Raul Longo.
Meus correspondentes tucanos protestam com razão. Também acho que não tem nada a ver isso de alguns correspondentes lulistas, mais afoitos, quererem estabelecer paralelos e semelhanças entre as situações e históricos dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos.
Nada a ver!
Pra começar, por pior que estivesse a situação do Brasil em 2002, nos Estados Unidos deste início de 2009 a coisa está bem mais feia. Muito mais feia! Sejamos justos: FHC não chega nem aos pés de GWB!
Mas se entre os 'ex' dos dois países há de suas diferenças, com os atuais é que as semelhanças são quase nenhuma! E não apenas porque o de lá, apesar de negro, fale fluentemente o inglês e não tenha cabeça chata, como destacam alguns desses meus correspondentes contrários às comparações.
No entanto, me é ainda mais difícil concordar com os que querendo enaltecer a um, enumeram efêmeras e discutíveis qualidades do outro.
As diferenças entre Lula e Obama são gritantes! Para que se tenha noção de quanto, cabe-me relatar ter assistido, ainda outro dia, com estes olhos que a terra há de comer algum dia, o Lucas Mendes, decano correspondente da Rede Globo nos Estados Unidos, afirmar nas 4 letras que a solução para os Estados Unidos está na C.P.M.F.
Ele falou! Eu juro que o Lucas falou! Na frente do Merval Pereira e do Jorge Pontual! E ninguém reclamou! Ninguém acusou a C.P.M.F. de extorsão em 0,30% da classe média norte-americana. Coisa alguma! Juro que vi e ouvi!
Tão duvidando? Liguem pra Globo News e peçam cópia do programa em que os repórteres da Globo discutem soluções para o governo Obama resolver a crise nos Estados Unidos. Chega a comover o esforço e a dedicação destes ícones da mídia brasileira em tentar contribuir e colaborar com aquele país, apresentando idéias e sugestões que eles mesmos tanto criticam e exprobram quando adotadas ou criadas pelo governo brasileiro.
Pimenta nos olhos do povo dos Estados Unidos é refresco? Ou os presidentes é que são diferentes?
O preconceito ao nordestino, ou ao trabalhador operário, superará o da Klu Klux Klan aos afro-estadunidenses?
Imperceptivelmente terá se desenvolvido entre a mídia brasileira um fundamentalismo iniciático cuja progressão virá a se transformar nessas seitas que pregam extermínio-ético, tão em moda? Haveremos de assistir o Zé Nêumane Pinto evocando um Jihad contra Garanhuns? Logo ele que é de Uiraúna, ali pertinho, um pouco mais acima: no sertão da Paraíba!
Ou se passará algo freudiano? Será que não rola aí um edipozinho no ego da moçada, contra o pai brasileiro do Cidadão Kane? Uma subconsciente transferência ao Lula da somatização traumática contra o arquétipo coletivo da imprensa pátria? O conterrâneo do Nêumane que, em Pernambuco, iniciou a carreira de patrão impiedoso, dos tempos em que para ser comentarista, analista, crítico ou repórter político, não bastava ser apenas manipulador de fatos, chantagista e inventor de factóides, pois, além disso, o severo e intransigente Assis Chateaubriand ainda exigia profissionalismo, talento e capacidade!
Duros tempos aqueles dos pioneiros da Revista Cruzeiro, dos Diários Associados, da TV e Rádio Tupi! Não será essa a razão do ódio espumante dedicado ao Lula? Uma nova versão shakespeariana onde o fantasma do pai é o alvo da vingança e o tio devasso o herói de Hameletes estróinas que, na falta de um rei vivo, querem devorar um operário morto?
Brrruuuu...! Tão tétrico que pra explicar esses Mainardis da vida, só o Fernando Morais!
De qualquer forma, se a leitura de Chatô – O Rei do Brasil não esclarecer com tanta precisão a aversão ao Presidente brasileiro, sem dúvida auxiliará muito na compreensão dessa eterna sabujice a todo e qualquer presidente norte-americano. Faz tempo que li o Chatô, mas ainda lembro que para explicar a histórica personalidade do precursor do Roberto Marinho, o Morais teve de discorrer por alguns parágrafos sobre a subserviência ao poder do Coronelismo que tão profundamente interveio no forjar da alma de brasileiros de algumas classes: militares, burocratas, profissionais ou pretensos profissionais de comunicação, classe média em geral, e outros tipos e estereótipos da covardia nacional.
O que muito se denota e evidencia na lembrança de que ainda há bem poucos meses atrás, Bush era o dodói da imprensa brasileira. Lembram-se dos reproches ao Chávez e as ironias ao Evo por ousarem afrontar o magnânimo? Dos pitis e apocalípticas previsões da Miriam Leitão, do Sardemberg, do William Waack e de todas as sibilas dos oráculos midiáticos brasileiros, indignados com a política econômica do presidente Lula por não seguir o modelo neo-liberal promulgado pelo príncipe do Texas?
Não é a toa que nos imaginam muito mais feridos pela crise mundial, do quanto realmente estamos. E, de fato estamos. Claro! Afinal, a América do Sul também é no planeta Terra!
Feridos, sim, mas muito menos do que estaríamos se o governo Lula aceitasse os conselhos dos cientistas políticos e analistas econômicos à La Leitão e congêneres, pois aqueles que eles apontaram como luz e caminho a ser seguido: “sifus” todos! E até mesmo reconheceram publicamente a incontestável realidade.
