O ESPALHADOR DO CAMPO DO ÓDIO – Tenho conseguido manter distância dos torneios de ódio que tomaram conta das redes sociais de um tempo para cá. Sou até assinante de apelos coletivos no sentido de que cessem as agressões que tomam conta de um espaço que deveria contribuir para o debate, a troca de ideias.
Nos últimos dias, aliás, frequentei o Facebook a propósito do debate de que participei no programa Roda Viva, da TV Cultura, do qual fui o entrevistado em 21/12. Recebi centenas de mensagens de parabéns.
Não demorou, porém, a que me acertassem uma pedrada virtual.
Partiu de Carlos Brickmann, portador de carteirinha de jornalista, um sujeito até brincalhão, mas que é dado à prática de agredir pessoas das quais discorda.
Eu, por exemplo
. No ano passado, em função de minha posição contrária ao massacre de Gaza pelos senhores da guerra de Israel, Brickmann disparou contra mim uma saraivada de insultos, dos quais o mais leve é que sou um perigoso antissemita, inimigo do povo judeu.
Para ele, ser amigo do povo judeu era concordar com o banho de sangue que os generais israelenses promoveram em Gaza. Expus a minha posição contraria ao massacre, assim como sempre me manifestei contra os crimes praticado pelos nazistas contra o povo judeu. Ou pelos generais brasileiros do golpe de 1964, contra centenas de brasileiros que se opunham ao regime, entre os quais vários judeus, um deles chamado Vlado Herzog.
Quem conhece a minha história sabe quais são as minhas posições. Ninguém encontrará em textos que escrevi, em jornais, revistas ou em livros, qualquer palavra de apoio à violência contra os judeus ou qualquer outro povo.
Por falar em livro, num dos que escrevi, "As duas guerras de Vlado Herzog" (Prêmio Jabuti, Livro do Ano de Não Ficcção de 2013) o nome de Brickmann é citado(p. 207) por um belo gesto de solidariedade que o levou a oferecer ao escritor Fernando Morais, então cassado como comunista, passaporte israelense e passagem aérea para Tel-Aviv.
Foi o simples registro de uma informação verdadeira.
Já não é verdadeiro o pensamento que ele me atribuiu, entre aspas e tudo: "Como os judeus são maus, perversos e sanguinários".
Escreveu isso num texto que postou no Facebook, no Natal, mais uma vez afirmando que sou contra o povo judeu.
Tudo isso por causa do compartilhamento que fiz de um cartão de Natal assinado pelo artista inglês Robert Banksy, conhecido internacionalmente, no qual, diante as alturas do muro que separa Israel da Palestina, aparecem, miúdas, as figuras de José, Maria e o burrico que os levaria a Belém. (Veja abaixo).
Escrevi sob a cena uma pergunta óbvia: "E se fosse hoje, onde o Menino ia nascer?"
A legenda foi censurada por Brickmann, apesar de a Constituição Brasileira me garantir plena liberdade de expressão.