quinta-feira, 2 de outubro de 2008

ELEIÇÕES AMERICANAS -AL-Jazira: O fator Sarah e as piadas em questão.

Que diferença faz um mês. No início de setembro, Sarah Palin, a governadora do Alasca, foi a mais brilhante estrela ascendente no firmamento político dos Estados Unidos.

Por Bob Reynolds, chefe da sucursal da al-Jazira em Washington



McCain e Sarah vistos por Stack, no 'Star Tribune'

A chocante decisão de John McCain em optar pelo nome dela como vice deu mais energia aos republicanos conservadores de direita, que não esperavam uma grande novidade sobre a escolha do vice.

Ela deixou os participantes da convenção republicana admirados, se apresentando diante dos expectadores e telespectadores com um discurso feito de última hora. Sua troça sobre a falta de experiência de Barack Obama como administrador trouxe a casa abaixo.

Mas agora, à véspera do seu primeiro e único debate com o adversário democrata Joe Biden, em St Louis, Sarah tornou-se uma figura controversa e, em alguns círculos, ridicularizada.

Longe do teleprompter, as habilidades discursivas de Sarah, em público, são bem menos que estelares. Ele teve um punhado de encontros com a imprensa, e em nenhum deles ela acabou bem na foto.

Confusão política

Em sua primeira entrevista, com o âncora Charlie Gibson, da ABC News, Sarah não conseguiu responder a uma pergunta sobre a doutrina Bush, revelando que ela não tinha nenhuma pista sobre este tema central da política externa do atual governo, que reivindica o direito de atacar ou invadir países, considerados pelo presidente do EUA uma ''ameaça à segurança nacional'', de forma ''preventiva''.

Aquilo serviu como um prato cheio para as comédias noturnas da TV americana, com o espoucar de piadas e impressões nada lisongeiras sobre a governadora do Alasca.

Para piorar, sua segunda entrevista, com a âncora da CBS, Katie Couric, foi um desastre perfeito. Ela tropeçou e mostrou sua forma titubeante de pensar ao tentar responder uma série de perguntas sobre política externa.

Ao ser perguntada em relação à sua afirmação de que possuía experiência em questões internacionais por seu estado natal ser adjacente à Rússia, situada além do Estreito de Bering, ela respondeu: ''se Putin puser a cabeça para fora e invadir o espaço aéreo dos EUA, por onde ele virá? Pelo Alasca. Eles estão do outro lado da fronteira''.

"'É o Alasca que manda o recado de que estamos de olho nessa nação poderosa, a Rússia, porque eles estão bem ali, bem ao lado do nosso estado'', filosofou.

Os programas humorísticos da TV americana ficaram loucos. A atriz Tina Fey desenvolveu de tal maneira uma imitação de Sarah que leva suas platéias às lágrimas de risos, simplesmente repetindo, literalmente, trechos da entrevista realizada por Katie Couric.

Críticas dos conservadores

Políticos geralmente tiram sarro de outros políticos. Mas quando as impressões a as piadas começam a estourar muito perto de si, o resultado pode ser grave à reputação do político.

O falecido presidente Gerald Ford foi impiedosamente enxovalhado pelo humorista Chevy Chase, como um tropeçante desastrado , durante sua acidentada presidência, de 1974 a 1976.

A impressão pegou, levando muitos eleitores — acredito que injustamente — a considerar Ford muito pouco inteligente.

Programas humorísticos são uma coisa, mas quando os comentaristas de seu próprio partido começam a tirar sarro de você, isso é grave.

''Acho que ela tem provado, de forma exaustiva e, provavelmente, irremediável, que não está à altura de exercer o cargo de presidente dos Estados Unidos'', afirmou Dadiv Frum, um ex-assessor que escrevia os discursos de George Bush, ao The New York Times.

Kathleen Parker, um escritora conservadora que trabalha para a direitista National Review, escreveu: ''Vejo as entrevistas dela com a respiração de um pai ansioso, com meu dedo em cima do botão de volume, caso a entrevista fique muito constrangedora. Infelizmente, muitas vezes tenho de diminuir o som. Meus reflexos estão esgotados''.

