A FACE PERVERSA E OCULTA DO RIO

Mario Augusto Jakobskind


Por falar em Rio de Janeiro, a cidade atravessa uma fase problemática em termos políticos. Dia destes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu um grande equívoco ao afirmar que Sérgio Cabral é “o primeiro governador a ter a cara do Rio”. E para complementar, referindo-se a Eduardo Paes disse que “a única razão para ser prefeito, governador ou presidente é governar para os mais pobres”.

Trata-se de mais um equívoco, que atinge inclusive a inteligência dos eleitores. Cabral e Paes têm feito de tudo, menos governar para os pobres. Lula já conhecia Paes quando este militou no PSDB e não poupava o presidente, chegando a sugerir o seu afastamento na época do mensalão. Agora morre de amores por ele.

Cabral tem adotado a prática de privatizar em praticamente todas as áreas. Na educação, por exemplo, estabeleceu a norma de produtividade e se dobra às injunções do setor empresarial, que entende a escola não como um centro de excelência para formar cidadãos, mas tão somente um manancial de mão de obra barata. A Saúde está sendo privatizada. Os funcionários públicos do Estado estão sendo tratados de forma desrespeitosa e também vendo o seu poder aquisitivo em queda.

Cabral e Paes, para não falar do ex-alcaide blogueiro César Maia, ainda devem uma satisfação à opinião púbica sobre as contas das obras dos Jogos Panamericanos. A hora que elas forem devidamente dissecadas, Cabral e o seu ex-secretário de Esportes, hoje prefeito, Eduardo Paes, terão problemas a enfrentar, pois a parte da conta do Estado não bate. Os dois políticos contam com o silêncio e o esquecimento da mídia para se livrarem do abacaxi.

Eduardo Paes vai enganando com o seu “choque de ordem” (ou seria ordem de choque?), que atinge prioritariamente as camadas pobres da população carioca.

O noticiário regional da TV Globo tem dado muito destaque a uma ocupação no bairro carioca de Santa Cruz, o que automaticamente deve deixar todos com a pulga atrás da orelha, porque, como se sabe, a referida emissora não prega prego sem estopa. Quase diariamente, no esquema de pautar o “choque de ordem”, a TV Globo tem noticiado à sua maneira a ocupação, que é chamada de “invasão” pelos editores, na comunidade Serra do Sol, na avenida Brasil, mais precisamente em um trecho de um bairro na zona Oeste do Rio.

Lá estão, há oito meses, 350 famílias que o Secretário de Habitação, Jorge Bittar, do PT (quem diria?), só reconhece 250. Além de dar um chá de cadeira nos representantes da comunidade que queriam dialogar com ele, Bittar ameaçou retirá-los do local que ocupam “pacientemente, mas com firmeza”. Os ocupantes garantem que vão resistir.

Na tentativa de diálogo, Bittar avisou através de sua assessoria que não receberia 12 representantes do grupo, inclusive dois deles do Movimento dos Trabalhadores sem Teto e que foram escolhidos para representar os ocupantes. Só foram aceitos para o encontro “os da área” e mesmo assim apenas cinco deles. Ou seja, Bittar recusou-se ao diálogo com representantes do movimento social, os dois do Movimento dos Trabalhadores sem Teto, numa demonstração de falta de sensibilidade social. Ele já havia demonstrado essa faceta ao circular pela área ocupada apenas de helicóptero, recusando-se a encontrar pessoalmente os moradores, segundo os ocupantes.

O secretário promete agora pagar um “aluguel social” de 200 reais até que seja cumprida a promessa da oferta de casas em outras áreas para 250 famílias ou lá mesmo em melhores condições do que agora. Mas o pessoal acha que Bittar está enrolando. No encontro, os representantes da comunidade disseram que aluguel de 200 reais serviria só para morar em favela. Aí o petista Bittar, que dá entrevistas na Globo prometendo mundos e fundos às famílias que sua secretaria cadastrou, ainda respondeu: “mas vocês são o que?”.

O local da ocupação, cerca de dois mil metros quadrados, fica ao lado da ValeSul. Mais adiante se encontram abandonadas 250 casas de alvenaria da Vale do Rio Doce, que para maquear se intitula agora apenas Vale. Se houvesse vontade política, a própria Prefeitura poderia tentar que as famílias fossem transferidas para as casas de alvenaria desocupadas, que originalmente estavam destinadas aos trabalhadores da empresa.

Que Lula tente armar o seu arraial político para 2010, é um direito que o assiste, da mesma forma que outros representantes políticos eleitos pelo povo. Só que ao discursar enaltecendo figuras como Cabral e Paes, que na prática fazem exatamente o que ele condena em outros partidos, o presidente cai em tremenda contradição e, vale sempre repetir, demonstra que a sua assessoria anda filtrando notícias sobre o Rio de Janeiro, o mesmo procedimento adotado pelas Organizações Globo, que recebe polpudas verbas de publicidade do Estado e Município do Rio de Janeiro.

Ah, sim: será que Lula está sabendo do comportamento do “companheiro” Bittar?

Fonte:Direto da Redação.