quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"UMA PESSOA, NÃO IMPORTA QUEM, FOI ASSASSINADA".

A triste e injustificável morte do cinegrafista Santiago Andrade durante uma manifestação no Rio de Janeiro nos obriga novamente a refletir sobre a violência nesses atos – reflexão feita diversas vezes pelo ex-ministro José Dirceu no ano passado.
Manifestações são um livre exercício da vida democrática. São legítimas e não devem ser respondidas de maneira repressiva pela polícia – como fez a Polícia Militar paulista no ano passado, durante os atos de junho.
Tampouco podem as manifestações recorrer ao uso da violência para se impor. Ainda mais se tratando de um grupo com clara determinação de fazer o uso da violência como o principal motor das manifestações.
A respeito desse tema, sugerimos algumas leituras. Entre elas, o artigo de hoje de Janio de Freitas na Folha de S.Paulo. “O disparo do rojão foi muito esclarecedor da índole criminosa que muitos ainda negam ao ‘black bloc’, use ou não esse nome”, afirma o jornalista.
“Uma pessoa, não importa quem, foi assassinada por arruaceiros que se valem de manifestações a serem pacíficas. Violência tão claramente deliberada, que apaga toda dúvida remanescente sobre a necessidade de providências contra crimes a título de manifestações democráticas.”
Clique aqui para ler o artigo de Janio da íntegra
Também merece leitura o artigo de Paulo Moreira Leite sobre o episódio. “Num país onde ocorrem protestos dessa magnitude e com esta frequência, o esforço de nossos repórteres e fotógrafos tem traços de um  heroísmo que precisa ser respeitado e reverenciado. Mas é obvio que eles são levados a correr riscos indevidos.”
“Quem já fez coberturas em países conflagrados sabe que os jornalistas que enfrentam a violência prevista e previsível recebem treinamento especial, ganham equipamentos que garantem um mínimo de proteção a suas vidas e sua saúde”, acrescenta.
“Pense na morte de Santiago, encurvado, com uma camisa avermelhada. Nada tinha para proteger sua cabeça nem as partes vitais do corpo.”
Para Moreira Leite, “são cenas que expressam o descuido, o pouco caso, a falta de respeito pelos profissionais que ajudam a sociedade a manter-se informada. Mortos e feridos retratam a desimportância de quem deve trazer a notícia e ajudar os brasileiros a exercitar seu  direito a informação”.
Clique aqui para ler o artigo de Moreira Leite na íntegra
E também não podemos deixar de registrar a mensagem da presidenta Dilma Rousseff sobre a morte do cinegrafista:
“A morte cerebral do cinegrafista Santiago Andrade, anunciada hoje [segunda-feira], revolta e entristece. Não é admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito por vidas humanas. A liberdade de manifestação é um princípio fundamental da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar patrimônio público ou privado. Determinei à PF que apoie, no que for necessário, as investigações para a aplicação da punição cabível.”
E a tocante e dolorosa carta da filha do cinegrafista Santiago Andrade, postada no facebook:
“Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai.
Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!
Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.
Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo.
Me ensinou muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava.
Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.
Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade.
Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha.
Obrigada a todos. Ele também agradece.
Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai.”

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