Antonio Tozzi
Miami (EUA) - Que o ser humano valoriza posição social não é novidade para ninguém, mas recentemente três fatos me chamaram a atenção por terem exacerbado este sentimento: um provavelmente ocorrido em São Paulo os outros em New York.
O uso do advérbio provavelmente no caso brasileiro justifica-se porque o comentário é feito em cima de um dos milhares de e-mails recebidos dos mais diversos contatos que mantemos através da Internet.
Mas, admitamos que o fato seja verdadeiro. Um material que está sendo divulgado na Internet revela que um professor de Psicologia de uma tradicional universidade de São Paulo decidiu redigir uma tese sobre o comportamento humano de pessoas que ocupam cargos, digamos, mais respeitados em relação àqueles que estão na base social e/ou profissional.
Para comprovar sua teoria, o tal professor resolveu travestir-se de gari durante oito anos, período em que coletou todo o material de pesquisa, fez amizade com vários varredores de rua e com suas famílias e, sobretudo, constatou como os demais julgam estas pessoas “invisíveis”. Ou seja, sequer se dignam a dar um bom dia ou lhes dirigir um sorriso.
Disfarçado em roupas de trabalho, ele chegou a circular pela biblioteca da instituição de ensino onde dá aulas e ninguém sequer o reconheceu, nem mesmo seus colegas de magistério. Lá, pôde tirar cópias e pesquisar livros sem ser importunado ou cumprimentado, justamente por integrar a legião dos “invisíveis”.
Evidentemente, a divulgação de sua tese deve estar provocando crises de arrependimento e justificativas, mas, na verdade, ela serviu somente para demonstrar como o ser humano age, ou seja, é movido por fama, poder e dinheiro – fatores que normalmente andam juntos.
Outro caso significativo ocorreu em New York. O indigitado Bernard Madoff, ex-presidente da Nasdaq – a bolsa de valores de empresas de tecnologia – e autor do maior golpe financeiro da história, perdeu a aura que antes possuía. Este cidadão tungou, através de um esquema de pirâmide, uma quantia avaliada em US$ 50 bilhões dos investidores (o valor é US$ 50 bilhões mesmo!) e agora está enfrentando uma batalha judicial para ressarcir, na medida do possível, as vítimas de sua falcatrua.
Na semana passada, quando tentava andar pelas ruas da Big Apple, ele foi cercado por um batalhão de jornalistas que queriam filmar, fotografar e colher declarações do homem que se transformou no bandido de colarinho branco mais odiado dos Estados Unidos.
Irritado com a presença dos repórteres, ele empurrou um fotógrafo que se interpôs em seu caminho para tirar uma foto. O fotógrafo, no entanto, não se fez de rogado e empurrou Madoff com força, mostrando que ele não atemoriza mais ninguém.
Ao ver aquela cena, fiquei imaginando como poderia ter sido um encontro entre Madoff e aquele fotógrafo um ano atrás. Possivelmente, ele teria ido ao luxuoso escritório do então cidadão acima de qualquer suspeita e seria recebido com deferência. Ele trataria Madoff com mesuras porque a foto poderia ilustrar alguma matéria sobre os gênios dos investimentos – e ele certamente integraria esta lista.
Agora, porém, ele caiu em desgraça e arrastou consigo sua imagem e seu aplomb. Não é o único, porém. Os outrora badalados CEOs das antes valorizadas corretoras de valores também tentam se desvencilhar dos repórteres.
O outro caso ocorreu no final do ano. A esposa de Richard Fuld, ex-CEO da Lehman Brothers, comprou alguns artigos na famosa loja Hermés, mas antes de sair fez um pedido singelo. “Por favor, vocês poderiam colocar os itens em uma sacola branca em vez de uma com o logotipo da loja?”.
O pedido foi atendido, é claro, mas esta é apenas mais uma prova de que o ser humano está sempre interpretando um papel social. O que antes seria um símbolo de prestígio passou a ser uma acusação de desperdício diante da debacle financeira. Então ela tentou, em vão, burlar os vigilantes e irritados acionistas e o povo – que, no final das contas, estavam pagando por suas compras na Hermés.
Fonte:Direto da Redação.
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