Jornal Nacional não mede insistência com Dilma, e resultado é um debate pobre




Jornal GGN - Em 2010, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) disputava a Presidência sob tutela de Lula, o Jornal Nacional convidou a candidata para uma entrevista em rede nacional. O escândalo do mensalão no Congresso, de 2005, não foi explorado pelos jornalistas globais da maneira como foi nesta segunda (18). Naquela época, aparentemente, interessava à Globo cutucar o perfil de Dilma, a gestora “durona”, e a falta de experiência nas urnas. Dessa vez, o âncora William Bonner quis saber se a presidente não se acha “condescendente” com a corrupção. “Qual a dificuldade de se cercar de pessoas honestas?”, indagou.
Em quase sete minutos de um total de 15, Bonner e Dilma discutiram os escândalos envolvendo diversos órgãos das Esplanada (parecia que ele iria citar os 39 setores com status de ministério), a troca de titulares sob pressão de partidos aliados e o mensalão. Agora, o jornalista tinha aval para dizer que o PT tratou como “heróis” uma ala de “corruptos comprovados, julgados, condenados e enviados para a cadeia pelo Supremo Tribunal Federal”.
Bonner está no Jornal Nacional há muito mais tempo do que Dilma está no primeiro mandato. Ele e todos os jornalistas sabem que a presidente, nos últimos quatro anos, manteve silêncio sobre a Ação Penal 470. Agora que o processo acabou, Dilma limita-se a dar uma resposta protocolar sobre o caso: não emite, como chefe do Executivo Nacional, opinião sobre as decisões do STF, um Poder autônomo.
A resposta pronta não invalida a pergunta, mas a insistência de Bonner durante quase metade do tempo total da candidata com uma questão que não avançava? Com Aécio Neves (PSDB) e a história do aeroporto de Cláudio, não aconteceu. Houve objetividade e senso para seguir a entrevista sem prejudicar o postulante.

Saúde e reforma federativa

Quando o assunto mudou de corrupção para saúde, Dilma conseguiu explicar a Patrícia Poeta que o Mais Médicos tratou de corrigir a deficiência no atendimento básico, e que, em uma segunda fase do programa, o governo federal vai focar nas especialidades. Isso associado a uma reforma federativa que deve rever o papel dos Estados, municípios e União no financiamento da saúde.
Mas a explicação de Dilma não pôde ser concluída com mais intervenções. Bonner ameaçou não ter tempo para falar de economia. Poeta colocou um ponto final sugerindo que as respostas da presidente foram insatisfatórias, pois o centro da questão eram os "12 anos de governo do PT, três mandatos” e nenhum avanço.

A entrevista caminhou, então, para a economia, e Dilma também teve dificuldade de falar. Agora, com Bonner insistindo em um cenário catastrófico para o próximo ano e Poeta lembrando que o tempo de transmissão estava a cada segundo mais escasso. A presidente afirmou que um cenário melhor para a economia é projetado para o segundo semestre.
À parte a dificuldade de Dilma com perguntas longas, fato é que o JN, ao contrário do que fez com Aécio, não colocou limites à insistência. E ao contrário do que fez com Eduardo Campos (PSB), também não deixou espaço para que Dilma apresentasse propostas claras. Nem ao menos controle do tempo para que ela tivesse direito a 1 minuto e meio de exposição, como todos os adversários tiveram, o programa garantiu. Quem perdeu foi o debate eleitoral, empobrecido.