Kathleen acha que Sarah deveria pedir para sair da chapa de McCain. No entanto, isso parece altamente improvável nesse momento. McCain fez sua cama e vai ter de deitar nela.

Desalojar Sarah deixaria enfurecido o núcleo duro da direita republicana e ampliaria ainda mais a idéia de que a campanha de McCain está se convertendo em uma cena grotesca, algo digno de uma paisagem de Hieronymous Bosch.

'Pé-na-boca'

Então, o que vamos ver no debate de St Louis? Primeiro, deixe-me dizer que Joe Biden revelou-se mais do que capaz de produzir gafes e tolices. Sua tendência é falar sem parar, ad nauseum, e de vez em quando, no meio do discurso, insere algo ''inteligente'', que freqüentemente cai no vazio — como quando tentou descreveu Sarah de forma galhofeira, chamando-a de ''bonitona''.

O hábito de manter a boca aberta por muito tempo permite que enfiem um pé nela. O ditado se aplica perfeitamente a Biden. Para evitar o tal ditado, Biden passou os últimos dias realizando vários debates simulados em sua casa, debruçado sobre livros ou debatendo com ''clones'' de Sarah, como a governadora de Michigan, Jennifer Graholm.

Seu foco será McCain. Não Sarah. Ele deve ser extremamente educado e respeitoso com ela, sem uma pitada de tratamento sexista. Ele quer evitar a todo custo dar a impressão de que está se insinuando — ou que é condescendente — a uma mulher mais jovem, o que é uma coisa ruim para o eleitorado feminino.

Sua linguagem corporal vai ser importante, também. Ele precisa mostrar que está confortável que é o dono do pedaço. Se ele for esperto, vai tantar fazer os comentários mais breves possíveis, ao mesmo tempo que tentará exibir sua perícia em política externa e interna.

Sua estratégia deverá ser martelar McCain à distância, permitindo a Sarah cavar — cada vez mais fundo — a sua própria cova.

Baixas expectativas

Mas será um erro assumir que Sarah vai voar direto ao fogo como uma mariposa, em meio a erros gramaticais e toda a sorte de erros.

Ela foi ''seqüestrada'' pela assessoria de McCain e está no estado do candidato, Arizona, fazendo uma extenuante preparação para o debate. Suas entrevistas provaram que Sarah não aprende rápido, mas talvez uma intensa ajuda extra possa ajudar.

E mais, ela deve tocar de leve nas questões factuais mais detalhadas, dirigindo-se para pontos mais fundamentais e compreensíveis. Sua linguagem corporal precisa mostrar que não está intimidada, dando uma impressão de ''presidenciável''.

Ela tem o aspecto de pessoa ''vencedora'' e seu sorriso faz com que até seus detratores admitam que, provavelmente, ela é uma boa praça.

Graças às piadas e às críticas difundidas pelos principais meios de comunicação, a expectativa em relação ao desempenho de Sarah é muito baixa. Se ela simplesmente evitar erros factuais e óbvios, e a falta de conhecimento em questões chaves, ela pode se dar bem no debate.

Sua estratégia não deve ser vomitar fatos e posições políticas, ou pregar sobre a complicada manipulação de credit swaps ou a situação no Waziristão Sul, já que isso se revelou infrutífero. Além disso, a maioria dos americanos não têm a menor idéia sobre essas questões.

Ao invés disso, ela deve mostrar-se aquela mulher que as pessoas gostam de ver. Uma mulher comum, caseira, que realiza muitas tarefas, uma mãe que sabe melhor do que qualquer senador importante como é duro para a classe média comum americana trilhar seu caminho no mundo.

Sarah revelou-se uma grande debatedora contra oponentes de seu estado original. Ela poderá surpreender muita gente hoje.

Os dois candidatos não foram vistos apenas treinando estilos e empilhando fatos e números, também foram vistos trabalhando energicamente em assuntos espinhosos e fatos complicados. Essa são as coisas que geram histórias aos jornalistas (como eu) ou uma impressão memorável aos espectadores (como os americanos hoje).

De uma forma ou de outra, é muito provável que esta noite seja muito interessante.

Fonte: Site O Vermelho.

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