quinta-feira, 26 de novembro de 2015

VENEZUELA - a Cuba de Macri

Venezuela, a Cuba de Macri

Macri pode estar querendo transformar a Venezuela no que foi Cuba para Menem e para Fernando de la Rúa: uma forma de se distinguir do resto dos países.


Por Martín Granovsky, para o Página/12
Site Oficial Mauriciomacri.com.ar
O presidente eleito parece ter decidido mostrar qual será o seu papel na América do Sul: ser a única voz discordante sobre a Venezuela. Nem mesmo o centro direitista Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, questiona o regime de Nicolás Maduro em temas de política interna. As diferenças entre ambos há dois meses tinham relação com um conflitos na fronteira, com o contrabando e a ação de paramilitares, e terminaram sendo resolvidas através de um diálogo, que contou com a ajuda do Brasil e da Argentina.

Mauricio Macri afirmou que trabalhará para tirar a Venezuela do Mercosul. Para isso necessita do consenso dos demais sócios – Brasil, Uruguai e Paraguai, os demais membros plenos do bloco, precisam dizer que sim a Macri.

Ao menos está claro que o Brasil não fará isso. E a prova é que já não o fez. Não o fez com Lula, nos tempos em ele e Hugo Chávez eram presidentes. Tampouco o fez Dilma Rousseff, nos últimos anos de Chávez e nos primeiros de Maduro. Em situações de crise, Lula falava muito com o presidente venezuelano, e pedia moderação – logo fez o mesmo com Maduro, já quando ele era ex-presidente. Mas sempre em privado. Agora tanto Lula quanto Dilma esperam com calma o resultado das eleições parlamentares do próximo dia 6 de dezembro.

Macri também anunciou que enviará ao Congresso um projeto para derrubar o tratado com o Irã. Se trata de um assunto diferente, porque não muda as relações com a América do Sul. Em todo caso, pode molestar o kirchnerismo, que apostou num pacto que Teerã nunca cumpriu, e que, de verdade, era impossível que cumprisse. Mas isso não altera os vínculos com o Brasil, a Venezuela e o resto do Mercosul.

O presidente eleito anunciou as duas medidas juntas, e talvez tenha querido enviar uma mensagem ao establishment dos Estados Unidos. Ou quem sabe tentou dizer que ele não será o presidente do pacto com o Irã, e menos ainda o das relações especiais com a Venezuela. Se o segundo caso for certo, Macri pode estar querendo transformar a Venezuela no que foi Cuba para Carlos Menem e para Fernando de la Rúa: uma forma de se distinguir do resto dos países. Menem inclusive chegou a construir uma relação especial com o anticastrista Jorge Mas Canosa, da Fundação Cubano Americana, para fortalecer essa imagem.

Mauricio Macri já havia resolvido mostrar com o tema da Venezuela uma postura diferente da tendência da região. A Fundação Pensar (reduto do pensamento macrista), fortaleceu laços com a oposição do país. No último debate do segundo turno eleitoral, Macri usou o tema e afirmou que defenderia uma suspensão ao país, para pressionar Scioli.

A carta que rege o Mercosul contempla a cláusula de Ushuaia, a que afirma que um país pode ser separado quando exista uma “ruptura da ordem constitucional”, ou quando não se verifique “a plena vigência da ordem democrática”. Com esse argumento, o bloco apartou o Paraguai após o golpe de Estado contra Fernando Lugo, em 2012 – quando o Senado do país submeteu o então presidente ao juízo político mais rápido da história, e o substituiu pelo vice Federico Franco, amigo de Macri e cliente do seu assessor Jaime Durán Barba.

Lilian Tintori, esposa do opositor venezulano Leopoldo López, esteve em Buenos Aires durante o triunfo de Macri. Apareceu festejando e tirando fotos com os vencedores.

Segundo informação do canal TeleSur, López foi condenado a 13 anos de prisão “por delitos que vão desde incitação à desordem, intimidação pública e danos à propriedade pública, até o homicídio intencional qualificado executado por motivos fúteis”. A Justiça determinou que ele é culpado no caso de incitação dos atos que terminaram em violência e mortes, em várias manifestações realizadas no país, em fevereiro de 2014. Segundo o ex-promotor Franklin Nieves, entrevistado pela CNN en Español, “as provas contra López são falsas”.

A pergunta é se, independente das controvérsias internas na Venezuela, é conveniente à América do Sul fazer outra coisa que não seja ajudar.

Tradução: Victor Farinelli

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