Olá,
O que dizer de um ano que começa com filmagens em pistas clandestinas na Amazônia, passa por uma CPI bolsonarista contra o aborto legal, uma micareta fascista, uma vitória para a democracia e termina com dados alarmantes sobre a morte de entregadores por aplicativo?
Pode parecer que estou empilhando assuntos aleatórios, mas eles dão um bom resumo do Brasil atual (e do nosso trabalho): devastação, avanço de pautas conservadoras, grupos criminosos armados, bolsonarismo, golpismo, precarização da vida. Dá para entender?
Esses foram os principais focos do nosso trabalho esse ano, alguns dos assuntos que renderam nossas principais reportagens. Quero falar um pouco sobre eles, porque a gente quer muito saber se você também acredita que é por aí que o jornalismo independente precisa caminhar.
Vou começar pelo final, porque me parece fazer mais sentido. Primeiro, preciso dizer: ninguém cobre empresas de tecnologia como o Intercept. Você pode ir lá conferir no nosso site. Foram mais de 20 reportagens sobre elas em 2022. Nos dedicamos com especial atenção a empresas como Uber e Ifood. Por quê? Ora, porque elas estão diretamente vinculadas às questões urgentes do país: desemprego, trabalho precarizado e, acredite, mortes de trabalhadores.
Há alguns dias, publicamos uma reportagem que se destaca nesse conjunto. Mostramos como, em seis anos, a parcela de acidentes de moto no setor de traumas do Hospital das Clínicas da USP subiu de 20% para 80%.
O dado está em um depoimento no relatório final da CPI dos Aplicativos da Câmara Municipal de São Paulo, que acompanhamos de perto. Motoristas de aplicativos trabalham sem direitos garantidos e ainda estão sujeitos a risco de vida para garantir o lucro dessas empresas. Regulamentar esse tipo de trabalho é urgente!
Foram muitas matérias sobre trabalho e empresas de tecnologia, mas esse não foi o único tema que dominou as atenções por aqui. Nos dedicamos longamente à cobertura do golpismo, das ideias nazistas que embasam a extrema direita brasileira e dos desmandos desse governo de generais.
Foi difícil, mas conseguimos manter repórteres nas ruas em segurança durante as eleições; trabalhamos com fontes dentro da estrutura do governo e também conseguimos, com muito esforço, mantê-las em segurança e, com tudo isso, realizar denúncias importantes. Todo esse esforço também resultou em um documentário sobre a eleição presidencial mais acirrada da história do país.
Em 2022, também miramos definitivamente nos esquemas que envolvem grupos armados, devastação e violência na Amazônia. Já no começo do ano tocamos a produção de um documentário sobre pistas de pouso clandestinas na Amazônia Legal.
Com ele, identificamos 362 pistas utilizadas em atividades criminosas, como exploração de madeira, tráfico de drogas e, principalmente, garimpo de ouro. É incrível que uma redação independente consiga produzir um filme sobre um tema como esse, tão difícil de investigar e perigoso.
Além dessa reportagem, também trabalhamos em um especial chamado "Amazônia sitiada". Mostramos como os clubes de tiro explodiram na Amazônia e como são um imenso risco para povos e comunidades tradicionais.
O mapa que mostra a concentração de clubes de tiro ao redor do Parque do Xingu é um dos produtos mais impressionantes de uma investigação do Intercept em 2022. O armamento de civis é uma ameaça imensa para os povos indígenas, e nós conseguimos mostrar isso em detalhes.
É importante também te contar que o ano se fecha com uma notícia perigosa para nosso trabalho. Em junho, noticiamos o caso da criança de Santa Catarina que teve o direito ao aborto legal negado após sofrer um estupro. Depois da nossa reportagem, feita em parceria com o portal Catarinas, a menina de 11 anos foi autorizada pela justiça a deixar o abrigo onde era mantida longe da mãe contra a sua vontade e, finalmente, teve acesso ao seu direito de interrupção da gravidez.
A história de terror pela qual essa criança passou deveria terminar ali. Mas a Assembleia Legislativa de Santa Catarina não deixou. A deputada bolsonarista Ana Caroline Campagnolo, do PL, requereu a instalação da CPI sobre o assunto e conseguiu o apoio de 21 parlamentares. A CPI foi instalada e ainda não sabemos quais serão seus desdobramentos. O que sabemos é que eles querem calar o jornalismo independente que trabalha para apoiar grupos marginalizados em sua luta por direitos.
A ameaça é real, nos preocupa, mas não tira o brilho de um ano em que lutamos muito para manter o Intercept de pé. Realizamos a maior campanha de arrecadação da nossa história, conquistamos nossa total independência e, como se não bastasse, recebemos reforços de peso na nossa equipe. Flávio VM Costa, um dos maiores jornalistas investigativos do país, assumiu como Editor-chefe da redação, e Cecília Olliveira, uma das responsáveis pela fundação do TIB, retornou a esta casa.
É uma tremenda motivação para seguir em frente perceber que a partir da contribuição de milhares de pessoas conseguimos seguir contratando os melhores profissionais.
Não posso concluir sem falar dos prêmios que recebemos. Foram muitos, mas quero destacar um em especial. Nossa redação levou dois prêmios no mais importante festival de cinema do Brasil, o Festival de Gramado. Os dois Kikitos vieram por conta do documentário "O Elemento Tinta", dirigido por Iuri Salles e Luiz Maudonnet e coordenado por mim, Leonardo Martins e Marlon Peter.
Outra imensa conquista que precisa ir para a conta das milhares de pessoas que nos ajudam todos os meses. São contribuições que geram impacto, garantem o trabalho de dezenas de jornalistas e ainda resultam em grandes prêmios!
Este foi um grande ano para o Intercept e os desafios nos abriram muitos caminhos para 2023. Sabemos bem para onde mirar nos próximos meses e queremos seguir em frente como sempre fizemos: caminhando junto com a comunidade que nos apoia. Então, quero te fazer dois pedidos.
Se você tem ideias para nossa cobertura no próximo ano, se tem comentários sobre tudo isso que fizemos em 2022 ou qualquer sugestão, por favor, responda a este e-mail. Queremos muito te ouvir.
O outro pedido é bem objetivo. Estamos em campanha para conseguir 1.000 novos apoiadores mensais até o dia 31 de dezembro – e o tempo está acabando. Os apoiadores mensais garantirão a realização dos nossos planos para o próximo ano, são eles que dão sustentabilidade ao nosso trabalho. Nós precisamos muito bater essa meta. Você já nos apoia e sabe como ninguém a força da nossa comunidade. Quero te pedir para enviar esse e-mail para apenas UM contato da sua lista contando porque faz parte do TIB e pedindo para essa pessoa vir também. Basta uma pessoa. Você pode tirar alguns minutos para ajudar o jornalismo independente hoje? CONTINUE COM O TIB
Um abraço e boas festas! |
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