Temer tem que responder mais do que as 82 perguntas da PF, por Janio de Freitas

 
Jornal GGN - Além das 82 perguntas enviada pela Polícia Federal, o presidente Michel Temer precisa responder muitas outras questões, diz o colunista Janio de Freitas, apontando as movimentações do peemedebista pouco antes e depois da prisão de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer. 
 
Na sexta, antes de Loures ser preso pela PF, o presidente foi para São Paulo dialogar com Geraldo Alckmin, na tentativa de evitar a saída do PSDB do governo. Temer voltou para Brasília no mesmo dia, e, no sábado, viajou novamente para a capital paulista, após a prisão do ex-deputado, para conversar com seu advogado. 
 
“Não é admissível que o presidente da República precisasse viajar a São Paulo, na manhã de sábado, para estar com um advogado”, diz Janio, afirmando que o normal e corriqueiro é que o defensor vá até Brasília. “O que Temer buscou na inexplicada ida ao seu escritório em São Paulo?”, questiona o colunista.
 
Leia a coluna abaixo:
 
Da Folha
 
 
Por Janio de Freitas
 
Michel Temer nem entregou as respostas às 82 perguntas da Polícia Federal e novas indagações já precisam ser juntadas à listinha.
 
Com elas não faz sua estreia no setor aéreo, é um retorno merecido pela contribuição à desordem moral do governo.
 
A começar pelo episódio mais recente, depara-se com Temer em São Paulo, noite da última sexta-feira, para conversar com Geraldo Alckmin. O noticiário avisara da visita para pedir a permanência do PSDB no governo.
 
Sem dúvida, foi mais do que isso. Um negócio: Alckmin conteria a ruptura, defendida por parte da bancada paulista, e em troca já teria assegurado o apoio do governo na eleição presidencial de 2018. Temer propunha pagar com o futuro que não tem.
 
A volta a Brasília se dá na mesma noite. Se dormiu, muito cedo Temer foi acordado pelo aviso de que Rodrigo Loures, o seu auxiliar "de toda confiança" e da mala com R$ 500 mil, era preso naquele momento, ainda seis e pouco. Temer não dirá se foi esse fato ou uma súbita lembrança, um raio de memória no correr da noite, que o levou a providenciar, tão cedo, uma volta urgente a São Paulo.
 
Temer recebeu no seu escritório paulistano o advogado que o defende, ou defenderá. Mesmo sendo o exótico Temer, não é admissível que o presidente da República precisasse viajar a São Paulo, na manhã de sábado, para estar com um advogado. Se necessária a conversa, dada a prisão de Loures, o normal seria o chamado ao defensor, caso o receio de gravação telefônica predominasse.
 
Assim foi em encontros, no Jaburu e no Planalto, de Temer com o advogado Antonio Claudio Mariz.
 
A viagem, em suas condições anômalas, se decorrente da prisão de Loures, seria como uma confissão de envolvimentos a requererem decisões advocatícias, considerada a possibilidade de delações do auxiliar. Não seria conveniente fazê-la, razão bastante para que o advogado experiente não a aprovasse e, muito menos, dela participasse.
 
O que Temer buscou na inexplicada ida ao seu escritório em São Paulo?
 
Em termos genéricos, sem precisão identificadora, as hipóteses são poucas, e bastam. Coisas sugeridas por se tratar da viagem e do escritório de alguém que se cerca e enche o governo de inválidos morais. Indicação suficiente a seu próprio respeito.
 
A viagem de Temer sugere variadas perguntas da PF. Mas não só. Pede o que tem sido raro, como se delações bastassem: pede investigação.
 
O mesmo requer o caso mais simples da viagem aérea do casal Temer a Comandatuba, Bahia. O uso de um avião de Joesley Batista foi negado pela assessoria de Temer, que disse haver viajado em avião da FAB.
 
Mentira que até impressiona mais pelo primarismo, sem prever o mais óbvio: a verificação na FAB. Então Temer se lembra, ah, sim, era avião particular, mas nunca soube de quem. Mentira outra vez: o dono delatou o telefonema de Temer para queixar-se de florida gentileza com sua mulher.
 
Na desordem moral instalada no Brasil, não bastam as grandes patifarias que seguem a história. O governo desce até às miudezas das tapeações infantis ou obtusas, protegido pelos interesses de
retrocessos legais e sociais.
 
EM FALTA
 
Não é um fato banal a contradição do PSDB, que integra e sustenta o governo encabeçado por aquele cuja cassação, hoje sob julgamento no TSE, foi pedida pelo próprio PSDB. Há nisso uma falta de dignidade que compromete todos os comandos do partido, política e pessoalmente.