terça-feira, 29 de julho de 2014

POLÍTICA - Pelo jeito, o terrorismo econômico agora será pior do que ocorreu antes da eleição do Lula em 2002.

Consultoria ataca Dilma com versão brasileira de End of America

Inspirado numa afronta ao governo Barack Obama, relatório da Empiricus excede análise econômica e discute atitudes do PT

Jornal GGN - A Empiricus, empresa que se define como uma “casa independente de análises financeiras”, publicou este mês o trabalho de meses de um de seus sócio-fundadores, Felipe Miranda: um relatório intitulado O Fim do Brasil. A peça, uma versão tupiniquim do End of America, da Stansberry & Associates Investment Research (S&A), consiste numa afronta à política econômica encampada pela presidente Dilma Rousseff (PT) nos últimos anos.
Usando o discurso do medo (exatamente como nos relatórios do tipo “Saiba como se proteger da Dilma”), a Empiricus, agora, prevê uma crise sem precedentes para o Brasil, e se dispõe a dizer ao investidor o que ele deve fazer com o patrimônio da família.
O relatório inspirado no End of America nasce com o mesmo propósito: criticar as diretrizes econômicas vigentes e interferir nos rumos da eleição. No caso da S&A, quem assina a peça é Porter Stansberry. Como o GGN mostrou em matéria de maio deste ano, a companhia americana, além de inspirar os passos da Empiricus no Brasil, é subsidiária da Agora Inc., a mais nova parceira da consultoria brasileira.
No End of America, Porter se apresenta como um profissional renomado no mercado financeiro em função de publicações cujo conteúdo é frequentemente associado “aos interesses dos conservadores dos EUA e da ala direitista da política”.
No vídeo publicado em dezembro de 2010, o empresário afirma ter previsto a crise internacional de 2008 e aponta para uma situação ainda relacionada àquele fenômeno, mas “infinitamente ainda mais perigosa", porque vai afetar diretamente a “conta-corrente, a poupança, a aposentadoria, o modo de trabalho e o estilo de vida de cada cidadão americano.”
O novo problema estaria para atingir o “tesouro americano” e, diante da situação, Stansberry se propõe a ensinar onde os americanos podem aplicar seu dinheiro sem sofrer represálias do poder público. O empresário promete enviar um relatório gratuito explicando passo a passo.
Felipe Mirada, pela Empiricus, reproduz a fórmula estadunidense sem pudor. Em O Fim do Brasil, o empresário comemora a cartela de 200 mil leitores diários, e o fato de tê-los orientado quanto a investimentos financeiros. “Faço referência à capacidade de fazer nossos assinantes ganharem dinheiro num ambiente difícil tão somente por uma questão: há tempos muito mais difíceis por vir. Projetamos a mais importante crise para o Brasil desde 1994. Ela está aí, batendo à nossa porta”, afirma.
“Esta esperada crise encontra suas raízes no colapso do sistema financeiro de 2008, cujo ápice é marcado pela quebra do centenário banco norte-americano Lehman Brothers e pelo consequente caos em Wall Street”, continua. “A poupança de milhões de pessoas será dizimada. A mudança vai afetar seus negócios e seu emprego. Veremos impactos dramáticos sobre as poupanças, os investimentos e as aposentadorias.”

O discurso do terror
Segundo Felipe Miranda, “basicamente, há cerca de cinco anos, o governo brasileiro mudou dramaticamente sua política econômica. Passamos a desafiar décadas de um conhecimento acumulado e consolidado em macroeconomia. Abandonamos o pilar ortodoxo para nos render à maior intervenção do Estado na economia, a uma economia pautada no assistencialismo e ao estímulo excessivo ao consumo. Qual o resultado? Falência das contas públicas e impossibilidade das famílias continuarem aumentando o consumo nesta velocidade.”
Para endossar a tese de que os cofres federais entrarão em colapso em breve, Miranda faz uma análise, em nove tópicos, do que tem sido a política econômica nacional enquanto Dilma Rousseff segue no posto de presidente. Na lista do empresário, os seguintes itens:
1 - Crescimento médio do PIB, segundo projeções, de 1,8% ao ano. “O pior desde o governo Collor”;
2 - Inflação para 2015 estimada no teto da meta, de 6,5%;
3 - Contas públicas “desajustadas”, com forte indício de que, no futuro, será difícil do governo se financiado - o que levaria à alta dos juros, mais taxação à população, no mínimo;
4 - O chamado déficit em transações correntes, medida do saldo de nossas contas com o exterior sem considerar as movimentações de capital, que cresce "sistematicamente e atinge níveis preocupantes";
5 - Enfraquecimento do mercado de trabalho;
6 - Risco de apagão, em função da política energética adotada por Dilma;
7 - A destruição da Petrobras, com queda no valor das ações da estatal nos últimos cinco anos, queima de caixa e aumento da dívida líquida;
8 - Destruição da Eletrobras, mais uma vez, em função da política energética federal;
9 - Baixas na produtividade industrial, já que o governo não conseguiu cumprir as metas estabelecidas no Plano Brasil Maior, de 2011.

