segunda-feira, 27 de outubro de 2008

REFLEXÕES DE FIDEL - O analfabetismo econômico.

Havana, 27 out (Prensa Latina) O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, expressou que quando um povo deixa o analfabetismo para trás, sabe ler e escrever, e possui um mínimo indispensável de conhecimentos para viver e produzir honradamente, ainda lhe faltaria vencer a pior forma de ignorância em nossa época: o analfabetismo econômico.
"Só assim poderíamos saber o que está ocorrendo no mundo" explica Fidel Castro em um artigo intitulado "O analfabetismo econômico" que reproduz hoje a imprensa nacional.

Acrescenta que "grande número de países do Terceiro Mundo, exportadores de produtos e matérias-primas com pouco valor agregado, somos importadores de produtos de consumo chineses, que costumam ter preços razoáveis, e equipamentos do Japão e da Alemanha, os quais são cada vez mais caros".

Acrescenta que "ainda que a China cuide para que o yuan não se supervalorize, como os ianques exigem sem parar para proteger suas indústrias da concorrência chinesa, o valor do yuan aumenta e o poder aquisitivo de nossas exportações diminui".

Explica que "o preço do níquel, nosso principal produto de exportação, cujo valor atingiu em mais de 50 mil dólares a tonelada não faz muito, nos últimos dias mal ultrapassa os 8.500 dólares por tonelada, isto é, menos de 20% do preço máximo atingido".

Também afirma que "o do cobre reduziu para menos de 50%; assim sucessivamente ocorre com o ferro, alumínio, estanho, zinco e todos os minerais indispensáveis para um desenvolvimento sustentado. Os produtos de consumo, como café, cacau, açúcar e outros, para além de todo sentido racional e humano, em mais de 40 anos mal aumentaram seus preços".

Recorda que "por isso não faz muito tempo eu advertia igualmente que, como conseqüência de uma crise que estava muito próxima, os mercados seriam perdidos e o poder aquisitivo de nossos produtos seria reduzido consideravelmente".
Afirma que "nessa circunstância, os países capitalistas desenvolvidos sabem que suas fábricas e serviços paralisam, e só a capacidade de consumo de grande parte da humanidade já nos índices de pobreza, ou abaixo destes, poderia os manter funcionando".

A Prensa Latina transmite a seguir o texto íntegro:


Reflexões do camarada Fidel: O ANALFABETISMO ECONÔMICO


Chávez falou em Zulia sobre o "camarada Sarkozy", e o disse com certa ironia, mas sem intenção de ferí-lo. Pelo contrário, mais bem quis reconhecer sua sinceridade quando, em sua condição de Presidente rotativo da Comunidade dos Países Europeus, falou em Beijing.

Ninguém proclamava o que todos os líderes europeus conhecem e não confessam: o sistema financeiro atual não serve e tem que ser mudado. O Presidente venezuelano exclamou com franqueza:

"É impossível refundar o sistema capitalista, seria como uma tentativa de pôr o Titanic para navegar depois de estar no fundo do Oceano."

Na reunião da Associação das Nações Européias e Asiáticas, na qual participaram 43 países, Sarkozy fez confissões notáveis, segundo os informes:

"O mundo vai mal, enfrenta uma crise financeira sem precedentes por sua magnitude, rapidez, violência, e suas conseqüências sobre o meio ambiente põem em questão a sobrevivência da humanidade: 900 milhões de pessoas não têm os meios para se alimentar.

"Os que participamos nesta reunião representamos dois terços da população do planeta e a metade de suas riquezas; a crise financeira começou nos Estados Unidos, mas é mundial e a resposta deve ser mundial."

"O lugar para uma criança de 11 anos não é a fábrica, mas a escola".

"Nenhuma região do mundo tem lição que dar a ninguém." Uma clara alusão à política dos Estados Unidos.

Ao final recordou diante das nações da Ásia o passado colonizador da Europa nesse continente.

Se o Granma tivesse assinado essas palavras, diriam que se tratava de um clichê da imprensa oficial comunista.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse em Beijing que não se podia "prever a natureza e duração da crise financeira internacional em curso. Trata-se, nem mais nem menos, da criação de uma nova carta constitutiva das finanças." Nesse mesmo dia foram divulgadas notícias que revelam a incerteza geral desatada.

Na reunião de Beijing, os 43 países da Europa e Ásia concordaram que o FMI deveria ter um papel importante assistindo aos países gravemente afetados pela crise, e apoiaram uma cúpula inter-regional em busca da estabilidade em longo prazo e o desenvolvimento da economia do mundo.

O presidente do governo espanhol, Rodríguez Zapatero, declarou que "tinha uma crise de responsabilidade na qual uns poucos se enriqueceram e a maioria está se empobrecendo", que "os mercados não confiam nos mercados". Exortou aos países que fujam do protecionismo, convencido de que a concorrência faria que os mercados financeiros fizessem seu papel. Não foi oficialmente convidado à cúpula em Washington pela atitude rancorosa de Bush, que não perdoa a retirada das tropas espanholas do Iraque.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, apoiou sua advertência sobre o protecionismo.

O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, reunia-se por sua vez com eminentes economistas para tentar evitar que os países em desenvolvimento sejam as principais vítimas da crise.

Miguel D'Escoto, ex-ministro de Relações Exteriores da Revolução Sandinista e atual presidente da Assembléia Geral da ONU, solicitava que o problema da crise financeira não fosse discutido no G-20 entre os países mais ricos e um grupo de nações emergentes, mas nas Nações Unidas.

