sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O QUE FAZER COM OS INDESEJÁVEIS ALENCAR E OS JUROS?

Mauro Santayana.

A Itália exige dos sem-teto que se matriculem junto ao Ministério do Interior como vagabundos. O Senado italiano também revogou lei que proibia aos médicos denunciarem às autoridades os pacientes estrangeiros que se encontrem irregularmente no país. Com isso, o trabalhador ilegal não procura o médico, e morre, ou o procura e, se delatado, é expulso. O Parlamento Europeu aprovou, ontem, norma punitiva contra os empresários que contratem imigrantes ilegais. Podem até ser condenados à prisão.

Os Estados nacionais ditam as suas próprias leis e normas. O direito internacional só prevalece quando há o interesse do Estado mais forte em cumpri-lo, seja em razão de tratados bilaterais ou de convenções coletivas. Ainda assim, qualquer Estado pode denunciar tais convênios, sujeitando-se, como é natural, a medidas de retaliação. Estamos longe de construir poder supranacional legítimo, que possa coagir os Estados a cumprirem esse ou aquele princípio. Temos, sim, poderes internacionais espúrios, fundados na tecnologia e na força militar, que se unem, ou agem separadamente, a fim de dominarem os países indefesos. Se outros exemplos não houvesse, basta o que está ocorrendo na Palestina.

Desde que existe História, os homens migram, fugindo das catástrofes naturais e políticas. Não há país europeu que possa vangloriar-se de uma etnia pura. Nem mesmo os bascos, que se encontravam nos Pireneus antes que os romanos chegassem, podem assegurar-se de sua autenticidade étnica. As duas penínsulas meridionais da Europa – a Itálica e a Ibérica – se formaram com povos vindos do resto do mundo conhecido, e serviram de baldeação genética para os que vieram a ocupar a América. Não obstante isso, prevalece o egoísmo tribal. Quando o território de caça se torna exíguo, os clãs buscam expandi-lo e abatem os vizinhos que se aproximam. Em sua obra maior, Scienza nuova, Gianbatista Vico previu o retorno da civilização à barbárie. Quanto mais "civilizados", ou seja, mais "avançados" tecnologicamente, mais brutalizados se revelam os Estados. É o caso dos Estados Unidos, da Itália, da França, da Alemanha e da Inglaterra. Assim, não estão autorizados a dar lições de ética ao mundo.

Felizmente nem toda a população pensa e age dessa forma. Na Itália, crescem os protestos contra as medidas tomadas pelo Parlamento e pelo governo. Os médicos se recusam ao papel de delatores. A relação entre eles e seus pacientes, quaisquer sejam os que os procurem, está fundada nos princípios morais, reunidos no juramento de Hipócrates. Trair esse juramento é renunciar à identidade ética de seu ofício. Igualmente oprobriosa é a decisão de obrigar os miseráveis, que vivem nas ruas, a denunciar-se ao Ministério do Interior como vadios. A pobreza extrema deixa de ser tragédia pessoal para transformar-se em delito.

Quando os países da Europa do Norte se encontravam em fase de ascensão econômica, nos anos 60, seus nacionais se recusavam a fazer trabalhos duros e humilhantes. As fronteiras se abriram então para os meridionais, como os italianos, os espanhóis, os turcos, os gregos e os portugueses, sem falar nos árabes. Não que fossem bem tratados. Eram vistos como os "sujos necessários". Na medida em que a tecnologia foi eliminando os trabalhadores manuais, e começou a haver desemprego, cresceu a discriminação contra os estrangeiros, acompanhada do desprezo e de atos de violência. Negros têm sido massacrados na Itália. Os ciganos, que se encontram na Europa como nômades há mais de um milênio, são escorraçados em todos os países, mas especialmente pelo governo de Berlusconi, infestado de novos fascistas, como os líderes da Liga Lombarda.

O projeto totalitário de escravização e eliminação dos inferiores é bem conhecido. Mas é improvável que tenham êxito.

Ao visitar o vice-presidente José Alencar no hospital, Lula previu que, ao acordar da cirurgia, ele voltaria a gritar contra os juros altos. Alencar já deixou o tratamento intensivo e aguarda alta em apartamento comum. Homem coerente em suas idéias e de reconhecida coragem, ele tem mais um motivo para continuar contra a agiotagem dos bancos e a cumplicidade do Copom. Ainda ontem, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa de juros a 1 por cento ao ano – a menor desde que a instituição cuida do assunto. O Brasil continua sendo o campeão mundial dos juros altos e dos spreads escandalosos.

Fonte:JB

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