Biden ganhou, mas Palin sobreviveu
O cartum abaixo, de Horsey, é anterior ao debate e dá uma idéia do que acontecia. Sarah Palin, como uma colegial, é treinada por dois professores, enquanto o público grita seu nome e John McCain quer saber se ela está pronta. “Onde achou essa moça? Parece que vivia num iglu”, afirma ele. A professora, cansada, manda Sarah esquecer a economia e passar à política externa. “Dê o nome de um país do G-8″. “Rússia! Rússia! Fica perto do Alasca, sabia?”, responde a excitada Sarah.
Há duas maneiras de avaliar o debate dos candidatos à vice-presidência na noite de quinta-feira. A primeira é apontar o vencedor ou vencedora. A segunda é tentar estabelecer se alguém ficou acima ou abaixo da expectativa criada antes. Em relação ao primeiro ponto, foram feitas algumas pesquisas. Na da CNN, feita pela Opinion Research, 51% das pessoa ouvidas deram a vitória ao democrata Joe Biden; apenas 36% preferiram Sarah Palin.
A CBS, uma das grandes redes da TV aberta, também fez sua pesquisa relâmpago, mas entre eleitores ainda não comprometidos com qualquer dos candidatos. O resultado foi semelhante. 46% responderam que Biden venceu o debate. Só 21% deram a vitória a Palin. Outra pergunta era se os candidatos mostraram conhecer bem os temas: 98% responderam afirmativamente para Biden; e 66% para Palin. Passaram a idéia de que seriam presidentes eficazes? Biden teve o “sim” de 91%; e Palin de 44%.
A vantagem da baixa expectativa
Assim, Biden foi o vencedor. Virão ainda os julgamentos, em profusão, na mídia, sobre o que foi dito por eles. Tal afirmação não é verdadeira, outra falsificou a realidade, etc. Mas a favor de Palin houve o fato de que, depois da apresentação triunfalista na convenção republicana, a imagem dela desintegrou-se, em razão das respostas dadas nas entrevistas a Katie Couric (NBC), Charles Gibson (ABC) e Sean Hannity (Fox News). Até conservadores fiéis entraram em pânico, alguns sugerindo a substituição dela na chapa.
Falou-se de escorregões passados de Biden, como o de um suposto plágio, em campanha anterior, quando teria copiado discurso de um político britânico. Ele escorregou ainda há uma ou duas semanas, ao falar que três dias depois do desastre da Bolsa de 1929, o presidente Roosevelt foi à TV e anunciou o plano de recuperação da economia. Na verdade, Roosevelt só foi eleito em 1932 e na época não existia TV (as pessoas ouviam rádio). Mas a Biden sobra experiência, sabia-se que não viriam tropeços graves.
Palin, ao contrário, era encarada com extrema preocupação. A expectativa era muito baixa, mesmo da parte dos republicanos. Para muitos, a escolha dela fora uma leviandade de John McCain e qualquer desastre era possível. Buscou-se até uma defesa prévia, com a tentativa de desqualificar a competente moderadora Gwen Ifill, jornalista negra experiente, a pretexto de que é aliada de Barack Obama, pois escreve um livro em cujo título entra o nome dele: Breakthrough: Politics and Race in the Age of Obama.
Retificações ainda podem vir
Com expectativa tão baixa, Palin sobreviveu razoavelmente. Logo no início ela avisou que não se julgava obrigada a dar a resposta esperada pela moderadora - daria a que achasse apropriada. Viu-se depois que, na verdade, fora treinada para dar aquelas respostas, quaisquer que fossem as perguntas. Às vezes ignorava a pergunta e recitava talking points para os quais se preparou. Não brilhou, nada acrescentou mas preservou a imagem. É o único teste. Nada mais tem a provar.
Não que tudo já é página virada. Palin continua a ser um risco ambulante. Na medida em que ela ainda continue a evitar entrevistas mais substantivas - como aquelas dos programas políticos do domingo, aos quais nunca compareceu, nem ao “Fox News Sunday” de Chris Wallace - poderá sobreviver, mais celebridade do que candidata. Se aceitar uma ou outra entrevista, como a dada a Katie Couric, também poderá ser um risco, por mais que se prepare antes com a assesoria de McCain.
No debate com Biden ela teve o cuidado de evitar afirmações fora dos talking points para os quais foi treinada. Por exemplo, Biden lembrou que McCain tinha dito que não se sentaria à mesa com o espanhol José Luiz Rodriguez Zapatero, julgando tratar-se de latino-americano (a Espanha é aliada dos EUA). Palin ficou calada. E quando Ifill perguntou se McCain era mesmo contra tribunais de falência reajustarem prestações de hipoteca, ela negou - levando a campanha de McCain a desmentí-la horas depois.
De qualquer forma, parece certo que Palin continuará a desempenhar o mesmo papel de celebridade que entusiasma o eleitorado da direita cristã nos estados do meio-oeste e do sul que ainda não se definiram e poderão até decidir o resultado do pleito. É aposta perigosa. Mas a esta altura o que mais resta a McCain?
Fonte: Blog do Argemiro Ferreira.
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