terça-feira, 21 de outubro de 2008

ELEIÇÕES AMERICANAS - "Joe, o encanador", entra no páreo entre Obama e McCain.

''Este debate é a última chance de McCain salvar sua campanha'', dizia o popular diário novaiorquino Daily News dizia, horas antes do primeiro debate da eleição presidencial entre McCain e Barack Obama. Ainda atrás nas pesquisas, porém mais de duas semanas antes do dia do voto, 4 de novembro, o candidato republicano precisava reagir. E ele o fez como a direita conservadora sabe fazer, aqui nos Estados Unidos ou na Europa.

Por Pierre Barbancey, enviado especial do diário comunista francês L'Humanité*

McCain mostrou-se a um só tempo agressivo, arrogante, corrosivo e paternalista. Com seus anos de janela em política, lançou-se ao combate como quem entra num ringue. Foi um desempenho bastante surpreendente para os EUA, mais afeitos a debates adocicados e ao confronto das propostas dos adversários colocados lado a lado, mas não àos embates musculados.

A arma secreta de McCain

No Velho Mundo, já se conhecia o ''encanador polonês''. Agora, nos EUA, há ''Joe, o encanador'', arma secreta sacada mais de vinte vezes por John McCain ao longo dos 90 minutos do debate televisivo na Universidade de Hofstra, no subúrbio novaiorquino de Hempstead, acompanhado por dezenas de milhões de americanos.

Joe Wurzelbacher tornou-se célebre nos EUA depois de interpelar Barack Obama durante um debate com o público em Ohio. Ele quis saber sobre um provável aumento do seus impostos caso ele compre a empresa onde trabalha por enquanto como empregado.

Na boca dos republicanos, ''Joe, the plumber'' é um pouco o símbolo do americano comum, vítima da crise econômica. McCain apelou para ele visando criticar o plano fiscal de Obama, que prevê aumento de impostos para as famílias que ganham mais de US$ 250 mil por ano (R$ 46 mil por mês).

Isso, dizem, prejudicaria ''Joe, o encanador'', que acusou: ''Você não diz a verdade aos americanos'' sobre os impostos. ''Com Obama, Joe, é a tua riqueza que será distribuida'', lançou um McCain muito à vontade num terreno pantanoso que deve recordar sua juventude no Vietnã. Para o senador pelo Arizona, a ''distribuição da riqueza'' supostamente pregada por Obama significaria acender ''uma guerra de classes''.

'Por que vocês querem aumentar os impostos sobre todo mundo atualmente?'', indagoui McCain. E insistiu: ''Devemos encorajar as empresas''.

Obama respondeu que seu programa prevê uma redução de impostos para 95% dos americanos e que apenas um punhado de contribuintes iriam pagar mais. ''Nós dois desejamos reduzir os impostos'', disse o senador por Illinois, ''a diferença é no proveito de quem queremos reduzir os impostos''.

Obama bem que tentou explicar a ''Joe, o encanador'' que ''ninguém gosta de impostos, mas é preciso que alguém pague os investimentos essenciais''. Porém McCain, com as feições um tanto congeladas de um boneco de cera, retrucou: ''Se ninguém gosta de impostos, não vamos aumentá-los para ninguém, concorda?''. Obama não se apieda dos americanos sofredores e descontentes, ''vítimas inocentes da cupidez de Wall Street'', segundo suas próprias palavras? – disse, tratando de se distanciar do atual hóspede da Casa Branca, cuja impopularidade bate recordes.

Obama lançou-lhe uma flecha: ''Eu por vezes confundi suas políticas com as de George W. Bush porque, sobre as questões econômicas centrais que importam ao povo americano, a política fiscal, a energia, os gastos prioritários, você foi um vigoroso apoiador do governo Bush''.

Seria preciso mais que isso para desmontar o veterano da Guerra do Vietnã, que com certeza esperava o ataque e repetira na véspera, em um teatro da Broadway: ''Senador Obama, eu não sou o presidente Bush. Se você deseja combater Bush, deveria ter se candidatado contra ele quatro anos atrás.''

O ''politicamente correto, tão caro aos americanos no que se refere à questão racial, foi em parte eclipsado em um debate extremamente vivo. Mais uma vez McCain tomou a dianteira, denunciando os objetivos de John Lewis, parlamentar democrata pela Geórgia e aintigo líder do Movimento pelos Direitos Civis (luta para acabar com o apartheid que existia nos EUA e que custou a vida de Martin Luther King 40 anos atrás). Lewis denunciara, na semana anterior, a atmosfera de ódio e racismo que impera nos comícios do candidato republicano, e que o fazia lembrar o tempo de George Wallace, o governador segregacionista do Alabama.

De fato, quando o nome de Obama é citado escuta-se nesses comícios gritos de fúria como ''terrorista'' e ''matem-no'', sem que nenhum dos animadores dos palanques faça o menor protesto ou tente acalmar a multidão. O site oficial do Partido Republicano no condado de Sacramento, Califórnia, compara Barack Obama a Osama Bin Laden e propõe que ele seja submetido ao suplício do afogamento simulado, um método de tortura praticado pelos americanos no Iraque. Certas imagens foram tiradas do site. Mas, conforme o diário californiano Sacramento Bee, o site apresentava Obama com um turbante, ao lado de Bin Laden, e dizia: ''Obama e Osama, só uma letra de distância''.

Os estados que farão a diferença

Conforme uma pesquisa da CNN difundida depois do debate, 58% dos telespectadores acharam que Barack Obama venceu o confronto, contra 31% que deram a vitória a McCain. Mas o candidato republicano já mostrou que não abandonou suas pretenções. E as últimas sondagens anteriores ao debate mostravam que a diferença entre os dois, mesmo favorecendo Obama, reduzira-se consideravelmente.

Em meio aos esforços concentrados nos chamados ''swing states'' [''estados-gangorra''], que farão a diferença e podem mudar de cor no 4 de novembro, e a arregimentação para levar às urnas os americanos historicamente mais próximos de cada partido, as estratégias que se adote podem decidir a contenda. A não ser que, daqui para lá, um acontecimento imprevisível modifique o ambiente e tragam de volta à tona as questões da previdência e do engajamento militar dos EUA, relativamente pouco lembradas no presente.
Fonte: Site O Vermelho.

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