Por que o Ibope desanimou os colunistas tucanos
Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania
Em tese, a última pesquisa Ibope sobre intenções de voto para presidente da República deveria ter sido daquelas contra as quais ninguém chia, pois manteve os principais candidatos a presidente praticamente onde estavam no mês passado – os que “subiram” (Aécio Neves e Eduardo Campos), foi dentro da margem de erro.
Ainda assim, tanto no pré-Ibope quanto no pós o que se viu foram manifestações explícitas ou implícitas de desalento por parte de alguns dos principais colunistas aliados do PSDB na grande imprensa, aqueles que só sabem criticar o PT e que, à diferença do que acontece em relação a este, não se indignam com escândalos como aécioportos e cartéis.
Tomemos como exemplo o colunista e blogueiro da Globo Ricardo Noblat e a colunista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde. De quinta para sexta-feira, parece que lhes caiu a ficha de que se Dilma tem problemas maiores com intenções de voto neste ano do que tinha em 2010, com a oposição ocorre pior: Aécio e Eduardo é que precisam deslanchar – já que Dilma está bem à frente deles –, mas não deslancham.
Antes de prosseguir, confira abaixo, respectivamente, o texto de Cantanhêde e, em seguida, o de Noblat.
FOLHA DE SÃO PAULO
7 de agosto de 2014
BLOG DO NOBLAT
8 de agosto de 2014
Deste jeito, Dilma poderá ganhar no 1º
turno
A um ano da eleição presidencial de 2002, em
conversa com um grupo de empresários paulistas, José Dirceu, coordenador da
quarta campanha consecutiva de Lula a presidente da República,
comentou:
- A eleição está liquidada. Lula ganhará – só
não sabemos ainda se no primeiro ou segundo turno. Começamos a discussão interna
sobre com quem governaremos.
O comentário de Dirceu foi mais ou menos
repetido na semana passada por um estrelado membro da campanha de Dilma Rousseff
à reeleição. Faltou apenas dizer que a candidata já se preocupa com quem
governará.
Faz sentido?
Faz, sim. A não ser que ocorra um poderoso
imprevisto. Do tipo: a filha de Dilma guarda a chave do aeroporto de Porto
Alegre.
O caso do aeroporto mineiro de Cláudio,
construído em terras da família de Aécio Neves, atrapalhou o desempenho do
candidato do PSDB a presidente durante o mês de julho. Até hoje ele ainda se
explica por que como governador de Minas Gerais gastou R$ 13 milhões para
asfaltar a pista do aeroporto.
Descobriu-se que ele investiu dinheiro
público em outro aeroporto – o de Montezuma, a pequena distância de uma fazenda
sua.
Eduardo Campos, candidato do PSB à vaga de
Dilma, atravessou julho desnorteado a prometer o que poderá ou não fazer caso se
eleja. Enfrenta o dilema hamletiano de ser ou de não ser uma pálida sombra do
que foi Marina Silva na eleição de 2010.
Dilma chegou ao início de agosto próxima do
confortável teto de 45% das intenções de voto. Voltou à situação de quem poderá
liquidar a eleição no primeiro turno. Ou de passar para o segundo precisando de
poucos votos a mais para se reeleger.
Agosto marca o início do período de 45 dias
de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Devido ao grande número de
partidos que a apoiam, Dilma contará com mais do dobro do tempo de propaganda de
Aécio e com o mais do triplo do tempo de propaganda de Eduardo. É uma vantagem e
tanto.
A eleição presidencial deste ano é candidata
à passar à História como aquela onde faltou uma oposição capaz de corresponder
ao majoritário desejo de mudança dos brasileiros.
Se não tem tu, vai tu mesmo, Dilma!
Eis, então, que os adeptos do autoengano argumentarão que os números do Ibope mostram Aécio e Eduardo subindo, ainda que dentro da margem de erro, e Dilma “estagnada”. Mas os oposicionistas estão subindo quando e como? Estão subindo dentro da margem de erro (2 pontos percentuais) e no primeiro turno.
Novamente, os antipetistas dirão que Aécio e Eduardo cresceram no segundo turno e acima da margem de erro (Aécio e Eduardo cresceram três pontos) e Dilma, nessa incerta segunda etapa da eleição, cresceu dentro da margem de erro (1 ponto).
Sim, é verdade. A pesquisa, tal qual foi apresentada, ainda que dentro da margem de erro favorece mais a oposição.
Abaixo, os gráficos apresentados pelo Jornal Nacional na última quinta-feira (7/8).
Os colunistas tucanos já explicaram que Dilma está chegando ao horário eleitoral – quando terá o dobro do tempo de Aécio e o triplo do de Eduardo – com larga vantagem, mas não explicaram que eles e o próprio PSDB esperavam que ao menos um dos oposicionistas chegasse a essa fase tecnicamente empatado com Dilma.
Mas o que mais esses colunistas – e vários outros que estão desanimados – não disseram sobre a pesquisa Ibope em termos de seu poder depressor de tucanos? Nem Cantanhêde, nem Noblat e nem qualquer outro tucano do partido tucano ou da imprensa tucana dirão, mas eles estão desanimados por estarem comparando essa pesquisa com a do Datafolha do mês passado.
O Datafolha de julho apresentou números parecidos com o do Ibope recém-divulgado, certo? Sim, certo, mas só no primeiro turno. Veja, abaixo, matéria da Folha de São Paulo de 17 de julho último.
Como se vê, o Datafolha deu uma de black bloc e jogou uma bomba na praça: Dilma e Aécio estariam tecnicamente empatados em um eventual segundo turno. A bomba foi tão poderosa que o próprio governo federal acabou se fazendo ouvir sobre seu inconformismo com aquela projeção de segundo turno.
No dia 18 de julho, este Blog ouviu fontes do governo para publicar o post Governo Dilma duvida do Datafolha, principalmente sobre 2º turno.
Naquele momento, o governo afirmava que pesquisas que o Vox Populi faz para o PT mostravam números bem melhores para Dilma tanto no primeiro como no segundo turnos. Porém, no segundo turno a diferença era gritante.
Daquela pesquisa Datafolha em diante, as outras não mostraram números parecidos no segundo turno. Inclusive a que o Ibope acaba de divulgar.
O que se extrai de tudo isso é que:
A) o Datafolha, assim como em 2010, tentou forçar a barra com uma profecia pretensamente autorrealizável sobre o 2º turno – do tipo que se realiza simplesmente por ter sido feita –, mas os números do Ibope mostram que a estratégia fracassou, já que Dilma aparece com seis pontos à frente de Aécio;
B) O tempo para uma reação oposicionista se esvai e nada muda, o que é muito ruim para a oposição porque em 2010, a esta altura, os dois principais candidatos de oposição (José Serra e Marina Silva), somados, tinham 39% e, hoje, têm 32%, enquanto que Dilma está exatamente onde estava há quatro anos.




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