Prelúdio ao entardecer de Obama: Cuba
Autor: José Augusto Ribeiro
Era uma esperança
romântica e quixotesca - e talvez, paradoxalmente, desesperada - mas eu
não queria ser testemunha de um final melancólico para os oito anos de
mandato desse Presidente que despertou tão grandes esperanças, dentro e
fora dos Estados Unidos, ao ser eleito.
Por mais razões de
queixa que possamos ter em relação ao papel dos Estados Unidos em nossa
história passada e recente, não podemos esquecer os grandes momentos que
eles viveram e sua influência na história de todos os povos.
Em primeiro lugar, foi
a independência dos Estados Unidos, no século 18, que inspirou
imediatamente a Revolução Francesa, embora a inspiração original desta e
da própria Revolução Americana tivesse sido o pensamento dos
enciclopedistas franceses, sobretudo Rousseau e Voltaire.
No Brasil a Revolução
Americana teve muito a ver com a Inconfidência Mineira: entre os papéis
apreendidos com os inconfidentes estava, e foi considerado um dos mais
perigosos e sediciosos, um exemplar da recém-promulgada Constituição dos
Estados Unidos.
Depois veio Lincoln,
em meados do século 19, em sua luta, que ele pretendia ter como
prioridade a união dos Estados Unidos contra a dissidência secessionista
dos Estados do Sul, mas teve como desfecho a abolição da escravatura.
Na primeira metade do
século 20, o Presidente Franklin Roosevelt apoiou decididamente os
projetos de emancipação econômica do primeiro governo de Getúlio Vargas
no Brasil, como a construção de Volta Redonda. Depois da morte de
Roosevelt, em 1945, teve início, nos Estados Unidos, um ciclo de
reacionarismo e obscurantismo, algumas vezes interrompido por exceções
contraditórias mas promissoras, como John Kennedy, Jimmy Carter e Bill
Clinton. Afinal tivemos Barack Obama na sucessão daquele infeliz George
W. Bush, considerado o pior Presidente dos Estados Unidos em seus mais
de duzentos anos de história.
Bloqueado pela direita
republicana e forças aliadas, como os evangélicos fundamentalistas e
extremados (alguns pastores chegaram a insinuar pelo rádio que ele devia
ser assassinado), Obama não conseguiu cumprir em seis anos de mandato
nem a promessa de acabar com a prisão política da base de Guantánamo.
Agora, porém, sem a menor expectativa de conseguir o que quer que seja
de um Congresso hostil e raivoso, Obama decidiu, corajosamente,
normalizar as relações dos Estados Unidos com Cuba.
Ele não conseguirá
acabar com o bloqueio da ilha, que já dura mais de cinquenta anos,
porque isso depende da aprovação do Congresso, mas já negociou o
restabelecimento de relações diplomáticas com Cuba, apesar da ameaça
republicana de cortar do orçamento a verba necessária para a instalação
de uma embaixada em Havana. Na verdade, o mais importante no caso não é a
embaixada, mas o verdadeiro tratado de paz que se estabelece entre os
dois países.
A firmeza e a
determinação de Obama no episódio – no qual contou com apoio integral do
Papa Francisco, esse novo João XXIII merecedor da admiração até dos não
católicos – despertam a esperança de que ele poderá tomar novas
iniciativas em favor de relações políticas e econômicas mais justas
entre os Estados Unidos e todos os países da América Latina.
Essa esperança, porém,
talvez seja ainda mais quixotesca. Por maior que se mostre a coragem de
Obama no exercício de suas prerrogativas constitucionais, os interesses
econômicos em jogo são ainda maiores.
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