Por Natuza Nery
BRASÍLIA (Reuters) - Longe do poder nacional há seis anos, a oposição no Brasil tende a sair menor das eleições municipais de domingo, o que poderia reduzir seu poder de fogo para a sucessão presidencial em 2010.
"Nos últimos dois anos, a oposição ficou sem pauta e já chegou a esta eleição muito fraca. Em 2005 e 2006, a oposição teve a bandeira do moralismo, da defesa da ética, que se esgotou em 2006 com a reeleição de Lula", disse Alessandra Aldé, cientista política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
A maior cartada da oposição estaria em São Paulo, mas questões internas do PSDB a deixaram dividida no primeiro turno. Por conta disso, apesar de o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que assumiu quando o tucano José Serra se candidatou ao governo do Estado, tentar a reeleição, o PSDB lançou Geraldo Alckmin na disputa.
As duas candidaturas fragmentaram o eleitorado e sinalizaram uma desunião com possíveis implicações para o futuro. A beneficiária imediata dessa divisão foi Marta Suplicy (PT), que está garantida no segundo turno.
Em Salvador, outra esperança oposicionista, ACM Neto (DEM) chegou a liderar boa parte da disputa, mas sua presença no segundo turno é incerta. A última pesquisa Datafolha apontou empate triplo entre ele, o prefeito João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT), ambos de partidos da base aliada do governo.
Se for derrotada nessas frentes --tábua de salvação das duas principais legendas adversárias ao governo federal--, a oposição não só perde musculatura em termos reais, mas fica seriamente desidratada para a sucessão presidencial em dois anos.
"Quando acabar essa eleição, tudo vira 2010", disse o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).
CRISE NO CASAMENTO
Divididos por conta de dilemas locais, DEM e PSDB devem fazer as pazes depois do pleito municipal se quiserem se constituir como força alternativa ao candidato do governo Lula em 2010.
Se Marta Suplicy vencer em São Paulo, a oposição perde, e feio. O governador José Serra, que bancou Kassab até mesmo contra o colega de sigla, também sairia arranhado.
Por outro lado, se Kassab vencer, dizem políticos dos dois lados, Serra mais que duplica sua força dentro e fora do PSDB.
"A supremacia Serra se estabelece com clareza", avaliou Aleluia.
Gilberto Kassab abriu 8 pontos de vantagem sobre Alckmin, segundo a pesquisa mais recente do Datafolha. Ele também ultrapassou Marta nas projeções de segundo turno.
"Vamos continuar mantendo excelentes relações (com o DEM) e continuar juntos daqui a dois anos", disse à Reuters o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vem discutindo com a cúpula do DEM as condições para a aliança no 2o turno em São Paulo e se comprometeu a atuar pessoalmente para aparar arestas com o partido aliado.
O argumento é de que uma chapa anti-PT no 2o turno deve estar acima das diferenças no 1o turno. Mais: o antipetismo deve estar forte para a disputa nacional em 2010, reforça o ex-presidente.
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