Jornal GGN - Em sua
coluna no jornal Folha de São Paulo, Janio de Freitas argumenta que há
sinais de que a campanha presidencial será "grosseira e de escassíssima
inteligência". Para ele, as eleições mostram que o país é "politicamente
primitivo". Ele relembra as campanhas anteriores e diz que não é
surpresa o ressurgimento do gênero "eu tenho medo", largamente utilizado
em outras eleições presidenciais. Leia a coluna abaixo:
Da Folha
A eleição presidencial como um processo de apelações ficou vinculada à democracia brasileira
Janio de Freitas
Os sinais, em momento tão inicial da
disputa, sugerem mais uma campanha grosseira, de escassíssima
inteligência, acafajestada mesmo, não por um lugar de vereador em sertão
de jagunços, mas pela Presidência da República. As eleições tanto
situam o Brasil como uma democracia política quanto o caracterizam como
um país politicamente primitivo: ainda no nível zero em cultura
política.
A primeira campanha presidencial no
pós-ditadura parecia acidental. Os métodos do bando que circundou o
falso "caçador de marajás" não podiam ser o que o Brasil tinha a
mostrar, eleitoralmente, depois do regime dos retardados políticos e
culturais. A intimidação, a violência, a corrupção escancarada entre o
poder econômico e o bando do "caçador" compuseram, porém, o modo de
buscar a preservação das condições econômicas e sociais. Modo por fim
consagrado com ordinarices policiais e televisivas.
Não mais se chegou a tanto. Mas a
eleição presidencial como um processo de deformações e apelações
grosseiras ficou vinculada à democracia política à brasileira. Na
segunda eleição presidencial pós-ditadura, as exacerbações petistas
foram o falso pretexto para a retirada da igualdade de condições entre
os candidatos, com a aberração do favorecimento ao preferido pelo que
muitos chamam de poder midiático. Força transplantada para a terceira
disputa eleitoral, a da primeira reeleição, e mantida nas seguintes com a
artilharia das acusações e do clima "eu estou com medo".
Lideranças na Câmara e no Senado agem,
neste princípio de campanha, como pequenos discípulos do "caçador de
marajás": para tudo têm ferozes acusações de crime e ações judiciais
prontas. Na hora de ir para a CPI, com a oportunidade de fazer
interrogatórios substantivos sobre ocorrências na Petrobras, nenhum é
visto. Estão em inventado recesso, não como caçadores, mas como marajás
do Congresso.
Não surpreende, nesse gênero de
campanha, o constatado ressurgimento do sórdido gênero "eu tenho medo".
Com o qual a campanha pró-Aécio, na internet, associa Eduardo Campos à
ameaça, em caso de vitória sua, de socialização dos bens particulares.
Como começo da eleição presidencial à brasileira, não poderia ser mais sugestivo.
SELETIVOS
O noticiário sobre os negócios e
ligações do doleiro Alberto Youssef refere-se, com frequência, a R$ 10
bilhões que ele teria movimentado em operações de lavagem de dinheiro e
remessas para contas sigilosas no exterior. Com o interesse eleitoreiro
de fixar o caso nas relações entre Youssef e pessoas que possam
comprometer a Petrobras e o governo Dilma, os bilhões pairam no
noticiário como almas penadas. A própria Polícia Federal não lhes dá um
sentido.
É o que não falta, porém. As remessas
por meio de doleiro, para depósito em contas sigilosas no exterior, são a
mais usada cobertura de corrupção paga a representantes de governo por
empreiteiras de obras públicas e grandes fornecedores.
As relações de Youssef nesses setores
são notórias. Se as suas ligações com gente da Petrobras e do Congresso
são levantadas e noticiadas, seria razoável ver o mesmo com nomes de
empreiteiras e de seus dirigentes que motivaram o movimento dos tais
bilhões, ou de um punhado deles.
É curioso como tudo se desencaminha quando chega às empreiteiras.
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