domingo, 1 de fevereiro de 2009

FÓRUM DE DAVOS: Globalização 2.0

Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa

Nenhuma das edições mais recentes do Fórum Econômico Mundial (WEF, segundo a sigla em inglês) permitia prever o tema de Davos 2009 e seu caráter imperativo e intervencionista. De “O Imperativo Criativo” (2006) a “O Poder da Inovação Colaborativa” (2008), os temas eram tão banais e otimistas quanto títulos de livros de autoajuda para executivos. Palestras estendiam-se sobre temas como “a necessidade de renovação constante dos negócios como elemento-chave de um alto desempenho” e questionamentos tão pouco polêmicos como “a União Europeia enfrenta desafios-chave como a Constituição e o crescimento econômico sustentado”.

Agora, o clima é de seriedade e urgência. Klaus Schwab, fundador e presidente do WEF, fez seu discurso em tom de mea-culpa: “Somos todos responsáveis por não reconhecer os riscos de um mundo totalmente desequilibrado. Deveríamos ter prestado mais atenção naquelas pessoas que conseguiram prever os sinais e falaram desses riscos aqui nesta sala. A negação de uma verdade politicamente inconveniente ou desagradável, em conjunto com o instinto de manada, nos levou a depender de sistemas irreais e insustentáveis, enfraquecidos ou abusados de maneira antiética ou fraudulenta”.

Os encontros precedentes haviam sido abertos por alguns dos líderes ocidentais mais confiantes na livre empresa, como Angela Merkel (2006 e 2007) e Condoleezza Rice (2008). Desta vez, o discurso de abertura foi proferido em 28 de janeiro pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como “principal interventor sobre esse tema (moldar o mundo pós-crise)”, segundo seu chefe de gabinete, Yuri Ushakov. Se a intenção foi sublinhar que é o momento de deixar de lado a fé na mão invisível do livre mercado e ponderar a necessidade da mão visível do Estado, a escolha não podia ser mais apropriada, inclusive para lembrar os riscos de abusos na direção oposta. Putin resgatou a Rússia do caos provocado pelas reformas neoliberais, mas cobrou um preço muito alto, na forma de excessos autoritários mais que notórios.

Muitos dos astros do setor financeiro e empresarial que lá brilharam nos anos anteriores não foram ouvir o líder russo. Alguns faliram (como Richard Fuld, do Lehman Brothers), outros foram demitidos (como John Thain, do Merrill Lynch), vários têm problemas com a Justiça (como Ramalinga Raju, presidente da indiana Satyam Computer Services, detido por fraude) e outros estão simplesmente embaraçados ou ocupados demais para aparecer, inclusive os presidentes do Citibank e do Bank of America, dependentes de socorro estatal para manter à tona aqueles que ainda em 2007 eram os dois maiores e mais poderosos grupos bancários do mundo. Hoje, o alto do pódio está ocupado pelo ICBC, o equivalente chinês do BNDES.

O novo governo dos EUA, em cujas mãos estão as decisões mais importantes para realmente moldar o mundo pós-crise – ou, se falhar, para levar a crise a se estender por anos e anos –, também está ocupado demais com fazer aprovar suas propostas pelo Congresso para dar maior peso político ao evento. Seu representante foi Larry Summers, presidente do Conselho Nacional de Economia. Um assessor de peso, mas sem responsabilidade executiva que no governo Obama, dedicado à intervenção estatal, terá de contradizer o que fez em nome da desregulamentação de Clinton.

Fonte:Carta Capital.

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