terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CHINA - Sem emprego na indústria, chineses voltam para o campo.

Um dado divulgado nesta segunda-feira (2) pelo Ministério da Agricultura da China atesta que a crise vem impactando o setor produtivo e o mercado de trabalho: mais de 20 milhões de trabalhadores que deixaram a zona rural por um emprego na indústria já perderam o posto e voltaram para o campo. Isso equivale a 15,3% dos 130 milhões de trabalhadores imigrantes internos do país. Cerca de metade dos habitantes da China (700 milhões) vive em áreas rurais.

A taxa oficial de desemprego "urbano" no final de 2008 ficou em 4,2%, nível mais alto desde 2003, e isso sem incluir os imigrantes vindos da zona rural, que não são registrados neste índice. Segundo um estudo da Academia Chinesa de Ciências Sociais (Cass), caso fossem incluídos, o índice real de desemprego chegaria a 9,4%.

A resposta para a crise deve vir de dentro da China, na opinião de Elias Jabbour, pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos da China, Ásia e Pacífico (Ibecap) e professor do Núcleo de Estudos Asiáticos (Neas) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Por volta de 40% do PIB [Produto Interno Bruto] chinês é voltado ao comércio exterior. Com a queda da demanda internacional desde o início da crise econômica, a China precisa encontrar alternativas em seu território", disse.

O próprio governo chinês reconhece que, em 2009, a China viverá "possivelmente seu ano mais duro" em termos econômicos desde o início do século. Durante a apresentação dos dados sobre desemprego, o governo prometeu focar esforços no desenvolvimento da agricultura do país, que tem um índice de produção baixo.

"Antes que a crise do sistema financeiro viesse à tona, o governo chinês já havia anunciado medidas para o campo. Houve incentivos para se eliminar o sistema de agricultura familiar e substituí-lo por grandes cooperativas de produção, aliando novas tecnologias e pesquisas", afirma Jabbour.

Ainda de acordo com o especialista, o incentivo ao crescimento da produção agrícola tem também forte teor político. "A recorrente falta de emprego, de cultivo da terra e, igualmente, a poluição dos rios, levam à eclosão de revoltas populares por toda a China. O governo se preocupa com elas, afinal, a força da massa camponesa lá é imensa. Todas as dinastias no passado foram derrubadas por ela".

Em 24 de janeiro, a cúpula do governo chinês fez uma reunião na qual o presidente Hu Jintao alertou sobre o risco de instabilidade social gerada pelo impacto da crise na China.

Jabbour lembra, no entanto, que no interior da China também são fabricados industrializados e não somente alimentos. "Desses 20 milhões de desempregados, estão incluídos chineses que não trabalham na agricultura e por isso, o governo deve colocar esforços em outros setores igualmente", afirma.

Em novembro, o governo anunciou um pacote de estímulo de US$ 580 bilhões, focado no fortalecimento da infra-estrutura. "A matemática é simples: o governo precisa injetar capital para gerar emprego, e é disso que os chineses precisam", diz Jabbour. Segundo ele, a diminuição da taxa de juros é outra ação bem-vinda. "De seis meses para cá, a taxa de juros chinesa caiu a um terço do que era".

No último trimestre de 2008, o crescimento do PIB ficou em 6,8%, fechando o ano em 9%, após mais de 50 anos avançando em índices de dois dígitos. Em 2007, havia sido de 13%. A expectativa para 2009 é de não mais do que 8% de crescimento, segundo Jabbour.

Fonte: Opera Mundi/Site O Vermelho.

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