Você certamente já ouviu a frase “não repare a bagunça” durante uma visita. Em Piracicaba, interior de São Paulo, de onde eu venho, é rotineiro, mas acredito que seja um lugar comum essa história de se desculpar previamente por algum incômodo que possa vir a acontecer. Porque, no fundo, a gente quer que tudo esteja na mais perfeita ordem. E mudar é desconfortável. Mas, ao mesmo tempo, abre espaço para olhar pelo retrovisor, refletir, ver o que deve permanecer e o que deve ser deixado para trás.
Não poderia chamar de começo, afinal, o Intercept tem uma longa história, mas podemos chamar de novo ciclo: desde 21 de março, o site do Intercept Brasil adicionou um BR após o “pontocom” e abandonou o “the”. Uma das mudanças bem perceptíveis é que agora criamos categorias para nossas reportagens – poder, direitos, segurança, meio ambiente e tecnologia – para facilitar sua navegação. Também aprimoramos a página de apoiadores e estamos trabalhando para melhorar as páginas de contatos, equipe e fontes. Sim, temos um portal só nosso e uma miríade de desafios internos e externos.
No meio disso tudo, completo essa semana um mês na equipe. Depois de mais de uma década focada em fazer reportagens e uma vida inteira comprometida com a defesa inegociável dos direitos humanos, passo a integrar esse time que admirava como leitora e agora tenho orgulho de fazer parte. Permita-me me apresentar: sou Maria Teresa Cruz, mas todo mundo aqui já me chama de Tetê. Assumi a coordenação de estratégia e operações.
Sou jornalista formada pela Cásper Líbero, e atuei como repórter em várias redações da grande imprensa (que prefiro chamar de hegemônica, pois, sabemos, serve ao interesse de quem detém o poder e, portanto, controla a narrativa). Até que uma insatisfação me arrebatou e passei a buscar novas possibilidades de contar as histórias que sempre julguei importantes: as de pessoas que tiveram violados seus direitos fundamentais e para quem sobravam, quando muito, notas de rodapé. Não é difícil imaginar, usando uma palavra da moda, que rolou um “match” entre mim e o Intercept.
O tempo passou e a forma de se informar também, afinal, temos hoje um público de milhões em plataformas como TikTok, que há muito se tornaram bem maiores que as dancinhas da moda e viraram ferramentas para você se informar.
A forma mudou. O que não mudou – nem pode mudar – é a essência da missão que a gente se propõe a cumprir. Fazer esse constante regresso à origem auxilia a reforçar as bases fundamentais do jornalismo de impacto em que eu – e meus colegas, assumo sem medo de errar – acredito.
Chego no Intercept neste momento. E, olha só que louco (porque não acredito em coincidência, não), estou escrevendo esse texto e falando sobre memória e missão exatamente na semana em que o vergonhoso e infame golpe civil-militar de 1964 completa 59 anos. E, para a surpresa de absolutamente ninguém, considerando o grande acordo com o baile todo que houve para o processo de redemocratização, a gente assistiu a outro golpe e a um governo civil-militar chegar ao poder. Aquela velha e importante história: lembrar para não esquecer.
Se o passado traz memória, e o futuro, sonhos, o presente traz ação, porque é ele o único lugar possível. E isso é de uma potência incrível. O que quero dizer é que mudam formatos, espaços, mas o propósito não. Ao contrário, se mostra cada vez mais necessário. Cheguei para coordenar mudanças que percebemos necessárias. Do site (que é visível para você, e, repito, perdoe a eventual bagunça) até processos, formas de fazer, de planejar, de pensar.
Dois pilares dessa nova fase são integração e comunicação. Isso vai resultar em produtos diversificados que contem, de formas diferentes, a mesma história. Uma reportagem em texto se desdobra em um vídeo para YouTube, em um trecho do áudio impactante de um personagem para Instagram e um conteúdo didático abordando outros aspectos para TikTok. Já fazemos isso, mas iremos sistematizar essa prática.
Vamos também aprimorar as boas práticas de trocas internas, com um fluxo definido e mais clareza nos objetivos. No final das contas, essa organização reflete também em você, nosso público, porque reforça valores como a transparência e a credibilidade.
Por isso, peço licença para entrar nesse time e construir junto com todo mundo, inclusive você, essa nova jornada que objetiva transformar o que precisa ser revisto e reforçar o jornalismo corajoso e de impacto que fez o Intercept chegar até aqui. Uma honra. Vamos juntas e juntos! |
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