Claro que sem nenhuma razão para manter o mesmo humor do Lula, nenhum deles virou pro povo de seu país e admitiu: "- Nosfus!" -, mas, em síntese e com menor solenidade foi o que disseram, reconhecendo seus erros e enganos. Todos!
Menos os leitõzinhos da Miriam, evidente!
Esses, ainda que o senso comum internacional os obrigue a desdizer o que diziam ainda ontem, e a afinar o discurso à modulação dos que vaiam Bush pelo mundo, continuam mantendo o ritmo de bate-estaca para encobrir o xote, xaxado e forró pé-de-serra de Luís Ignácio Lula da Silva, sempre apresentado como grande culpado dessa situação. É a tecno-music contra outro Luís, o Rei do Baião!
Se hoje ridicularizam a dança do Bush, agora que virou o Judas da vez nas bolsas Asiáticas e Européias, não dá pra esquecer que há menos de dois meses ainda macaqueavam suas gingas e trejeitos. Até que tudo aconteceu...
Mas eles já têm uma explicação muito clara, transparente e detalhada do por que e como aconteceu. Não há dúvida! Pois tudo o que acontece, aconteceu e acontecerá daqui pra frente, define-se pelo fato de Lula ter subestimado o tsunami por marola. Óbvio!
Ou seja: salve-se quem puder que chegamos aos últimos dias da Brasiléia!
Infelizmente, para meus correspondentes tucanos, nem mesmo o grosso da classe média brasileira tem feito mais do que arregaçar a barra das calças pra cima das canelas, e dar 7 pulinhos na onda pra não pegar a zica da crise.
A mídia se esgoelando: "- Ó o maremoto!" E esses irresponsáveis na maior imprevidência de vir pra praia, ir pros restaurantes, tirar passaporte, carteira de motorista, freqüentar comércio, como se a desgraça não estivesse comendo solta lá pelos Estados Unidos e outros mercados atrelados aos modelos econômicos predicados pelo sagaz jornalismo político/econômico brasileiro.
Chamei um desses às falas: - Venha cá! Você não lê a Folha de São Paulo? A Veja? The State of Saint Paul? The Globe? Nunca ouviu falar em Miriam Leitão? Não sabe que estamos numa crise econômica internacional sem precedentes, muito pior do que a do Crack em 29?
A resposta foi desconcertante: - Ó só meu: esse negócio do crack continua ‘maus’ mesmo, mas crise foi a de 94, tá ligado? Um El Niño que atravessou o Golfo do México e jogou o Brasil nas portas do FMI! A gente nem tinha começado a pagar os juros, quando em 97, lá da Ásia, veio a mó tsunami varrendo o Pacífico. Atravessou os Andes e nos esborrachou outra vez às portas do FMI. Se a gente já estava com os salários congelados e o país estagnado desde a crise mexicana, a coisa ficou pior ainda em 98 quando fomos atingidos pela frente fria siberiana! Aí o bicho pegou e nós ‘sifu’ de vez com o chapéu na mão, se enforcando no cachecol do FMI. De forma que cê dá licença que agora quero pegar jacaré na onda da crise mundial, sacou?
Assim não há Miriam Leitão que agüente! Não foi o Ali Kamel quem disse algo sobre a impraticabilidade de se fazer imprensa para um público como esse? Ou foi o Reginaldo (talvez Reinaldo, mas tem mais cara de Reginaldo) de Azevedo?
Quê importa?
Importa é termos paciência. É só aguardar que em breve Obama lançará um programa social muito bem planejado, extremamente estratégico, uma solução brilhante e totalmente inusitada: o Bolsa Família!
Que o Obama lançará o Bolsa Família não é novidade pra ninguém, pois sua atual secretária de estado, enquanto ainda adversária na campanha pela convenção do Partido Democrata (não confundir com o DEMo do Bornhausen e uns outros daqui, pois UDN, ARENA, PFL, essas origens DEMoniocratas, melhor se coadunam ao Partido Republicano de lá), a Hillary Clinton, já reivindicava a aplicação do programa que entusiasticamente anunciava como uma solução social, de resultados comprovados pelos brasileiros.
Dessa vez passaram na frente do Lucas Mendes, mas nem por isso esperem a novidade de reconhecimento da nossa mídia à eficiência do Bolsa Família. Como é de se esperar, muito o elogiarão quando aplicado aos miseráveis estadunidenses, mas nada muda quanto ao fato de que o que é bom pro Lula jamais será bom pro Brasil!
O Bolsa Família da Hillary ou do Obama será anunciado como brilhante idéia pros pobres norte-americanos, mas seja o que for feito pra pobre brasileiro, boliviano, paraguaio, equatoriano ou venezuelano, é mera demagogia, populismo, jogada eleitoral, projeto de perpetuação de poder, e outras quimeras e dragões!
Assim sendo, chego à conclusão de que meus correspondentes tucanos são sábios e estão absolutamente certos. Isso de querer comparar Lula com Obama nunca vai dar certo. Por infinitas razões! A iniciar, por estas.
Raul Longo
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2 comentários:
Crônica brilhante. Eu também testemunhei, na Globo News, Lucas Mendes propor a CPMF aos americanos.
Esta é a mais maravilhosa síntese da alma acanalhada de alguns seres
humanos.
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