sábado, 1 de abril de 2023

"Para que não se esqueça"

 

“Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”
"A primeira forma de torturar foi me arrancar a roupa. Lembro-me que ainda tentava impedir que tirassem a minha calcinha, que acabou sendo rasgada.
Começaram com choque elétrico e dando socos na minha cara. Com tanto choque e soco, teve uma hora que eu apaguei.
Quando recobrei a consciência, estava deitada, nua, numa cama de lona com um cara em cima de mim, esfregando o meu seio.
Era o Mangabeira [codinome do escrivão de polícia de nome Gaeta], um torturador de lá.
A impressão que eu tinha é de que estava sendo estuprada.
Aí começaram novas torturas. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido.
Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. A gente sentia muita sede e, quando eles davam água, estava com sal.
Eles punham sal para você sentir mais sede ainda. Depois fui para o pau de arara. Eles jogavam coca-cola no nariz.
Você ficava nua como frango no açougue, e eles espetando seu pé, suas nádegas, falando que era o soro da verdade.
Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão.
Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques. Quando me viu, a Janaína perguntou: ‘Mãe, por que você está azul e o pai verde?’.
MARIA AMÉLIA DE ALMEIDA TELES, ex-militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), era professora de educação artística quando foi presa em 28 de dezembro de 1972, em São Paulo (SP) pela ditadura militar no Brasil.

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