Há disputas a respeito do lugar e da reunião onde deve se adotar um novo sistema financeiro que ponha fim ao caos e à ausência total de segurança para os povos. Existe grande temor de que os países mais ricos do mundo, reunidos com um grupo reduzido de países emergentes golpeados pela crise financeira, aprovem um novo Bretton Woods ignorando ao resto do mundo. O presidente Bush declarou ontem que "os países que discutirão aqui no próximo mês sobre a crise global devem também voltar a se comprometer com os fundamentos do crescimento econômico em longo prazo: mercados livres, livre empresa e livre comércio."

Os bancos emprestavam dezenas de dólares por cada dólar depositado pelos correntistas. Multiplicavam o dinheiro. Respiravam e transpiravam por todos os poros... Qualquer contração os conduzia à ruína ou à absorção por outros bancos. Tinha que os salvar, sempre à custa dos contribuintes. Fabricavam enormes fortunas. Seus privilegiados acionistas majoritários podiam pagar qualquer soma por qualquer coisa.

Shi Jianxun, professor da Universidade de Tongui, Xangai, declarou em um artigo que publicou na edição exterior do Diário do Povo que "a crua realidade levou as pessoas, no meio do pânico, a se dar conta de que os Estados Unidos utilizou a hegemonia do dólar para saquear as riquezas do mundo. Urge mudar o sistema monetário internacional baseado na posição dominante do dólar."

Com muito poucas palavras explicou o papel essencial das moedas nas relações econômicas internacionais. Assim vinha ocorrendo há séculos entre a Ásia e a Europa: recordemos que o ópio foi imposto à China como moeda. Disso falei quando escrevi A vitória chinesa.

Nem sequer prata metálica, com a que pagavam inicialmente os espanhóis de sua colônia nas Filipinas os produtos adquiridos na China, desejavam receber as autoridades deste país, porque se desvalorizava progressivamente devido a sua abundância no chamado Novo Mundo recém conquistado pela Europa. Até vergonha sentem hoje os governantes europeus pelas coisas que impuseram a China durante séculos.

As atuais dificuldades nas relações de intercâmbio entre esses dois continentes devem ser resolvidas, segundo o critério do economista chinês, com euros, libras, ienes e yuanes. Não restam dúvidas de que a regulação razoável entre essas quatro moedas ajudaria no desenvolvimento de relações comerciais justas entre Europa, Grã-Bretanha, Japão e China.

Estariam incluídos nessa esfera o Japão e a Alemanha? dois países produtores de sofisticados equipamentos de tecnologia avançada tanto para a produção como para os serviços?, e o maior motor em potencial da economia do mundo, China, com ao redor de 1.400 bilhões de habitantes e mais de 1,5 bilhões de dólares em suas reservas de divisas conversíveis, que são em sua maioria dólares e bônus do Tesouro dos Estados Unidos. Segue-lhe o Japão com quase as mesmas cifras de reservas em divisas.

Na atual conjuntura, aumenta-se o valor do dólar pela posição dominante desta moeda imposta à economia mundial, justamente marcada e recusada pelo professor de Xangai.

Grande número de países do Terceiro Mundo, exportadores de produtos e matérias-primas com pouco valor agregado, somos importadores de produtos de consumo chineses, que costumam ter preços razoáveis, e equipamentos do Japão e da Alemanha, os quais são cada vez mais caros e produtos de consumo chineses, que costumam ter preços razoáveis, e equipamentos do Japão e da Alemanha, os quais são a cada vez mais caros. Ainda que a China cuide para que o yuan não se supervalorize, como os ianques exigem sem parar para proteger suas indústrias da concorrência chinesa, o valor do yuan aumenta e o poder aquisitivo de nossas exportações diminui. O preço do níquel, nosso principal produto de exportação, cujo valor atingiu em mais de 50 mil dólares a tonelada não faz muito, nos últimos dias mal ultrapassa os 8.500 dólares por tonelada, isto é, menos de 20% do preço máximo atingido. O do cobre reduziu para menos de 50%; assim sucessivamente ocorre com o ferro, alumínio, estanho, zinco e todos os minerais indispensáveis para um desenvolvimento sustentado. Os produtos de consumo, como café, cacau, açúcar e outros, para além de todo sentido racional e humano, em mais de 40 anos mal aumentaram seus preços. Por isso não faz muito tempo eu advertia igualmente que, como conseqüência de uma crise que estava muito próxima, os mercados seriam perdidos e o poder aquisitivo de nossos produtos seria reduzido consideravelmente".
Afirma que "nessa circunstância, os países capitalistas desenvolvidos sabem que suas fábricas e serviços paralisam, e só a capacidade de consumo de grande parte da humanidade já nos índices de pobreza, ou a baixo destes, poderia os manter funcionando.

Esse é o grande dilema que propõe a crise financeira e o perigo de que os egoísmos sociais e nacionais prevaleçam acima dos desejos de muitos políticos e estadistas agoniados diante do fenômeno. Não têm a menor confiança no próprio sistema do qual surgiram como homens públicos.

Quando um povo deixa o analfabetismo para trás, sabe ler e escrever, e possui um mínimo indispensável de conhecimentos para viver e produzir honradamente, ainda lhe faltaria vencer a pior forma de ignorância em nossa época: o analfabetismo econômico. Só assim poderíamos saber o que está ocorrendo no mundo.

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