A crise sacrifica os pobres e aumenta a concentração da renda
Umberto Martins *Vivemos ainda sob o signo de uma das maiores crises da história do capitalismo, equiparável à Grande Depressão iniciada em 1929 nos Estados Unidos. A atual também começou nos EUA, no final de 2007, logo contagiou o resto do mundo e teve forte impacto na Europa.
A classe trabalhadora é, de longe, a sua principal vítima. Em contraste, os mais ricos, os bilionários, embora responsáveis pelos notórios desequilíbrios da economia internacional, estão se dando bem, graças ao aumento do grau de exploração do trabalho e aos generosos pacotes de socorro concedidos pelos governos capitalistas, que reservam aos pobres o ônus do arrocho fiscal, do desemprego em massa, da redução de salários e direitos. Trilhões de dólares e euros foram destinados aos banqueiros e grandes empresários pelos dirigentes dos países mais ricos.
Trabalhador espoliado
Os cem maiores bilionários do mundo ampliaram suas fortunas em US$
200 bilhões em 2013, segundo levantamento realizado pela Bloomberg. A
lista é composta de capitalistas que exploram diferentes setores e ramos
da produção como supermercados, petroleiras, indústrias de cimento,
marcas de luxo, entre outros.
É sempre bom lembrar que o lucro do capital, conforme nos ensinou
Karl Marx, provém da mais-valia ou do trabalho não pago da classe
trabalhadora, de forma que a contrapartida necessária ao extraordinário
crescimento da riqueza do privilegiado e reduzido grupo de grandes
bilionários, em época de crise e baixo crescimento do PIB, é a
espoliação crescente do trabalho.
Ofensiva capitalista
A crise vem sendo usada pelos grandes capitalistas como um pretexto
para retirar direitos e reduzir a participação da classe trabalhadora
na renda que eles próprios produzem e da qual acabam sendo alienados em
função da forma com que o capital organiza e dirige o processo de
produção e distribuição das mercadorias.
Na Europa, transformada desde 2011 no epicentro da crise, a troika
(FMI, BCE e UE) impõe uma política que reduz salários, corta benefícios,
precariza os serviços públicos, dificulta o acesso e diminui o valor
das aposentadorias, privatiza e desmantela o chamado Estado de Bem Estar
Social. Também no Brasil, em que pesem as diferenças políticas, é
notória a pressão por mais cortes nos gastos públicos, fim da política
de valorização do salário mínimo e precarização das relações
trabalhistas, como sugere o forte lobby patronal pela aprovação do PL
4330, que escancara a terceirização.
Concentração da renda
O resultado desta reprodução ampliada (e perversa) do capital em
posse dos mais afortunados é maior concentração de renda na sociedade, o
que por sua vez funciona como um alimento para a crise, uma vez que
deprime o consumo e a demanda das massas, provocando estagnação do
comércio e queda da produção.
Os cem mais afortunados pesquisados pela Bloomberg acumularam um
patrimônio que soma R$ 2,1 trilhões, o equivalente ao Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro em um ano. Zuckerberg, cofundador do Facebook
(que se transformou num canal da rede de espionagem global montada pelo
governo Obama), foi o que mais ganhou no ano, tendo dobrado sua fortuna
para US$ 24,5 bilhões de janeiro a setembro.
Outro bilionário felizardo é Bill Gates, que teve o patrimônio
líquido ampliado em R$ 10,2 bilhões para US$ 72,9 bilhões e hoje é o
segundo homem mais rico do mundo. Mas nem todos os ricaços se deram bem
ao longo deste ano. O empresário Eike Batista, que já foi o mais rico do
Brasil e estava em 28º lugar no ranking das cem fortunas em 2012,
perdeu quase todo seu capital, não faz parte mais da lista do Bloombert e
amarga a implosão de suas empresas de commodities.
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