“O medo é político também”
Mas o que chama atenção na versão brasileira de End of America é o mergulho numa análise política por um empresa do ramo financeira. Em pleno ano eleitoral. Para entrar na questão, Felipe Miranda introduz um trecho de uma entrevista de Armínio Fraga (homem escalado por Aécio Neves para atuar na campanha presidencial do PSDB), na qual o economista diz que a sociedade brasileira não tem coragem de manifestar o temor de ordem política e econômica que sente em relação ao futuro.
Arminio Fraga e Aécio Neves com João Doria Jr. Créditos: Paulo Freitas
“Há razão de ser nesse medo”, diz Felipe Miranda, especificamente no que tange a um possível ataque à democracia e liberdade de imprensa, citada por Armínio. “Não há nada mais antidemocrático e desrespeitoso à democracia quanto uma lista negra de jornalistas, a serem perseguidos pelo Estado e seus defensores”, acrescenta, e cita em seguida o artigo de Alberto Cantalice (PT) sobre os “pitbulls da mídia”. Eis aqui uma lembrança da polêmica gerada a partir das críticas do petista a jornalistas e comediantes declaradamente anti-PT.
Para encerrar essa parte do assunto, Miranda ainda compara o governo brasileiro, sob gestão do PT, a Joseph Goebbels. “Além de ferir o preceito da liberdade, qualquer recrudescimento dessa condição teria um resultado rápido e com consequências desastrosas: fuga de capitais, tanto de brasileiros remetendo seu dinheiro ao exterior quanto de estrangeiros preferindo outros mercados ao nosso”, endossa.
A partir daí, Miranda volta a lembrar que além de implicações menores, caso o Brasil não mude de rumo, “os destinos de viagem serão alterados, a escola dos filhos pode ser revista, local e forma sua família faz compras talvez mude." O país voltará, segundo ele, às condições anteriores ao Plano Real. “Falo de inflação alta, perda da metade do poder de compra do salário ao longo do mês, congelamento de preços, problemas de desabastecimento, falta de produtos nas prateleiras, impossibilidade de planejamento por consumidores e empresários.”
O que vende a consultoria, afinal?
Felipe Miranda segue a cartilha de Porter Stansford até o final, quando, a exemplo do autor de End of America, se coloca à disposição para ajudar o investidor a aplicar seu dinheiro em negócios confiáveis.
“O que proponho neste material é mostrar a você exatamente aquilo que eu mesmo estou fazendo, para proteger e até mesmo aumentar meu próprio patrimônio, da mesma maneira que você poderá fazer”, avisa.
Na lista de dicas, Miranda destaca que o investidor, para se assegurar, precisa, cada vez mais, mirar o mercado externo, aplicando parte do dinheiro “além do alcance do governo brasileiro”, sem colocar todos os ovos na mesma cesta. “É fundamental diversificar entre algumas moedas”.
Isso, segundo ele, vai evitar perda total quando a União, desesperada diante da crise prevista pela Empiricus, passar a confiscar a poupança da população. Para ajudar o leitor, ele deixa o link para um segundo texto, no qual ele detalha os passos para se fazer investimentos no exterior.
Em todas as sugestões, aliás, Miranda deixa a recomendação de leitura prévia. Sempre um texto de sua autoria, sobre todos os assuntos: como se proteger da inflação, que “cresce como uma gravidez”, de maneira inevitável; como se cuidar para não investir em estatais que vão quebrar, principalmente quando as ações comprometem o FGTS, entre outros.
Tudo isso, claro, para culminar no pedido de que o leitor dê uma oportunidade a Empiricus de virar sua consultora. “Pois bem…a assinatura de um ano da série custa apenas R$ 238,80, podendo ser dividida em 12 parcelas mensais de R$ 19,90. Pagando à vista, sai por R$ 191,04”, adianta.

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