Do Diário do Comércio de Belo Horizonte
Carlos Plácido Teixeira
No ambiente das escolas de economia e entre consultores um novo debate tende a ganhar maior dimensão. No centro das discussões, entre teorias e práticas, o papel tradicional do Banco Central, baseado no tripé formado por metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, passa revisões. O prisma de novas propostas possibilita compreender a afirmação da presidente Dilma Rousseff, na África do Sul, para quem o governo é capaz de sacrificar parte do combate da inflação para garantir o crescimento econômico e o emprego, a presidente Dilma Rousseff.
Mal recebida pelo mercado financeiro, a frase reflete uma linha de pensamento que já está sendo posta em prática. “Há mudanças de paradigmas no processo de condução da política monetária pelo BC”, reconhece o professor Pedro Paulo Pettersen, membro do Conselho dos Economistas de Minas Gerais. A mudança envolve estratégias impensáveis para o receituário da ortodoxia econômica. O combate à inflação deixa de ser o único objetivo. “Hoje, são admitidas metas que antes eram consideradas contraditórias, mas que atualmente são necessárias”, assinala o professor.
Como toda mudança ainda muito recente, as rejeições são evidentes. “Muitos analistas querem compreender a atuação do BC com os olhos do século 20”, resume o professor da PUC Minas. O BC passa a combater a inflação com outras medidas, que não fazem parte do cardápio tradicional da política monetária, focada nos juros.
Embate - Certamente, os consensos são poucos e a rejeição é natural, em especial entre os analistas do sistema financeiro, que defendem o papel tradicional da instituição responsável pela preservação da moeda nacional. No cenário em consolidação, o BC pode ter objetivos múltiplos. A lista de prioridades inclui o controle da inflação associado à estabilidade do sistema financeiro, e à busca de alguns níveis de taxa de câmbio. E pode estabelecer algumas medidas macroprudenciais, como o controle de capitais, intervenções no valor da moeda frente ao dólar e depósitos compulsórios de forma mais incisiva. “Mas a independência do BC permanece”, avalia Pettersen.
O economista reconhece que o uso dos outros instrumentos causa ruídos e riscos. A atuação do Banco Central deixa de ser tão previsível. E há a resistência natural de setores que se apegam às estratégias convencionais. “Há uma tendência muito forte do mercado financeiro em chamar uma política de combate à inflação por meio das taxas de juros, por favorecer os mecanismos disponíveis de aplicação financeira. As pressões do mercado financeiro serão cada vez mais crescentes”, reitera.
Pedro Paulo Pettersen rejeita a necessidade de elevação dos juros. Segundo ele, as pressões inflacionárias não têm origem na demanda. Persistem, nas origens, os problemas estruturais de oferta, por conta de ausência de investimentos públicos e privados, os gargalos de infraestrutura e a safra agrícola de 2011 e 2012, que foi abaixo das expectativas. O combate das variáveis com aumento dos juros tende a ser inócuo. Ele defende também uma intervenção ágil do BC no cenário da conjuntura internacional, cada vez mais complexo.
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