no domingo 15 de março, por exemplo, mobilizou, como há muito não se via, toda a sua estrutura com o objetivo de ampliar a dar visibilidade a estes atos. Quase 100% de seus jornalistas estiveram de plantão. Durante o programa Esporte Espetacular, exibido tradicionalmente nas manhãs de domingo, o esporte deu lugar para chamadas ao vivo sobre os protestos, que, em tom de convocação, passaram a ocupar a maior parte do tempo.

Nas entradas ao vivo em todas as cidades onde aconteciam mobilizações, os microfones da emissora captaram gritos de guerra contra o atual governo e xingamentos contra a presidente. Em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, foi possível ouvir inclusive palavrões. A título de comparação, as manifestações de 13 de março, que também aconteceram em todo o Brasil e defenderam a Reforma Política, não mereceram cobertura tão dedicada do maior conglomerado midiático da América Latina.

O diretor da Rede Globo, Erick Bretas, que há poucas semanas, defendeu abertamente o impeachment da presidente Dilma nas redes sociais, voltou a se pronunciar sobre os atos do dia 15, utilizando uma frase de Bob Marley para convocar, através de sua página no Facebook, o povo às ruas: “Get up, stand up”.

Não se sabe se Bob Marley apoiaria a postura de Bretas, mas, sem dúvida, é fato que entre os princípios editoriais da TV Globo não consta nem a “isenção” e muito menos o equilíbrio que tanto prega. Por isso, talvez o melhor resumo sobre a realidade destes protestos e a empolgação da transmissão feita pela TV Globo seja a do professor Gilberto Maringoni, ex-candidato do PSOL ao governo de São Paulo. Segundo Maringoni, “a manifestação principal não está nas ruas. Está na TV”.

Nas redes sociais, internautas repudiaram a cobertura feita pela TV Globo e alcançaram, durante 48 horas ininterruptas, para a hastag#Globogolpista, a primeira posição entre os assuntos mais comentados do Twitter. Novos protestos estão previstos para o dia 26/04. Razão pelo qual este promete ser o pior aniversário da TV Globo em toda a sua história.